Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
Sunday, December 23, 2012
Wednesday, November 21, 2012
Tuesday, October 30, 2012
trubitrio
o doce condensado derreteu na chapa quente
no lado de fora do bule que fora roubado para este propósito.
queima, é pegajoso, quente demais,
lábio queimado, lingua que dói,
mão assaz, vermelha e escamada,
pé na bota, bota pomada,
tudo quanto é demais corrói
de uma forma agridoce.
no lado de fora do bule que fora roubado para este propósito.
queima, é pegajoso, quente demais,
lábio queimado, lingua que dói,
mão assaz, vermelha e escamada,
pé na bota, bota pomada,
tudo quanto é demais corrói
de uma forma agridoce.
Thursday, October 25, 2012
de noite
quando dormes o mundo respira
por saber que descansas, e olho para ti,
gosto tanto de olhar para ti.
oiço-te respirar, às vezes emites alguns sons
que entendo com carinho, e graça,
e abraço-te tentando não te acordar.
quando dormes a tua pele fica diferente,
mais húmida, mais quente,
como que a libertar o resto do dia em ti.
colo-me nela o mais que consigo,
agarro-me o mais possível ao teu corpo
e desprendo-me do mundo contigo.
quando dormes a tua barba cresce,
passam dias e noites diante dos meus olhos
nos minutos em que te observo.
vejo-te ali, no momento, e antes e depois,
és muito menos palpável do que significas.
quando dormes tenho medo de te acordar,
gosto que durmas, e que estejas perto,
o som do bater do teu coração aumenta,
o teu cabelo despenteia-se, ainda que pouco,
os teus lábios parecem maiores,
as tuas pernas e as tuas mãos às vezes tremem,
e abraças-me.
por saber que descansas, e olho para ti,
gosto tanto de olhar para ti.
oiço-te respirar, às vezes emites alguns sons
que entendo com carinho, e graça,
e abraço-te tentando não te acordar.
quando dormes a tua pele fica diferente,
mais húmida, mais quente,
como que a libertar o resto do dia em ti.
colo-me nela o mais que consigo,
agarro-me o mais possível ao teu corpo
e desprendo-me do mundo contigo.
quando dormes a tua barba cresce,
passam dias e noites diante dos meus olhos
nos minutos em que te observo.
vejo-te ali, no momento, e antes e depois,
és muito menos palpável do que significas.
quando dormes tenho medo de te acordar,
gosto que durmas, e que estejas perto,
o som do bater do teu coração aumenta,
o teu cabelo despenteia-se, ainda que pouco,
os teus lábios parecem maiores,
as tuas pernas e as tuas mãos às vezes tremem,
e abraças-me.
Thursday, July 19, 2012
Friday, July 06, 2012
Thursday, July 05, 2012
Sunday, July 01, 2012
Friday, June 22, 2012
Tuesday, June 12, 2012
Amar é
Estar perto tão perto que te sinto longe
Os limites do corpo enaltecem-se
quando percebo que há um eu e um tu
Choro esta distância
em cada tentativa de nos unir
Quero colar-te ao meu peito
olhar pela clareza dos teus olhos
ver-me de fora por me ver por ti
Procuro, procuro essa tua essência
que eu sei que está dentro de ti
e choro esta distância
por cada vez que não a encontro
Por cada vez que me aproximo
os limites tornam-se mais claros
mas vou amar-te ainda assim
vou amar-te ainda assim
Estar perto tão perto que te sinto longe
Os limites do corpo enaltecem-se
quando percebo que há um eu e um tu
Choro esta distância
em cada tentativa de nos unir
Quero colar-te ao meu peito
olhar pela clareza dos teus olhos
ver-me de fora por me ver por ti
Procuro, procuro essa tua essência
que eu sei que está dentro de ti
e choro esta distância
por cada vez que não a encontro
Por cada vez que me aproximo
os limites tornam-se mais claros
mas vou amar-te ainda assim
vou amar-te ainda assim
Wednesday, May 16, 2012
som
E quando se fecha o círculo
todos os pássaros cantam em uníssono
fazendo palpitar o órgão mais majestoso das ruas
Que, naquelas onde as flores estão nuas,
É mais visível.
todos os pássaros cantam em uníssono
fazendo palpitar o órgão mais majestoso das ruas
Que, naquelas onde as flores estão nuas,
É mais visível.
Tuesday, May 15, 2012
X
são as mãos, meu amor, as mãos
com que desenho a linha do teu corpo
que ardem na fúria da tua ausência
e não me deixam escrever
são as mãos, meu amor, as mãos
que buscam na tua essência
a tua letra mais essencial que tua
e que tapam os olhos, para não ver
não pelo medo, mas porque sei que não existe.
com que desenho a linha do teu corpo
que ardem na fúria da tua ausência
e não me deixam escrever
são as mãos, meu amor, as mãos
que buscam na tua essência
a tua letra mais essencial que tua
e que tapam os olhos, para não ver
não pelo medo, mas porque sei que não existe.
ruído
tenho medo da música
e do que me possa trazer.
de onde me possa levar
o que me possa fazer
o sítio onde vou estar
as coisas que vou ver
as lágrimas que vou chorar
tapo os ouvidos
mas não é como tapar os olhos
que se fecham sem apelo às mãos
grito alto
mas não deixo de ouvir
por cima da minha estridência
tapo a cabeça
mas assim não vejo
com a devida clarividência
onde o meu corpo se endireita
o som é nauseabundo
confundo os sentidos
e estoiro com o mundo
por cima da linha está o ponto
que vence, e tece o fim
na ilimitude
e do que me possa trazer.
de onde me possa levar
o que me possa fazer
o sítio onde vou estar
as coisas que vou ver
as lágrimas que vou chorar
tapo os ouvidos
mas não é como tapar os olhos
que se fecham sem apelo às mãos
grito alto
mas não deixo de ouvir
por cima da minha estridência
tapo a cabeça
mas assim não vejo
com a devida clarividência
onde o meu corpo se endireita
o som é nauseabundo
confundo os sentidos
e estoiro com o mundo
por cima da linha está o ponto
que vence, e tece o fim
na ilimitude
Thursday, May 03, 2012
Monday, April 30, 2012
Thursday, April 26, 2012
Tuesday, April 24, 2012
Lembrete
Aqui
Aqui fica registado.
Se foi falado não interessa,
fica feita a promessa
de que estou mesmo aqui ao lado.
Aqui fica registado.
Se foi falado não interessa,
fica feita a promessa
de que estou mesmo aqui ao lado.
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