Tuesday, March 10, 2009

Campos cheios de flores

Oiço a rádio.
A música encaixa-se perfeitamente no meu estado de espírito.
Escuto.
A letra da música é "you got me going on".
Soa bem.
A maçã é verde e pura, como é a água da garrrafa do pingo doce.
Limpo. Esqueço.
Sei que tens os olhos claros. Vêm muito.
Os meus andam escuros e eu acho que é da contra-luz.

- Olha lá, quem és tu? Nunca te vi por aqui. Bom, de qualquer maneira, obrigada por teres vindo, e sabe que muito provavelmente também te persigo. Só não sei quem és. Mas já agora também te digo que não podes ser novo nestas bandas. Tens muito paleio. E se não destas bandas, doutras bandas mais interessantes. Sabe que aqui, nesta aldeia, as pessoas são mexeriqueiras e miudinhas. Ai que às vezes me apetece bater-lhes com um mapa e mandá-las aos raios que as partam, ou a outros sítios quaisquer hediondos como elas. Ou sítios belos, a ver se se embelezam. Ah, mas eu sou bela. Acredita que sou. Eu acredito que sou. Que se eu não acreditar nisso num sítio tão hediondo, bem posso é morrer. Valha-nos isso, que é bom o senso.

...

- Estou a ouvir contrabaixos.
- Onde?
- Não sei.

Wednesday, February 25, 2009

Ela está nua

(E acha que)

- Está farta de estar apaixonada por estar apaixonada. Queria apaixonar-se por algum conteúdo, alguma coisa que lhe desse vontade de se prender e se entregar. Parece que só assim chegamos à liberdade, dizia ela. "Pelo predimento para o desprendimento. É o paradoxo da incompletude." Não sei o que é isto, nem sei muito bem o que disse. Estava farta de adorar apaixonar-se constantemente. A paixão pela paixão é uma farsa. Ou é uma fuga. Ou melhor, não pode ser fuga, porque só se foge de algo. Não fugia de nada. Só procurava. A paixão pela paixão é uma procura, definitivamente. Mas desmesurada. Tola. E sem sentido. A procura não pode ou não deve ser procurada. Deve ser real. Mas ela sentia-a inata. Não sei o que sentia. Não sei se alguma vez sentia. Bom, às vezes sentia que havia sentido, mas não sentia que sentisse. Sentia a melancolia e a nostalgia, sim. Isso sentia. Mas era o chorar pelo perdido que sentia. O mito Sebastianista é tolo. Eu sou tolo. Queria que a tirassem dali porque gostava de estar ali. Às vezes. "Nunca há um todo. Há a soma das partes." Adorava as partes. Não conseguia chegar a um todo. A um todo que adorasse. Os todos que via eram chatos. Não. Incompletos, dizia. Os todos que via eram incompletos. Eram todos para outros, mas não para ela. Esses todos são, para ela, como o vento no Inverno. Passam por ela sem que os veja com olhos de ver, e são frios. Mas atenção, eles não chegam assim frios e sem avisar. Ela via ao fundo a tempestade, mas via-a porque pensava ter visto antes a luz, num abrasador dia de Verão. O Verão é bonito. No Verão, os meninos correm no parque. Saio à rua e transpiro. Fico molhado nos sovacos e sinto-me mal. Ao menos sinto. A água é uma coisa boa. As pessoas gostam de ficar molhadas. Por isso é que no Verão se atiram ao mar. Por isso é que metem a pata na poça. E molham-se. E depois ficam frias. O gato escaldado de água fria tem medo. Os gatos são tipos espertos, têm sete vidas. Isso já se sabe. O que eu não sei é que ela não podia com a gata pelada pelo rabo. Nunca teve um grande rabo. E nunca gostou de gatos.

Seek rhymes with sick

Os que procuram, são doentes?

Wednesday, February 11, 2009

Foge lê-se como Foz

- Isto é lindo!!! Isto, isto é lindo! É o tim-tim-tim, é o grave das notas, é um amorzinho de toque. Lembra-me seda e verde esmeralda. Nuvens no céu e pardais.
- A mim, faz-me chorar pelo perdido. Chorar pelo belo, para despejar o feio.
- Mas já viste bem como toca rápido e percebe a pauta? Porque nem sempre é rápido, é só em determinados momentos. E olha! Ahahah, olha, que faz o meu braço dançar de entusiasmo!
- Parece que a vejo tocar em bailados. Lembro-me, agora, do Palácio da Foz. O único de que me lembro de alguma coisa, se é que me lembro de coisa alguma. E esqueço-me agora também, pois que me perco. É lindo sim. Isto, é lindo!

