Saturday, January 31, 2009

Ele às vezes fala comigo. Mas raramente.

O Preto do Bairro que é Dinamarquês chora,
Chora, ai que chora o Preto do Bairro, Dinamarquês,
Não o Bairro, o Preto mesmo, aquele que chora,
Num bairro que não é dele mas que o vê chorar.

E fala, o Dinamarquês, se fala, pois que fala!
Então não havia agora o homem de falar?
Que chora e fala e anda para lá, pelo Bairro,
O Preto do Bairro, chorão, a vagabundear.

E ensina e inventa, e fala e chora, o Dinamarquês,
E ensina o pequeno e o velho, enquanto chora,
E fala ensinando o velho, ou a si próprio, ou ao pequeno,
Que o Preto, esse, está no seu terreno.

E se o seu terreno é o Bairro e ele por lá está, está bem,
Que o terreno de cada um é o que mais lhe convém,
Seja lá por que motivo for, que muitos há, aos motivos,
E os terrenos são limitados, cercados e definidos.

Se o Preto do Bairro fosse meu amigo, que é amigo de todos, e não meu,
Gostava de lhe perguntar que males via em mim,
Que ele não só sabe chorar, sabe falar, sabe ensinar
E os males da cada um são coisa difícil de analisar.

Se eu soubesse pelo Dinamarquês o que faz mossa, o que chateia,
Sabia eu mais do que sei agora só, no meu terreno esquecido,
Que quando acho que me encontro me vejo é perdido,
E o trilho é a firmação, a pura certeza e a contentação.

Mas já me disse coisas, O do Bairro, O que fala, O que Chora,
Disse-me quando mal esperava, noutro dia, noutra hora,
Quando parecia não querer ouvir, não querer saber, não querer perceber,
Que o Preto até mo disse mas eu fiz por não o entender.

O Preto do Bairro é o meu pai e o pai de todos, que todos são filhos,
E todos temos direito a terrenos, a futuros, a caminhos, a trilhos,
E todos temos também direito a dúvidas, a incertezas, a arrependimento,
Que se o Preto do Bairro é pai Dinamarquês, também vive no Bairro, sem sustento.

Mas, o que mais interessa, é a vida.

Que vivê-la no Bairro ou na Dinamarca, pouco diz do terreno que pisamos,
Que o futuro é o presente, e, agora, aqui estamos.

Friday, January 30, 2009

À tarde, diz que é prata

Vagabundeando pelas vielas estreitas e esquecidas das gentes públicas,
É fácil perceber-se porque não se deve comer laranjas à noite.

"A laranja de dia é ouro,
À tarde prata,
E à noite mata."

A cor e o saboroso do doce ficaram-se pelos céus azuis cândidos das manhãs
E pela noite só sei que há vagabundos a quem não se pode olhar nos olhos.

ShaiPaiMaiTai Ai Sai !

Dói-me pensar, não sei porquê escrever!

Porquê?!

Bom, sentindo a escapatória a escapar-se-me por mãos que não tenho
Porque não as tenho, ou nada tenho certo,
Recorri ao velho, ao habitual, ao vício banal, à comodidade,
Talvez nela esteja a mais pura verdade
E indagamos nós, ou Eu, à procura de uma falsa realidade
Que ás vezes dói, e dói nas vezes em que se acentua a vontade de saber.
Dói mas não uma dor física, antes que o fosse, que esta dor é apática,
É uma coisa que não é nem deixa de ser e fica,
Como nada mais fica, e por isso mesmo, fica.
Quero-te já fora daqui! Já! Já! Já!
Quero correr para trás e encontrar-Me quando Me conhecia pelos lápis de cor
E talvez isso tenha sido ontem, ou há uma semana,
Mas eu hoje não recordo. Só me lembro de recordar.
Que o meu corpo a recordação bana, que mais não sei que pensar.
Eu penso que penso, pois pensar não pode ser isto,
Isto são balelas, tretas de sentimentos ou de expressões,
Que o pensar não pode ser tão obscuro, pois é conhecimento,
E o conhecer há-de o trazer, ao contentamento.
Ou não.
Detesto dilemas.

Wednesday, January 21, 2009

Hei-los, aos elos.

