Quero rasgar as cartas que te escrevi
ou queimá-las, para não ter mais de as ver,
mas temo o cheiro que tragam as cinzas.
quero esquecer,
quero esquecer as melodias,
as tuas mãos, as fotografias,
os dedos entrelaçados os olhos
os fados e os folhos das saias que usei
só para te ver sorrir. quero
quero esquecer a vontade, a beleza,
a saudade, a certeza,
deixar-me de prantos
que são tantos, são
são tantos.
Talvez te devesse dar as cartas
e gritar-te ao estômago, pelas borboletas,
tudo de um só fôlego,
sem cinismos, sem letras,
sem mecanismos ou mediações.
Quisera eu ter vários corações
para poder dividir o tanto que trago,
ou queimar as cartas, descoraçada,
que são elas mais tuas que minhas e,
afinal, não valem de nada.
Sunday, May 23, 2010
Wednesday, May 12, 2010
Penso
Parto para procurar perdidas
Pérolas, porque perdi pedaço,
Parto parco palavroso, pois
Passei, ponderei, pondero, passo,
Peço paciência para provável percalço.
Pérolas, porque perdi pedaço,
Parto parco palavroso, pois
Passei, ponderei, pondero, passo,
Peço paciência para provável percalço.
Tuesday, May 11, 2010
Visão
Vejo vastos vales verdejando
Varrendo vagas vicissitudes.
Violetas vaidosas viajando,
Veio vento, veio voando,
Voam violetas voltando.
Varrendo vagas vicissitudes.
Violetas vaidosas viajando,
Veio vento, veio voando,
Voam violetas voltando.
Sunday, May 09, 2010
No móvel, imóvel
Era um cacho de uvas em cima da mesa
e tu, sorrindo encantadoramente,
percebeste que o cacho de uvas em cima da mesa
era eu.
Valha-nos o Deus e os tempos,
que em alturas de tristeza
decidiu, sua alteza,
ser uvas!
- Anda trabalhar,
vem, estuda, pensa,
canta, sorri! Eu trouxe,
eu trouxe um presente
para ti.
Sorris, continuas percebendo,
acho até que a culpa disto é tua.
Mas o sorriso não é malicioso,
e o fardo, a mim, não pesa,
acho que estamos num estado de gozo
que ninguém percebe e, a mim,
não me interessa.
- Mamã, a Maria não está,
não andes aí a pedir-lhe coisas.
- Não está? Mas ainda agora...
- Teve que ir embora. Deixa.
Gosto de te ver assim o cabelo,
encaracolado, tocando-te no pescoço,
e a mim gosto de me ver o roxo,
a pele e o caroço.
Tudo é grande, é rosadinho,
e eu não tenho caminho.
e tu, sorrindo encantadoramente,
percebeste que o cacho de uvas em cima da mesa
era eu.
Valha-nos o Deus e os tempos,
que em alturas de tristeza
decidiu, sua alteza,
ser uvas!
- Anda trabalhar,
vem, estuda, pensa,
canta, sorri! Eu trouxe,
eu trouxe um presente
para ti.
Sorris, continuas percebendo,
acho até que a culpa disto é tua.
Mas o sorriso não é malicioso,
e o fardo, a mim, não pesa,
acho que estamos num estado de gozo
que ninguém percebe e, a mim,
não me interessa.
- Mamã, a Maria não está,
não andes aí a pedir-lhe coisas.
- Não está? Mas ainda agora...
- Teve que ir embora. Deixa.
Gosto de te ver assim o cabelo,
encaracolado, tocando-te no pescoço,
e a mim gosto de me ver o roxo,
a pele e o caroço.
Tudo é grande, é rosadinho,
e eu não tenho caminho.
Friday, April 30, 2010
suspiro
O corpo
O corpo pálido de saber onde mora a janela
do teu animal pede
que o visites no lugar onde lhe deixaste plantado
o verde mais teu que da natureza
e sabe, o corpo sabe
que na leveza desta visão clarificada
mora a certeza brotada
do teu jardim em flor.
O corpo pálido de saber onde mora a janela
do teu animal pede
que o visites no lugar onde lhe deixaste plantado
o verde mais teu que da natureza
e sabe, o corpo sabe
que na leveza desta visão clarificada
mora a certeza brotada
do teu jardim em flor.
Wednesday, April 21, 2010
sonho 3
Subi a escadaria eterna,
no meio do prado, em caracol,
e ladeada por uma núvem terna,
bamboleou-se-me a cansada perna
e encadeou-me o Sol.
Soube que não podia descer.
"Se chegaste aqui,
consegues voltar!"