- Quero usar o meu pendente dourado.
- Porque não o fazes agora?
- É tarde. Ninguém, a esta hora, se atreverá a sair comigo só para que possa mostrar o pendente.
- Que belo é o teu pendente.
- É. Descobri-o onde não havia mais mas onde o podiam ter achado antes de mim. Mas fui eu! Eu, quem o trouxe.
- Queres sair comigo?
- Não, tu podes vê-lo aqui e não o quero mostrar só mais à noite fria e cabisbaixa. Fico aqui no calor da casa a olhar para ele, pois que aqui me faz sorrir.

- Hoje não quero sorrir, por mais belas que sejam as coisas e as músicas.
- Hoje quero sorrir mais que ontem.
- Hoje perdi.
- Hoje ganhei.
- Hoje choro.
- Hoje preciso de sorrir timidamente por isso.
- Hoje busco.
- Amanhã logo vejo.
- Não me percas de vista.

Ouvir La Campanella e pensar. Pelo Rubinstein.

Saturday, January 31, 2009

Ele às vezes fala comigo. Mas raramente.

O Preto do Bairro que é Dinamarquês chora,
Chora, ai que chora o Preto do Bairro, Dinamarquês,
Não o Bairro, o Preto mesmo, aquele que chora,
Num bairro que não é dele mas que o vê chorar.

E fala, o Dinamarquês, se fala, pois que fala!
Então não havia agora o homem de falar?
Que chora e fala e anda para lá, pelo Bairro,
O Preto do Bairro, chorão, a vagabundear.

E ensina e inventa, e fala e chora, o Dinamarquês,
E ensina o pequeno e o velho, enquanto chora,
E fala ensinando o velho, ou a si próprio, ou ao pequeno,
Que o Preto, esse, está no seu terreno.

E se o seu terreno é o Bairro e ele por lá está, está bem,
Que o terreno de cada um é o que mais lhe convém,
Seja lá por que motivo for, que muitos há, aos motivos,
E os terrenos são limitados, cercados e definidos.

Se o Preto do Bairro fosse meu amigo, que é amigo de todos, e não meu,
Gostava de lhe perguntar que males via em mim,
Que ele não só sabe chorar, sabe falar, sabe ensinar
E os males da cada um são coisa difícil de analisar.

Se eu soubesse pelo Dinamarquês o que faz mossa, o que chateia,
Sabia eu mais do que sei agora só, no meu terreno esquecido,
Que quando acho que me encontro me vejo é perdido,
E o trilho é a firmação, a pura certeza e a contentação.

Mas já me disse coisas, O do Bairro, O que fala, O que Chora,
Disse-me quando mal esperava, noutro dia, noutra hora,
Quando parecia não querer ouvir, não querer saber, não querer perceber,
Que o Preto até mo disse mas eu fiz por não o entender.

O Preto do Bairro é o meu pai e o pai de todos, que todos são filhos,
E todos temos direito a terrenos, a futuros, a caminhos, a trilhos,
E todos temos também direito a dúvidas, a incertezas, a arrependimento,
Que se o Preto do Bairro é pai Dinamarquês, também vive no Bairro, sem sustento.

Mas, o que mais interessa, é a vida.

Que vivê-la no Bairro ou na Dinamarca, pouco diz do terreno que pisamos,
Que o futuro é o presente, e, agora, aqui estamos.

Friday, January 30, 2009

À tarde, diz que é prata

Vagabundeando pelas vielas estreitas e esquecidas das gentes públicas,
É fácil perceber-se porque não se deve comer laranjas à noite.

"A laranja de dia é ouro,
À tarde prata,
E à noite mata."

A cor e o saboroso do doce ficaram-se pelos céus azuis cândidos das manhãs
E pela noite só sei que há vagabundos a quem não se pode olhar nos olhos.

ShaiPaiMaiTai Ai Sai !

Dói-me pensar, não sei porquê escrever!

Porquê?!

