Era um cacho de uvas em cima da mesa
e tu, sorrindo encantadoramente,
percebeste que o cacho de uvas em cima da mesa
era eu.
Valha-nos o Deus e os tempos,
que em alturas de tristeza
decidiu, sua alteza,
ser uvas!
- Anda trabalhar,
vem, estuda, pensa,
canta, sorri! Eu trouxe,
eu trouxe um presente
para ti.
Sorris, continuas percebendo,
acho até que a culpa disto é tua.
Mas o sorriso não é malicioso,
e o fardo, a mim, não pesa,
acho que estamos num estado de gozo
que ninguém percebe e, a mim,
não me interessa.
- Mamã, a Maria não está,
não andes aí a pedir-lhe coisas.
- Não está? Mas ainda agora...
- Teve que ir embora. Deixa.
Gosto de te ver assim o cabelo,
encaracolado, tocando-te no pescoço,
e a mim gosto de me ver o roxo,
a pele e o caroço.
Tudo é grande, é rosadinho,
e eu não tenho caminho.
No comments:
Post a Comment