Wednesday, February 25, 2009

Ela está nua

(E acha que)

- Está farta de estar apaixonada por estar apaixonada. Queria apaixonar-se por algum conteúdo, alguma coisa que lhe desse vontade de se prender e se entregar. Parece que só assim chegamos à liberdade, dizia ela. "Pelo predimento para o desprendimento. É o paradoxo da incompletude." Não sei o que é isto, nem sei muito bem o que disse. Estava farta de adorar apaixonar-se constantemente. A paixão pela paixão é uma farsa. Ou é uma fuga. Ou melhor, não pode ser fuga, porque só se foge de algo. Não fugia de nada. Só procurava. A paixão pela paixão é uma procura, definitivamente. Mas desmesurada. Tola. E sem sentido. A procura não pode ou não deve ser procurada. Deve ser real. Mas ela sentia-a inata. Não sei o que sentia. Não sei se alguma vez sentia. Bom, às vezes sentia que havia sentido, mas não sentia que sentisse. Sentia a melancolia e a nostalgia, sim. Isso sentia. Mas era o chorar pelo perdido que sentia. O mito Sebastianista é tolo. Eu sou tolo. Queria que a tirassem dali porque gostava de estar ali. Às vezes. "Nunca há um todo. Há a soma das partes." Adorava as partes. Não conseguia chegar a um todo. A um todo que adorasse. Os todos que via eram chatos. Não. Incompletos, dizia. Os todos que via eram incompletos. Eram todos para outros, mas não para ela. Esses todos são, para ela, como o vento no Inverno. Passam por ela sem que os veja com olhos de ver, e são frios. Mas atenção, eles não chegam assim frios e sem avisar. Ela via ao fundo a tempestade, mas via-a porque pensava ter visto antes a luz, num abrasador dia de Verão. O Verão é bonito. No Verão, os meninos correm no parque. Saio à rua e transpiro. Fico molhado nos sovacos e sinto-me mal. Ao menos sinto. A água é uma coisa boa. As pessoas gostam de ficar molhadas. Por isso é que no Verão se atiram ao mar. Por isso é que metem a pata na poça. E molham-se. E depois ficam frias. O gato escaldado de água fria tem medo. Os gatos são tipos espertos, têm sete vidas. Isso já se sabe. O que eu não sei é que ela não podia com a gata pelada pelo rabo. Nunca teve um grande rabo. E nunca gostou de gatos.

Seek rhymes with sick

Os que procuram, são doentes?

Wednesday, February 11, 2009

Foge lê-se como Foz

- Isto é lindo!!! Isto, isto é lindo! É o tim-tim-tim, é o grave das notas, é um amorzinho de toque. Lembra-me seda e verde esmeralda. Nuvens no céu e pardais.
- A mim, faz-me chorar pelo perdido. Chorar pelo belo, para despejar o feio.
- Mas já viste bem como toca rápido e percebe a pauta? Porque nem sempre é rápido, é só em determinados momentos. E olha! Ahahah, olha, que faz o meu braço dançar de entusiasmo!
- Parece que a vejo tocar em bailados. Lembro-me, agora, do Palácio da Foz. O único de que me lembro de alguma coisa, se é que me lembro de coisa alguma. E esqueço-me agora também, pois que me perco. É lindo sim. Isto, é lindo!

- Quero usar o meu pendente dourado.
- Porque não o fazes agora?
- É tarde. Ninguém, a esta hora, se atreverá a sair comigo só para que possa mostrar o pendente.
- Que belo é o teu pendente.
- É. Descobri-o onde não havia mais mas onde o podiam ter achado antes de mim. Mas fui eu! Eu, quem o trouxe.
- Queres sair comigo?
- Não, tu podes vê-lo aqui e não o quero mostrar só mais à noite fria e cabisbaixa. Fico aqui no calor da casa a olhar para ele, pois que aqui me faz sorrir.

- Hoje não quero sorrir, por mais belas que sejam as coisas e as músicas.
- Hoje quero sorrir mais que ontem.
- Hoje perdi.
- Hoje ganhei.
- Hoje choro.
- Hoje preciso de sorrir timidamente por isso.
- Hoje busco.
- Amanhã logo vejo.
- Não me percas de vista.

Ouvir La Campanella e pensar. Pelo Rubinstein.