Bom, sentindo a escapatória a escapar-se-me por mãos que não tenho
Porque não as tenho, ou nada tenho certo,
Recorri ao velho, ao habitual, ao vício banal, à comodidade,
Talvez nela esteja a mais pura verdade
E indagamos nós, ou Eu, à procura de uma falsa realidade
Que ás vezes dói, e dói nas vezes em que se acentua a vontade de saber.
Dói mas não uma dor física, antes que o fosse, que esta dor é apática,
É uma coisa que não é nem deixa de ser e fica,
Como nada mais fica, e por isso mesmo, fica.
Quero-te já fora daqui! Já! Já! Já!
Quero correr para trás e encontrar-Me quando Me conhecia pelos lápis de cor
E talvez isso tenha sido ontem, ou há uma semana,
Mas eu hoje não recordo. Só me lembro de recordar.
Que o meu corpo a recordação bana, que mais não sei que pensar.
Eu penso que penso, pois pensar não pode ser isto,
Isto são balelas, tretas de sentimentos ou de expressões,
Que o pensar não pode ser tão obscuro, pois é conhecimento,
E o conhecer há-de o trazer, ao contentamento.
Ou não.
Detesto dilemas.

Wednesday, January 21, 2009

Hei-los, aos elos.

- Olá! Estou aqui de novo, Mamã. Trouxe-Te um presente.
- Ai sim? Então? Mostra-mo, quero vê-lo!
- Não. Não To posso já mostrar.
- Mas não o trouxeste para mim?
- Sim, Mamã. Mas não Mo peças e não esperes que To dê já.
- Porquê?
- Ah, e não perguntes, Mamã.
- Que do alto dos teus 7 anos já falas assim! Arrogância, meu filho. É disso que padeces.
- Não, Mamã. Secalhar não Te devia ter dito nada. Mas enfim, tenho, para Ti, um presente. Às vezes não me contenho. Acho que sou demasiado pequeno para guardar demasiadas coisas. Às vezes, rebento-me por dentro. Impludo. Um dia, hei-de explodir e pedaços de mim serão espalhados. Eu estarei em toda a parte. Um dia, ou umas vezes. As vezes.
- Não fales assim, que me agonias. Mas guardas-me um segredo!
- Não, que para Ti não os tenho. Mas vou adiar-Te o meu presente. Vou adiar o dia em que To darei, gloriosamente.
- Modéstia, meu filho. Modéstia.
- As virtudes, Mamã, são algumas das adversidades da vida. Agora, quero pecar, ser bandido, fugir, saltar e assaltar, roubar beijos, correr em matos selvagens e não voltar para jantar.
- Ah! O eterno desejo do efémero pecador. Olha que isso, meu filho, dura pouco. Um dia acordarás para a triste realidade que a vida tem para te dar.
- Ah, como Te quero presentear! Não penses em mim como um atreito às maleitas, um malandro. Sou um louco e quero sonhar! E sei que sonharás comigo, Mamã! Quando Te der o presente, serás como eu. Porque, no fundo, eu sei que somos iguais.

SEREMOS CARNE DA MESMA CARNE
TU ÉS
EU SEI QUE ÉS
ÓRGÃO DO MEU SER INCONSOLÁVEL - UM DESEJO DE LOUCURA ETERNO
AI !

Grita-me hoje que o dia é FINITO

Grita-me hoje.

eu GRITO.

Sunday, January 18, 2009

Fools in love - Are there any other kinds of lovers?


Fools in love


Are there any other creatures


More pathetic?


Thursday, January 15, 2009

Vi um gato no beco

Sabem quando nos alheamos de tudo e somente observamos?
Isso acontece, de facto, "até ver". É, até "se ver" a imagem mais bela, ou se se interpretar isso dessa forma, numa coincidência fantástica.

Montras, feixes de luz, irradiando,
Soltando de si falsa vida e cor,
Que daquela frieza azulada choravam
Efémeros pedidos de' terno, doce calor.

Mas digo-o assim porque assim o era,
Efémero, seco, igual, descartável,
Asfixiei-me em desespero, que vi a vida torcida,
E quero acreditar que o solo é arável.
Ainda.

E eis que entre dois antros de aridez grotesca vi,
Bem no meio, num beco rosa, ou salmão,
(Era de noite, não se via bem)
Um gato malhado.
Um lindo e gordo gato, como o das revistas cor-de-rosa.
Num beco rosa, ou salmão.
(Eu estava sem óculos)

Topei-lhe o ar sereno, no meio daquela agitação seca,
Enquanto estava sentado, incrivelmente direito.
Olhava para cima, olhava, para cima, para a parede salmão,
E mais não fazia que aquilo. Era perfeito!
Fixava o olhar e permanecia, na sua solidão.
(E achava eu que estava alheada.
Alhear-se sabem os gatos, que são espertos. Por isso é que têm 7 vidas.)