Não, eu sabia que não,
e de medo faltou-me o ar.
no meio do prado, em caracol,
e ladeada por uma núvem terna,
bamboleou-se-me a cansada perna
e encadeou-me o Sol.
Soube que não podia descer.
"Se chegaste aqui,
consegues voltar!"
Não, eu sabia que não,
e de medo faltou-me o ar.
Friday, April 16, 2010
Parque
Paro, escuto, olho.
ACORDA, diz o outro
que sabe melhor que eu onde me encontro
e é perto de uma passadeira.
Que vergonha, será que percebeu,
o que é que me deu?
Estava de tal maneira
que nem o vi aproximar.
E, bem, verdade é que na cabeceira
tenho uma colecção inteira
de poemas, a estragar,
de sementes que vou guardando
para um dia plantar.
ACORDA, diz o outro
que sabe melhor que eu onde me encontro
e é perto de uma passadeira.
Que vergonha, será que percebeu,
o que é que me deu?
Estava de tal maneira
que nem o vi aproximar.
E, bem, verdade é que na cabeceira
tenho uma colecção inteira
de poemas, a estragar,
de sementes que vou guardando
para um dia plantar.
Thursday, April 15, 2010
tarde cheia de luz
Essa capa destapa a pele
das verdades e de quem se é.
Ai que belo! Que divertido!
Tão amarelo! Tão bonito!
Tudo, claro, isto tudo sentido,
juro, juro, querido,
não te estou a mentir.
Para quê desenlaçar o presente?
Fica tão bem o enfeite
e deixa todos a sorrir.
Dá trabalho, não é,
cavar, arrancar, partir,
trazer ao de cima, e, ao de leve,
devagarinho, gostar.
Tudo que é rápido é intenso!
Ao amor? Não, não sou propensa,
obrigada,
prefiro seguir o fado de ver o mundo
de fora.
Deste lado é sempre hora
de cantar.
das verdades e de quem se é.
Ai que belo! Que divertido!
Tão amarelo! Tão bonito!
Tudo, claro, isto tudo sentido,
juro, juro, querido,
não te estou a mentir.
Para quê desenlaçar o presente?
Fica tão bem o enfeite
e deixa todos a sorrir.
Dá trabalho, não é,
cavar, arrancar, partir,
trazer ao de cima, e, ao de leve,
devagarinho, gostar.
Tudo que é rápido é intenso!
Ao amor? Não, não sou propensa,
obrigada,
prefiro seguir o fado de ver o mundo
de fora.
Deste lado é sempre hora
de cantar.
Tuesday, April 13, 2010
Devolvo (tentando não desenvolver)
Txau,
até logo,
até depois,
já cá venho.
Se não te vejo, não te tenho
comigo, e se te oiço uns sussurros
parece que crescem muros
que te silenciam.
A quem pertenciam
os meus gestos? A mim?
Não creio,
mas se pensas que me chateio
desengana-te. Os gestos são dos mundos
mais supérfluos ou mais profundos,
e trazê-los é devolvê-los a casa
numa brisa que vem e esvoaça
e me faz chegar.
As minhas marcas são para te chamar
ao meu mundo,
que me parece muito supérfluo
ou pouco profundo
quando não te consigo encontrar.
até logo,
até depois,
já cá venho.
Se não te vejo, não te tenho
comigo, e se te oiço uns sussurros
parece que crescem muros
que te silenciam.
A quem pertenciam
os meus gestos? A mim?
Não creio,
mas se pensas que me chateio
desengana-te. Os gestos são dos mundos
mais supérfluos ou mais profundos,
e trazê-los é devolvê-los a casa
numa brisa que vem e esvoaça
e me faz chegar.
As minhas marcas são para te chamar
ao meu mundo,
que me parece muito supérfluo
ou pouco profundo
quando não te consigo encontrar.
Sunday, April 11, 2010
Olhar lilás para as coisas
Onde estás tu?
Tanto tempo passou desde que te vi
a tomar chá no café da esquina.
Imagina que tenho passado lá!
Já era de prever, eu sei
que sabes o meu jeito
imperfeito, eu sei, eu sei, mas
imaginei ver-te no domingo.
Dia bonito, hã, este dia de Primavera
A cada dia que passa desinvernam-se os tempos
os tormentos, e também se encerra
uma estação.
Está-me a aquecer o coração
de ver as flores florir
faz-me viver, faz-me feliz,
faz-me escutar aquela canção
dos meus tempos de infância.
Ai, a reminiscência do agir
traz-me tão mais que poesia,
tão, tão mais que poesia,
alegria.
Tanto tempo passou desde que te vi
a tomar chá no café da esquina.
Imagina que tenho passado lá!
Já era de prever, eu sei
que sabes o meu jeito
imperfeito, eu sei, eu sei, mas
imaginei ver-te no domingo.
