Monday, June 29, 2009

Criei três mundos inquebráveis e só me sei situar num quarto onde crescem plantas secas nas paredes, fruto de uma atitude impávida e incompreensivelmente estúpida. Fito-me no espelho e parece-me que encontro O Pápa, qual manto luminoso e cândido, fitando-me de volta e cantando-me doces canções que convidam ao belo celestial. Os dias são graças a Deus inevitáveis mas inevitavelmente vou ficando à espera. Não de ti, mas talvez de mim. Eu sei que já o disse, mas digo-o novamente no risco de cair na redundância, Estou farta do sistema.
LIBERDADE!

O sistema anda-me a deixar mal-disposta.

Sunday, June 28, 2009

Olaré

O meu espanto é
Que hoje uma velha, num pranto,
Deu um tiro no pé.
E o mundo ficou sentado.

Monday, June 22, 2009

É ser-se Humano

A culpa é da vontade
Que tenho de te abraçar.

Sunday, June 21, 2009

Já o vi, para sempre (a sunday smile)

All I want is the best for our lives my dear,
and you know my wishes are sincere.
What's to say for the days I cannot bear

A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
About a Sunday smile and we felt clean

We burnt to the ground
left a view to admire
with buildings inside church of white.
We burnt to the ground left a grave to admire.
Hills reach for the sky, reach the church of white.

A Sunday smile we wore it for a while.
At cemetery mile we paused and sang.
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
About our Sunday smiles and we felt clean

Tuesday, June 16, 2009

Um benzinho de fazer querer

Oi, Olha, Hey, Tu,
Não me devolvas o guarda-chuva
Que está calor lá fora
Onde repousam as margaridas.
Anda ter com elas, anda, anda embora,
Vamos sentir-lhes o aroma
Que é parecido com o das nuvens.

E eu não me importo que se suje o vestido branco
Eu estou aqui é para aprender.
Mas, ah, fala baixinho.
É que está por aí um vizinho
E ele não precisa de saber.


Quero saber o que se usa, as modas,
Das calças subidas
às saias de rodas.

Anda, oh tu do cachimbo verde,
E vê lá mas é se te afogas
Que, de nós, és tu quem perde!
É que o sol ainda se esconde
E a incontestável fragilidade do ser
Que do escuro tem medo
Não, não é para se saber.

Sunday, June 14, 2009

Directamente

Ora sombrio ora cândido
O dia me acolhe por entre horas
Minutos e segundos, singulares,
Tantos quanto os andares
Mo permitam.
Dias há em que os pés hesitam.
Correr, sim, correr por aí
Por cá, por acolá, por ali,
Corro por via da esperança
Por conta da lembrança
Que trago de ti.

Hoje e ontem lembrei-me de ti, saudosamente,
Que dias passo contente
Quando passo contigo.
És e serás, p'ra sempre, um amigo.


Ao Gonçalo Silva

O ELOGIO DA LOUCURA

UMA DECLAMAÇÃO DE ERASMO DE ROTERDÃO

" Fala a Loucura:

Tudo o que os mortais, de um modo geral, dizem a meu respeito - estou disso perfeitamente consciente - é que a Loucura não goza das opiniões mais reputadas e, mesmo entre os mais loucos, sou a única com poderes divinos capazes de alegrar os corações dos deuses e dos homens. Prova disso é que bastou o simples facto de avançar para me dirigir a esta assembleia, para logo todos os rostos brilharem numa nova e incontida alegria, afastando todo o seu ar grave e sisudo. Ristes e aplaudistes com sorrisos tão cândidos que, ao ver-vos todos reunidos em meu redor, era capaz de acredtar que estais ébrios do néctar dos deuses homéricos, com um travo de nepentes; e ainda há poucos instantes, estáveis sentados com um ar tão sombrio e acossado como se houvésseis saído da gruta de Trofónio. "

Monday, June 01, 2009

Take 1 (sem 2)

Chamaram-lhe uma coisa qualquer
Ao rasto que deixaste no pinhal
Descabido, inteiramente,
Porque o nome lho deram somente
Por desvario de uma mente
Que teme verdade total.

Vai a trote, de cavalo, vai de mansinho,
E vê se não te esqueces de jantar
Que aqui o povo fica sozinho
À espera do Sebastiãozinho
Voltar.

É precisamente isto.

[...] Hoje caminhei com os lábios vermelhos pela ponte mais velha da minha aldeia. As nuvens continuavam lá em cima e acima de tudo cantavam os pássaros.
- Não quero morrer!
Sentei-me numa pedra, cruzei as pernas semi-deitadas no chão frio, estendi o meu vestido às rosas e senti-me no topo do mundo, ainda que estivesse apenas no topo da velha ponte da velha aldeia de Maçores. Aí, jurei pra nunca mais morrer. Olhei para cima com todo o meu desrespeito à luz da Primavera de Abril, cheio de toda a sua azulez de céu despido de amor - ao menos, e valha-nos o calor, trazia os meus lábios vermelhos -e detestei aquela estação do ano detestável ainda mais um pouco. Intrigou-me a piadeira dos pássaros, que pareciam alheios a este espetáculo de friez descabida. Ora, onde já se viu, um dia completo de nudez flácida. Chateia-me. Puxei do cigarro, desapertei os sapatos. Um isqueiro, um truque e ali estava eu, a deliciar-me com o doente alcatrão. Fitei-o. Questionei-o. Questionei-me.
- Nãããã. Sai daqui.
Atirei o cigarro ao chão e tossi, enojadamente. Esfreguei as mãos nos lábios brutalmente e tal foi que espalhei batôn pelas rosáceas, roçando a Maria Puta que, satisfeita ou não, aproveita para se render à comodidade de um sossego sujo. Passou um cão. Observei-o e depois esqueci, como se nada ali tivesse passado, qual alma insensível, outrora rendida ao amor de um fumo. Estava ali porque queria sentir de novo. [...]