Tuesday, January 06, 2009

Animalidade. Não posso racionalizar.

Corre, salta, foge,
Grita, rebenta, transita,
Age, reage, ruge,
Arshe, irshe, urshe,
Rrr, siribi, catatá,
Sai, vai, cai,
Ai
Ai
Ai!

Se saires da tua jaula recôndida,
Verás um mundo novo
Cheio de fábulas e criações,
Invernos quentes e canções,
Que nem tudo é árido e perdido.
Hoje, para mim, tudo faz sentido.
Traz-me ou leva-me, vou, irei, estou,
Contigo ou sem ti, porque, por ti, sou.
Por mim, Por nós, Pelo mundo,
GRITEMOS!
Gritemos cá de dentro, do fundo,
Que os pulmões se aguentem,
E os outros que tapem o ouvido
Que isto hoje, para mim, faz sentido.
E tentem, grito-vos, TENTEM!
Tentem fazer mais por vós,
Que gritar de dentro não é mais
Que oferecer a nós.
Querer é um jeito de loucura,
E se assim o é, que o sei por certeza,
Entrego-me nesta desmesura
Que o querer é natureza,é real,
Eu hoje sou homem do povo, cidadão,
Mas no fundo, eu, sou animal.

Sou um animal do mundo perdido e hoje, talvez apenas hoje, tudo, para mim, faz sentido.
Mais sentido que o ontem e que o amanhã, por certo,
Que o amanhã é incerto.

Monday, January 05, 2009

Haja quem não tenha sono e queria dar luz a um cepo. Bem Haja.

Suspiros.



Sonhei que dormia

Pois que dormia, e sonhava,

E sonhando que dormia,

Não caminhava.

Ora, quem dorme parado

E parado sonha,

Sabe



Ai! Queria tanto hoje dormir

D'um sono que me levasse às estrelas.

Ai, queria tanto



estou perdida.

Thursday, December 18, 2008

A Velha vestia-se de preto e amarelo.

Um dia perguntei-lhe o que achava da legalização do aborto

E respondeu-me torto.

Ah, bolas, e eu queria mesmo falar a sério.

Como não consegui, perguntei-lhe pela cor favorita.

"-Tudo menos preto".

Oh! Qual não foi meu espanto,

Quando neste entretanto

Encontrei uma resposta bonita,

Mas que não fazia sentido!

Ah, bolas, fiquei perdido.

Se a indumentária nos reflecte a personalidade,

A Velha contradiz-se

Inacabado

Mais uma,
Mais uma de muitas
Noites vadias e perdidas
Das que os rostos belos temem
E os nauseabundos festejam.
Mais uma noite de gatos
Que, pardos ou não,
Se as vadias e perdidas os tornam,
Nem por um pouco pestanejam,
Não venham os nauseabundos e os vejam
E façam deles sapatos.
Ah, julgais que é barato mandar cantar o cego?
Canta antes o raio do gato
E dança as sevilhanas, e vai sambar,
E persegue dois ou um rato.
Digo eu, de fora, que enxergo,
Mas pouco vejo também e não sei cantar.
Antes que me perca, voltemos à noite,
Não nos venha a socorrer o Sol
(Não me apetece!)
É que a emoção,
Assim,
Esmorece.
Durante a visita lunar encontrei-o.
Lá estava, envergando toda a sua imensidão,
Estrutura sólida de homem, ruividez
Pés descalços mas clara sublime tez
(Que inveja me fez!).
Esperava momento oportuno.
E eis que o chega, quando chega o outro,
O casal distraído até de si próprio
Que se vai esquecendo nas entrelinhas,
Mas nunca se esquecem suas partes.
Quando interpelado,
Unem-se as partes e inicia-se diálogo.
"- Sabes quem é? - dizia o olhar
- Se soubesse, não terías de perguntar,
Somos os dois um só!
Não dispas aqui a nossa verdade,
Finjamos união, como publicidade!"
"- Olá, quereis batatas-fritas?
A máquina avariou-se, aqui a do metro,
Há-as ali para dar e vender,
Ou para parvos, como eu,
As virem, a vós, oferecer."
E, franzindo a sombracelha,
Fazem-se os dois de bons comparsas,
Seguindo o seu ideal caminho.
É por isto que há relações falsas,
Que não aceitam batatas alheias.
O homem, apático, ficou sozinho.

Às vezes a fome mata,ou mata-nos a falta dela.