Dia bonito, hã, este dia de Primavera
A cada dia que passa desinvernam-se os tempos
os tormentos, e também se encerra
uma estação.
Está-me a aquecer o coração
de ver as flores florir
faz-me viver, faz-me feliz,
faz-me escutar aquela canção
dos meus tempos de infância.
Ai, a reminiscência do agir
traz-me tão mais que poesia,
tão, tão mais que poesia,
alegria.
Friday, April 09, 2010
it's that mood indigo (indagando)
Conta-me das tuas histórias,
daquelas que ficaram para trás
e das outras que estão por vir
Fala-me das tuas memórias
mais antigas, e das outras,
e trauteia canções que gostes de ouvir.
Diz-me aqui, baixinho,
qual é a tua cor favorita?
É aquela que tens no sorriso
que trazes contigo?
Ai! Fala-me, fala-me das mudanças,
das tuas mudanças e das tuas esperanças
daquilo que te move, que te muda,
daquilo que sabes e te aturda
o pensamento!
Qual foi o momento
mais especial da tua vida?
O que guardas aí, nessa sacola,
que trazes ao ombro, meia aberta,
olha que ainda te é descoberta
a graça. É que até me embaraça
o teu encantamento.
Qual foi o momento
mais engraçado do teu dia?
Fala-me do teu sonho, da tua fome,
da utopia que trazes nos olhos,
para ver o mundo assim.
É que, às vezes, a mim,
a coisa cega e eu perco-me.
O que é que te prende à Terra?
O que é que te traz aqui, agora,
que não trouxe mais cedo, e demora
a ser dito? O que é que achas bonito?
daquelas que ficaram para trás
e das outras que estão por vir
Fala-me das tuas memórias
mais antigas, e das outras,
e trauteia canções que gostes de ouvir.
Diz-me aqui, baixinho,
qual é a tua cor favorita?
É aquela que tens no sorriso
que trazes contigo?
Ai! Fala-me, fala-me das mudanças,
das tuas mudanças e das tuas esperanças
daquilo que te move, que te muda,
daquilo que sabes e te aturda
o pensamento!
Qual foi o momento
mais especial da tua vida?
O que guardas aí, nessa sacola,
que trazes ao ombro, meia aberta,
olha que ainda te é descoberta
a graça. É que até me embaraça
o teu encantamento.
Qual foi o momento
mais engraçado do teu dia?
Fala-me do teu sonho, da tua fome,
da utopia que trazes nos olhos,
para ver o mundo assim.
É que, às vezes, a mim,
a coisa cega e eu perco-me.
O que é que te prende à Terra?
O que é que te traz aqui, agora,
que não trouxe mais cedo, e demora
a ser dito? O que é que achas bonito?
Thursday, April 08, 2010
Wednesday, April 07, 2010
"Em 77 todos se drogavam"
O título não é meu, mas valeu a pena roubar.
Especial atenção nos segundos 0:30 e 1:47. E, já agora, reparem como a música encaixa nas situações a ponto de ser - quase - assustador.
Espero que se riam tanto quanto eu me ri.
Especial atenção nos segundos 0:30 e 1:47. E, já agora, reparem como a música encaixa nas situações a ponto de ser - quase - assustador.
Espero que se riam tanto quanto eu me ri.
Tuesday, April 06, 2010
Perco (tudo sempre no auge)
Será o momento que desertou
maior no pensamento
que na realidade? Ou fora
assim tão enorme como me parece
agora? Foi verdade?
Foi, ou é, ou o que se passa,
como se traça o mundo
entretanto,
enquanto não estou contigo,
enquanto revejo tanto?
É sonho? Ou é pesadelo?
maior no pensamento
que na realidade? Ou fora
assim tão enorme como me parece
agora? Foi verdade?
Foi, ou é, ou o que se passa,
como se traça o mundo
entretanto,
enquanto não estou contigo,
enquanto revejo tanto?
É sonho? Ou é pesadelo?
Thursday, March 18, 2010
Pra não dizer que não falei das flores
Vem, vamos embora
que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
não espera acontecer
que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
não espera acontecer
Tuesday, March 16, 2010
Veio com um gigante sorriso amarelo
O telefone está a tocar
(e tenho medo que pare)
Xiuuu, sossegadinho, coração,
a menina vem já e vem pela mão
da Aurora,
que faz tempo, e é hora,
de cantar!
"Sei bem que esperaste por mim,
desculpa a demora. Cá estou,
vim de aonde me levou
a estranheza. Mas vagou,
e resta espaço à incerteza,
e quero brincar.
No parque, achas que ainda
há lá lugar para mais um?
É que estou em jejum
até de pular!