- Olá! Estou aqui de novo, Mamã. Trouxe-Te um presente.
- Ai sim? Então? Mostra-mo, quero vê-lo!
- Não. Não To posso já mostrar.
- Mas não o trouxeste para mim?
- Sim, Mamã. Mas não Mo peças e não esperes que To dê já.
- Porquê?
- Ah, e não perguntes, Mamã.
- Que do alto dos teus 7 anos já falas assim! Arrogância, meu filho. É disso que padeces.
- Não, Mamã. Secalhar não Te devia ter dito nada. Mas enfim, tenho, para Ti, um presente. Às vezes não me contenho. Acho que sou demasiado pequeno para guardar demasiadas coisas. Às vezes, rebento-me por dentro. Impludo. Um dia, hei-de explodir e pedaços de mim serão espalhados. Eu estarei em toda a parte. Um dia, ou umas vezes. As vezes.
- Não fales assim, que me agonias. Mas guardas-me um segredo!
- Não, que para Ti não os tenho. Mas vou adiar-Te o meu presente. Vou adiar o dia em que To darei, gloriosamente.
- Modéstia, meu filho. Modéstia.
- As virtudes, Mamã, são algumas das adversidades da vida. Agora, quero pecar, ser bandido, fugir, saltar e assaltar, roubar beijos, correr em matos selvagens e não voltar para jantar.
- Ah! O eterno desejo do efémero pecador. Olha que isso, meu filho, dura pouco. Um dia acordarás para a triste realidade que a vida tem para te dar.
- Ah, como Te quero presentear! Não penses em mim como um atreito às maleitas, um malandro. Sou um louco e quero sonhar! E sei que sonharás comigo, Mamã! Quando Te der o presente, serás como eu. Porque, no fundo, eu sei que somos iguais.

SEREMOS CARNE DA MESMA CARNE
TU ÉS
EU SEI QUE ÉS
ÓRGÃO DO MEU SER INCONSOLÁVEL - UM DESEJO DE LOUCURA ETERNO
AI !

Grita-me hoje que o dia é FINITO

Grita-me hoje.

eu GRITO.

Sunday, January 18, 2009

Fools in love - Are there any other kinds of lovers?


Fools in love


Are there any other creatures


More pathetic?


Thursday, January 15, 2009

Vi um gato no beco

Sabem quando nos alheamos de tudo e somente observamos?
Isso acontece, de facto, "até ver". É, até "se ver" a imagem mais bela, ou se se interpretar isso dessa forma, numa coincidência fantástica.

Montras, feixes de luz, irradiando,
Soltando de si falsa vida e cor,
Que daquela frieza azulada choravam
Efémeros pedidos de' terno, doce calor.

Mas digo-o assim porque assim o era,
Efémero, seco, igual, descartável,
Asfixiei-me em desespero, que vi a vida torcida,
E quero acreditar que o solo é arável.
Ainda.

E eis que entre dois antros de aridez grotesca vi,
Bem no meio, num beco rosa, ou salmão,
(Era de noite, não se via bem)
Um gato malhado.
Um lindo e gordo gato, como o das revistas cor-de-rosa.
Num beco rosa, ou salmão.
(Eu estava sem óculos)

Topei-lhe o ar sereno, no meio daquela agitação seca,
Enquanto estava sentado, incrivelmente direito.
Olhava para cima, olhava, para cima, para a parede salmão,
E mais não fazia que aquilo. Era perfeito!
Fixava o olhar e permanecia, na sua solidão.
(E achava eu que estava alheada.
Alhear-se sabem os gatos, que são espertos. Por isso é que têm 7 vidas.)

Tuesday, January 06, 2009

Animalidade. Não posso racionalizar.

Corre, salta, foge,
Grita, rebenta, transita,
Age, reage, ruge,
Arshe, irshe, urshe,
Rrr, siribi, catatá,
Sai, vai, cai,
Ai
Ai
Ai!

Se saires da tua jaula recôndida,
Verás um mundo novo
Cheio de fábulas e criações,
Invernos quentes e canções,
Que nem tudo é árido e perdido.
Hoje, para mim, tudo faz sentido.
Traz-me ou leva-me, vou, irei, estou,
Contigo ou sem ti, porque, por ti, sou.
Por mim, Por nós, Pelo mundo,
GRITEMOS!
Gritemos cá de dentro, do fundo,
Que os pulmões se aguentem,
E os outros que tapem o ouvido
Que isto hoje, para mim, faz sentido.
E tentem, grito-vos, TENTEM!
Tentem fazer mais por vós,
Que gritar de dentro não é mais
Que oferecer a nós.
Querer é um jeito de loucura,
E se assim o é, que o sei por certeza,
Entrego-me nesta desmesura
Que o querer é natureza,é real,
Eu hoje sou homem do povo, cidadão,
Mas no fundo, eu, sou animal.

Sou um animal do mundo perdido e hoje, talvez apenas hoje, tudo, para mim, faz sentido.
Mais sentido que o ontem e que o amanhã, por certo,
Que o amanhã é incerto.

Monday, January 05, 2009

Haja quem não tenha sono e queria dar luz a um cepo. Bem Haja.

Suspiros.



Sonhei que dormia

Pois que dormia, e sonhava,

E sonhando que dormia,

Não caminhava.

Ora, quem dorme parado

E parado sonha,

Sabe



Ai! Queria tanto hoje dormir

D'um sono que me levasse às estrelas.

Ai, queria tanto



estou perdida.