Wednesday, October 21, 2009

Bicho

Tenho um bicho por dentro
Que me está a comer.
Caramba! Queria-o fora
Fora daqui,
Que me corrói, de fora e no centro,
Juro que é um tormento
E está-me a endoidecer.

Isto é...
Desde a aurora, que se faz escurecer.

É um bicho feroz, ofensivo,
Sai-se por meio das entranhas,
E vem-se, cheio de manhas,
Dizendo-me coisas estranhas
Que não consigo entender.
Só o consigo é sentir
Que ele não fala,
mas faz-se ouvir.

Odeio-o. Odeio-o na substância
Como se odeia a chuva num vendaval.
Não pertence! Não tem de estar
Mas está, na inevitabilidade da presença.

Eis odiável e odiosa pertença
Pois a dor é minha e dói tanto
Que é doença.

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