Hoje sei que os meninos
do parque
me estão a chamar. Às
vezes
tenho vergonha. Mas a timidez
é medo de
amar.
Então vamos, e deixa-me lá,
amedrontada
e
arrebatada,
pela luz dos sorrisos que
não pára de
me apaixonar."
(e tenho medo que pare)
Xiuuu, sossegadinho, coração,
a menina vem já e vem pela mão
da Aurora,
que faz tempo, e é hora,
de cantar!
"Sei bem que esperaste por mim,
desculpa a demora. Cá estou,
vim de aonde me levou
a estranheza. Mas vagou,
e resta espaço à incerteza,
e quero brincar.
No parque, achas que ainda
há lá lugar para mais um?
É que estou em jejum
até de pular!
Hoje sei que os meninos
do parque
me estão a chamar. Às
vezes
tenho vergonha. Mas a timidez
é medo de
amar.
Então vamos, e deixa-me lá,
amedrontada
e
arrebatada,
pela luz dos sorrisos que
não pára de
me apaixonar."
Saturday, February 13, 2010
carta a um amigo
há dias perguntaram-me
porque deixara de escrever.
gostei do breve reparo
e, sem mais amparo,
apresso-me a responder:
D,
escrevo pelo motivo.
Pelo motivo do canto,
da dedicatória,
do escrever, ou da memória,
ou do antever.
escrevo com gosto, com vontade,
escrevo com alguma verdade
e com algum querer.
não sou bem eu quem me traz,
sou mais eu quem se desfaz,
pelas palavras.
requebro-me, perco-me nelas,
aprendo-as e traduzo-as.
Escrever não é pois passatempo
é obrigação do tempo
que corre.
E se não escrevi, sabe,
foi pelo motivo.
Não tendo motivo não tenho comigo
as palavras, que me têm a mim.
é do sono que se apossou,
uma matéria sublime e decrépita,
que me cega, me aturda, me surda,
deixando-me apaticamente muda.
Se não escrevi não foi por falta de tempo,
foi por tempo a mais, tempo estranho,
daquele onde não me revejo
nem em frente ao espelho.
Mas, amigo D.,
obrigada pelo reparo,
e olá uma outra vez.
Terá sido daí que voltei?
Talvez.
Mas prefiro acreditar que não,
desculpa,
é que se aqui há culpa
deixa-me matá-la sozinha.
É o tal sono, sabes?
Aquele de que falo às vezes,
mas estou a mandá-lo embora.
Motivos.
É o caminho que constrói a fortuna
e é dele que vivemos,
embora por vezes nos apartemos,
até mesmo do ser, ou do ideal,
ou das motivações.
Quis que soubesses, amigo D.,
que para além de escrever para ti
escrevo por ti, por mim, para mim.
Escrevo para a vida, para a escrita,
para as metamorfoses e para a memória
para as motivações, para a beleza,
para aquilo que aconteça
com este pedaço de história.
Ainda que seja pouco, será para quem quiser.
E, entretanto,
amanheceu.
porque deixara de escrever.
gostei do breve reparo
e, sem mais amparo,
apresso-me a responder:
D,
escrevo pelo motivo.
Pelo motivo do canto,
da dedicatória,
do escrever, ou da memória,
ou do antever.
escrevo com gosto, com vontade,
escrevo com alguma verdade
e com algum querer.
não sou bem eu quem me traz,
sou mais eu quem se desfaz,
pelas palavras.
requebro-me, perco-me nelas,
aprendo-as e traduzo-as.
Escrever não é pois passatempo
é obrigação do tempo
que corre.
E se não escrevi, sabe,
foi pelo motivo.
Não tendo motivo não tenho comigo
as palavras, que me têm a mim.
é do sono que se apossou,
uma matéria sublime e decrépita,
que me cega, me aturda, me surda,
deixando-me apaticamente muda.
Se não escrevi não foi por falta de tempo,
foi por tempo a mais, tempo estranho,
daquele onde não me revejo
nem em frente ao espelho.
Mas, amigo D.,
obrigada pelo reparo,
e olá uma outra vez.
Terá sido daí que voltei?
Talvez.
Mas prefiro acreditar que não,
desculpa,
é que se aqui há culpa
deixa-me matá-la sozinha.
É o tal sono, sabes?
Aquele de que falo às vezes,
mas estou a mandá-lo embora.
Motivos.
É o caminho que constrói a fortuna
e é dele que vivemos,
embora por vezes nos apartemos,
até mesmo do ser, ou do ideal,
ou das motivações.
Quis que soubesses, amigo D.,
que para além de escrever para ti
escrevo por ti, por mim, para mim.
Escrevo para a vida, para a escrita,
para as metamorfoses e para a memória
para as motivações, para a beleza,
para aquilo que aconteça
com este pedaço de história.