Tuesday, December 16, 2008

Título

Sí-la-bas

CAPS LOCK

Síndrome CARAGO de DASS Tourette

letras

Cor-de-rosa

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Às vezes, o óbvio é o mais complicado.

Friday, December 05, 2008

Aproximação




Wednesday, December 03, 2008

Ding Dong

A Maria partiu.

Chamo por ela às vezes, mas as vezes perdem-se nas contas que faço e faço contas à vida.

A Maria não vai voltar.

Sei disso por causa das circunstâncias e circunscrevo-me nelas, com letras que se encontram num desespero de realidade.

"Maria, tanto queria que ouvisses agora,
Agora que as letras falam alto, porque falam para ti.
Estão, são, dirigidas a ti num desabafo,
Pois que o amor não se divide,
Multiplica-se infinitamente no tempo.
E o espaço, esse, é definido pelos Deuses do destino."

- Acreditas no Destino, Maria?

"Eu sei que posso acreditar, ou que consigo fazê-lo,
Acreditar,
Acreditar que podes, se eu quiser, voltar,
Aqui, no meu pensamento.
Este meu espaço pertence às minhas pálidas mãos,
E tracei-o com lápis de cor e de cera,
Que se a saudade é fera,
É também uma doce campainha."

Wednesday, November 12, 2008

Questão sobre a atingibilidade das coisas

- "Desculpe, tem daquilo?
- Daquilo quê, menina?
- Daquilo, senhor. Daquilo.
- Se a menina se explicar, talvez a possa ajudar.
- É daquilo. Queria um pouco daquilo.
- Não a compreendo, menina.
- Um pouco não. Quero muito daquilo.
- Não me sabe explicar melhor o que deseja?
- É só daquilo.
- Ah... Daquilo?
- Sim, disso mesmo!
- Daquilo... Bem, não tenho nada que lhe sirva.
- E se passar mais tarde?
- Mais tarde quando? Às cinco?
- Não... Depois.
- Depois quando?
- Amanhã, quiçá depois. Vá passando.
- Quando? Quando vou passando?
- Venha vindo...
- Até quando?
- Não lhe sei dizer.
- Mas não tem, está para vir, esgotou-se...?
- Daquilo não se esgota, por regra. Mas não tenho aqui nenhum para si, menina.
- Venho vindo, é?
- Sim, passe cá de vez em quando.
- Isso é para sempre?
- É para enquanto houver esperança."

Sunday, October 26, 2008

Há quem diga que o saudosismo é português

Sei que o de trás já passou
Subtilmente, sem que o visse fugir
Sempre cantando baixinho
Soprando ao de leve, levezinho
"Ser criança é sorrir!
É não saber, é sentir
É correr, é distrair,
É saltar.
Ser criança é ser do mar,
Ser do fogo, ser da terra, ser do ar,
Ser.
Ser.
Ser..."

Se as memórias cantassem baixinho também,
Seriam sussurros doces.

A infância, a doce infância,
De Verões que sabiam a gelados
De canções que tocavam aos sábados.

E aos domingos!

Minha, a ignorância.

É que às vezes, a infância,
Se guardada dentro de nós,
Sabe esconder-se bem.

E sai-se, por vezes, sabendo surpreender-nos,
Rebentando em nós tremenda saudade,
Sabendo sempre lembrar que a verdade
Esta que hoje sabemos,
Está longe da realidade que um dia
Um dia, em tempos,
Conhecemos.

Tenho saudades tremendas!
Saudades que sinto como fendas
Que o hoje não sabe suturar.
São tristes, não necessariamente más.
São aquilo que são, e nada mais.
Vêm lembrar-me os meus pais, em dias de antigamente,
Quando dizia, a gente,
"Ainda a vida te está pela frente",
E outras coisas tais...

Tenho também saudades que chegam, e sucumbem,
São essas saudades as que me acudem
Sempre que parece não haver esperança.
É que às vezes, a tristeza é mansa
E penetra-se nas fendas.
Nestas fendas que as saudades tremendas
Parecem rebentar.

São saudades que nunca poderei travar.

Sunday, October 12, 2008

E com flores, tu partiste

E partiste na mais clara manhã de Outono
Que das folhas secas brotou demais cor.
E surgiram alegres pássaros, cantando
Fugiu-se a entrevada tristeza a mando
Do que por ti vi, que foi amor.

Sim, foi amor.


Que as palavras e as recordações serão eternas - ainda que saudades apertem.
Eu sei que estarás sempre aqui.

Saudades, Maria .