Ainda que seja pouco, será para quem quiser.
E, entretanto,
amanheceu.
grito às aranhas
Sete. Sete da manhã que sabem a noite
e é noite, está escuro lá fora.
Onde pára a aurora?
Configurei o meu olhar com limites de moldura pitoresca
e quero voltar a ver o mundo às corezinhas
mas está-me a custar.
sabem, estou a chorar.
talvez seja deste sono
imundo
este sono profundo
que se estende
pelo corpo
pela sede
pelo desejo
ai! se soubesses como prevejo
os dias anteriores a mim!
eu sei, eu sei que vou voltar,
digo-o repetidamente
digo
digo
digo
digo esperançosamente
que só a posso deixar morrer
depois de mim.
às vezez de que vale a pena viver
se não por capricho dos outros?
não tenhais pena,
não sou vítima,
mas às vezes,
nestas vezes,
a dor é tão íntima
que não dá para entender.
discorro.
não me levem muito a sério,
eu não me levo muito a sério,
talvez o problema seja esse.
mas não me entristece,
triste é a apatia
que se apossou de mim.
mas na selvajadaria das ramificações
eu sei que serei mais forte
é a mente
é o brio
é a sorte
é o canto em magote
que repito assim assim.
vou dormir, eventualmente,
e será em breve, garanto.
vim só discorrer este pranto
que quis sair, fugir assim,
depressa e em espanto.
é sinal que sobrevive num recanto
aquilo que me aquece
e num breve sopro reaparece
relembrando-me de mim.
vou dormir.
quando acordar, virei pé ante pé,
devagarinho, com algum cuidado,
que o sono ficará adormecido
demente, podre, entorpecido,
esquecido, seco e vago.
e é noite, está escuro lá fora.
Onde pára a aurora?
Configurei o meu olhar com limites de moldura pitoresca
e quero voltar a ver o mundo às corezinhas
mas está-me a custar.
sabem, estou a chorar.
talvez seja deste sono
imundo
este sono profundo
que se estende
pelo corpo
pela sede
pelo desejo
ai! se soubesses como prevejo
os dias anteriores a mim!
eu sei, eu sei que vou voltar,
digo-o repetidamente
digo
digo
digo
digo esperançosamente
que só a posso deixar morrer
depois de mim.
às vezez de que vale a pena viver
se não por capricho dos outros?
não tenhais pena,
não sou vítima,
mas às vezes,
nestas vezes,
a dor é tão íntima
que não dá para entender.
discorro.
não me levem muito a sério,
eu não me levo muito a sério,
talvez o problema seja esse.
mas não me entristece,
triste é a apatia
que se apossou de mim.
mas na selvajadaria das ramificações
eu sei que serei mais forte
é a mente
é o brio
é a sorte
é o canto em magote
que repito assim assim.
vou dormir, eventualmente,
e será em breve, garanto.
vim só discorrer este pranto
que quis sair, fugir assim,
depressa e em espanto.
é sinal que sobrevive num recanto
aquilo que me aquece
e num breve sopro reaparece
relembrando-me de mim.
vou dormir.
quando acordar, virei pé ante pé,
devagarinho, com algum cuidado,
que o sono ficará adormecido
demente, podre, entorpecido,
esquecido, seco e vago.
Friday, January 29, 2010
Tuesday, December 29, 2009
Corda
Há uma corda que me prende
os membros
e não me está a deixar fugir.
Então fico, na apatia,
na dor da apatia,
e estando a sorrir,
não estou
nem estou,
não me deixa partir.
Estado ou ser?
Não sei.
Nem sei se é dor
se é recorte de caminho.
seja como for
sei que tenho de me compor
sei que quero ficar sozinho.
Tenho um isqueiro na mão,
(tenho mesmo!)
Mas não tenho a força para fazer arder
a corda
que me está a prender.
Acendo um cigarro, e outro,
tudo fácil,
tudo que é fácil,
eu faço por fazer.
Bebo a água, que traz o trago amargo
de um limão,
e não lhe ponho açúcar.
Sozinho, quero ficar sozinho,
Sozinho porque livre de pensamento.
É que se estiveres tu no sonho
estou atado na corda,
na apatia, no medonho,
que é estar preso em mim próprio
sem estar, no entanto,
propriamente em mim.
F.
os membros
e não me está a deixar fugir.
Então fico, na apatia,
na dor da apatia,
e estando a sorrir,
não estou
nem estou,
não me deixa partir.
Estado ou ser?
Não sei.
Nem sei se é dor
se é recorte de caminho.
seja como for
sei que tenho de me compor
sei que quero ficar sozinho.
Tenho um isqueiro na mão,
(tenho mesmo!)
Mas não tenho a força para fazer arder
a corda
que me está a prender.
Acendo um cigarro, e outro,
tudo fácil,
tudo que é fácil,
eu faço por fazer.
Bebo a água, que traz o trago amargo
de um limão,
e não lhe ponho açúcar.
Sozinho, quero ficar sozinho,
Sozinho porque livre de pensamento.
É que se estiveres tu no sonho
estou atado na corda,
na apatia, no medonho,
que é estar preso em mim próprio
sem estar, no entanto,
propriamente em mim.
F.
Wednesday, December 23, 2009
Osklen SPFW 2009
E digam o que disserem, venha o que vier, esta será sempre uma das minhas marcas de eleição.
Sunday, December 20, 2009
carta 2
O que é escrito, escrito está,
E fica, fica, fica, fica...
Ainda que as luzes digam adeus.
Mas olha, assim como assim,
Pode ser que não chegue quem leia
Já que todos têm que fazer.
É que se há coisa que chateia
É meter-se em vida alheia
Sem ter muito que dizer.
É a coisa do remetente, já disse,
E não se quer enviar cartas erradas.
É que há uns a quem chegam certeiras,
Perfurando-os como espadas,
Mudando histórias inteiras.
"Ai, desculpa, não era para ti!"
Tarde demais.
É que a escrita fica, fica, fica...
E não fica para ti.
Fica para todos, aqui, ou ali,
Fica para quem quiser ler.
E quem lê chega à cova dos lobos
Que muitas vezes descobre
O que nem tem que saber.
Fechemos então os olhos.
Digamos adeus à claridade.
Silêncio. Ouvir. Sentidos.
Já que tão pouco do mundo é verdade.
E fica, fica, fica, fica...
Ainda que as luzes digam adeus.
Mas olha, assim como assim,
Pode ser que não chegue quem leia
Já que todos têm que fazer.
É que se há coisa que chateia
É meter-se em vida alheia
Sem ter muito que dizer.
É a coisa do remetente, já disse,
E não se quer enviar cartas erradas.
É que há uns a quem chegam certeiras,
Perfurando-os como espadas,
Mudando histórias inteiras.
"Ai, desculpa, não era para ti!"
Tarde demais.
É que a escrita fica, fica, fica...
E não fica para ti.
Fica para todos, aqui, ou ali,
Fica para quem quiser ler.
E quem lê chega à cova dos lobos
Que muitas vezes descobre
O que nem tem que saber.
Fechemos então os olhos.
Digamos adeus à claridade.
Silêncio. Ouvir. Sentidos.
Já que tão pouco do mundo é verdade.
Friday, December 18, 2009
Canção da esperança
O mundo faz-me rir.
Se porque tropeço ou meço mal os passos
O mundo traz-me rir.
Por quanto de sol há lá fora
E por quanto brilha na aurora
O mundo deixa-me rir.
E se eu caiu nos enganos,
Redondamente,
Reparo, se a memória não mente,
Que por cada vez que remedeio os panos
Cresço outros vinte anos
E rio perdidamente.
Se porque tropeço ou meço mal os passos
O mundo traz-me rir.
Por quanto de sol há lá fora
E por quanto brilha na aurora
O mundo deixa-me rir.
E se eu caiu nos enganos,
Redondamente,
Reparo, se a memória não mente,
Que por cada vez que remedeio os panos
Cresço outros vinte anos
E rio perdidamente.
Sunday, December 13, 2009
sonho 2
Hoje trazias as calças velhas,
Disseste que querias correr à chuva.
Mas o que é que te deu?
Ainda ontem um amigo meu
Me lembrou que é Dezembro
E está frio, homem!
Disseste que querias correr à chuva.
Mas o que é que te deu?
Ainda ontem um amigo meu
Me lembrou que é Dezembro
E está frio, homem!
Discurso da gerbera amarela
Há uma flor de que eu gosto, e é a gerbera. De todas as cores que pode ter, prefiro vê-la amarela.
Às vezes vendem gerberas à porta de minha casa, na Avenida 22 de Dezembro, e quando as compro é para oferecer à minha mãe, que gosta de flores amarelas.
A gerbera tem um caule comprido e muitas pétalas, fininhas. O centro é mais escuro que elas, geralmente. Quando as pétalas são amarelas, o centro é castanho e parece peludo. Às vezes faço-lhe festinhas. É, literalmente, fofinho.
Eu gosto de gerberas. Elas comunicam comigo quase naturalmente - confesso que nos esquecemos das questões de mediação e de interditos quando estamos juntas - e com uma linguagem muito simples. Eu olho para ela, e ela fica. Gosto de a contemplar e às vezes consegue transmitir-me a calma que a caracteriza. É giro.
Eu gosto de gerberas. Gosto especialmente das amarelas, que me lembram a minha mãe - eu gosto da minha mãe. Brilham muito e chegam a parecer sóis. Quando as ofereço à minha mãe e ela sorri também parece um sol.
Eu gosto de gerberas. Devia haver mais canteiros pelo mundo fora. Nos passeios, entre as pedrinhas, gostava que crescessem gerberas. Assim podia, de vez em quando, trazer uma flor no cabelo. Então se fosse amarela é que era! É que eu gosto da cor, e é até a cor do meu cabelo.
Às vezes vendem gerberas à porta de minha casa, na Avenida 22 de Dezembro, e quando as compro é para oferecer à minha mãe, que gosta de flores amarelas.
A gerbera tem um caule comprido e muitas pétalas, fininhas. O centro é mais escuro que elas, geralmente. Quando as pétalas são amarelas, o centro é castanho e parece peludo. Às vezes faço-lhe festinhas. É, literalmente, fofinho.
Eu gosto de gerberas. Elas comunicam comigo quase naturalmente - confesso que nos esquecemos das questões de mediação e de interditos quando estamos juntas - e com uma linguagem muito simples. Eu olho para ela, e ela fica. Gosto de a contemplar e às vezes consegue transmitir-me a calma que a caracteriza. É giro.
Eu gosto de gerberas. Gosto especialmente das amarelas, que me lembram a minha mãe - eu gosto da minha mãe. Brilham muito e chegam a parecer sóis. Quando as ofereço à minha mãe e ela sorri também parece um sol.
Eu gosto de gerberas. Devia haver mais canteiros pelo mundo fora. Nos passeios, entre as pedrinhas, gostava que crescessem gerberas. Assim podia, de vez em quando, trazer uma flor no cabelo. Então se fosse amarela é que era! É que eu gosto da cor, e é até a cor do meu cabelo.
Monday, December 07, 2009
sonho 1
Sempre quiseste saber o canto dos pássaros,
Rapazinho da viola!
Achavas mesmo que ias voar?
Tua mãe não te deu asas,
e eu que até chilreio
também não tas sei dar!
Rapazinho da viola!
Achavas mesmo que ias voar?
Tua mãe não te deu asas,
e eu que até chilreio
também não tas sei dar!
Pim pam pum
,cada bala mata um
Lá em cima do Huambo
Tem um copo com veneno
Quem bebeu
morreu
Pim pam pum, cada bala mata um
Lá em cima do Huambo
Tem um copo com veneno
Quem bebeu
morreu
Quiribi, quiribi macaco
Macaco que é boa
Lá em cima do Huambo
Tem um copo com veneno
Quem bebeu
morreu
Pim pam pum, cada bala mata um
Lá em cima do Huambo
Tem um copo com veneno
Quem bebeu
morreu
Quiribi, quiribi macaco
Macaco que é boa
Monday, November 23, 2009
carta
Convencionado está que a carta seja um pedaço de papel no qual se podem inscrever letras que, formando palavras (numa determinada língua), constituam uma mensagem que se pretende enviar de uma entidade a outra, materializadas num remetente e num destinatário. A carta é, portanto, um meio através do qual um interlocutor se pronuncia, na sua própria ausência, a um determinado alguém. Visto a distância latente neste processo de comunicação, inevitável, percebe-se que a relação que entre os dois se estabelece é indirecta. De qualquer modo, todo o tipo de diálogo é uma comunicação indirecta, uma vez que a linguagem representa a materialização das ideias, primariamente formadas no pensamento. A comunicação é, portanto, um meio de exteriorização, e não é possível que o seja de outra maneira. A distância nunca é verdadeiramente anulada. Idealmente, tal só poderia concretizar-se através da telepatia, onde um sujeito poderia transmitir a outro aquilo que realmente pensava, mas tal não parece verificar-se. Voltando à questão da carta, e de uma outra perspectiva, menos formal, pode entender-se que o diálogo por ela estabelecido é ilusório, visto que as duas partes estão fisicamente ausentes. Para além da necessidade da exteriorização e consequente materialização dos pensamentos, o indivíduo ainda perde a imediaticidade que o processo anteriormente indicado acarreta e não pode agir sobre as suas ideias. Segundo Kafka, o que é enviado pela carta é então assombrado por fantasmas que se apoderam das acções contidas nas palavras, praticando-as, vivendo delas. Um beijo escrito é bebido pelos fantasmas, como se tal se tratasse de um néctar de juventude, que continuamente os mantém vivos. Logo, um beijo escrito pouco mais é que isso mesmo, visto que não se materializa num beijo. Apesar de tudo, um beijo escrito pode resultar num aquecer da alma, num toque de carinho. Isto se a mensagem for entregue à pessoa certa, se chegar num momento oportuno, se causar “no destinatário” a sensação que o remetente pretende. Voltando à metáfora dos fantasmas, isto acontecerá se, por caso de uma excepção à regra, a carta conseguir resistir, pelo menos um pouco mais, às mãos de tais sedentas espécies. Neste sentido, ou nestas excepções, as cartas são verdadeiras formas de expressão da alma.
A propósito de cartas, é curiosa a forma como por aí se pede que “não se bata no mensageiro” – visto ser um “simples” transportador, que nada terá a ver com a mensagem a ser enviada. No entanto, e de salientar, é fulcral o papel que tem o mensageiro que, no cumprimento da sua função, permite a conclusão do sentido da carta, ao fazê-la chegar à pessoa destinada. Quando uma carta se perde, ou chega às “mãos erradas”, não deixa de ser, formalmente, uma carta. Mas o sentido verdadeiro da carta perde-se, voltando a ser apenas a matéria que a formou: um pedaço de papel, as letras inscritas, o envelope. Há, claramente, diferença entre uma carta que chega ao destinatário e outra que não o faz, como existe diferença entre o estar e o ser. Uma mensagem que chega verdadeiramente ao destino transporta uma mensagem que existe, existindo para alguém. Na que fica pelo caminho está uma mensagem que nunca o chega a ser, na sua plenitude, visto que não cumpre a sua função. A carta que não chega ao seu destino é uma falsa carta, pois que só poderá ter no receptor um de dois efeitos: ou servirá para motivos terceiros, alheios à carta em si (como, por exemplo, para fazer chantagem), ou provocar-lhe-á, no seu expoente máximo, o pleno sentimento de indiferença.
No conto “A Carta Roubada”, de Edgar Allan Poe, são duas as cartas que captam particularmente a atenção do leitor; uma que no início da peripécia é roubada (à pessoa a quem fora enviada, por parte de Ministro D.) e uma outra que Dupin escreve para substituir – aparentemente – a primeira. A carta que é roubada, é-lo por motivos de um terceiro que, ao tê-la em sua posse, ganha algum poder sobre um outro personagem. O conto gira pois em torno das buscas que são feitas no sentido de a encontrar e devolver ao seu verdadeiro destinatário. Cedo se percebe que a carta fora perspicazmente escondida (visto que todas as buscas efectuadas na casa de Ministro D., por parte do perfeito, são infrutíferas). Dupin, de uma forma imprevisível. por aqui infere – e por alguns outros detalhes que lhe são fornecidos pelo perfeito – que o único sítio onde a carta poderá estar será mesmo nos aposentos do - já certo – ladrão, mas, se não escondida, à vista de todos. Como tal, dirige-se ao local em questão e, confirmada a sua suposição, troca a carta roubada/procurada por uma outra. A forma desta segunda carta é semelhante à primeira – para que o ladrão não se aperceba prontamente do sucedido. Mas não só; também o é para que o Ministro D. só a leia num determinado momento: quando desconfiar que a carta que tem na sua posse não é já a carta que tinha. E quando, por via da dúvida, o Ministro D. ler a carta que Dupin lhe deixou, lerá uma mensagem que, inscrita num pedaço de papel, através de letras que, lá inscritas, formam palavras, estará destinada a ele próprio. O remetente, conhecê-lo-á pela caligrafia. No caso, será uma verdadeira carta.
Ainda que minada pelos fantasmas que sempre se apossam das cartas, pois que quem as escreve está ausente no momento da sua leitura por parte do destinatário, esta carta consegue, de certa forma, ser a excepção à regra. Isto porque é bem provável esta carta, apesar da sua limitação física, mexa verdadeiramente com os sentimentos da pessoa a quem se destina, o Ministro D. Citando Kafka, “No entanto, se é uma ilusão, é de qualquer modo perfeita”. Como se, de alguma forma, a carta substituísse perfeitamente a presença de Dupin e a ameaça que essa presença significa.
A propósito de cartas, é curiosa a forma como por aí se pede que “não se bata no mensageiro” – visto ser um “simples” transportador, que nada terá a ver com a mensagem a ser enviada. No entanto, e de salientar, é fulcral o papel que tem o mensageiro que, no cumprimento da sua função, permite a conclusão do sentido da carta, ao fazê-la chegar à pessoa destinada. Quando uma carta se perde, ou chega às “mãos erradas”, não deixa de ser, formalmente, uma carta. Mas o sentido verdadeiro da carta perde-se, voltando a ser apenas a matéria que a formou: um pedaço de papel, as letras inscritas, o envelope. Há, claramente, diferença entre uma carta que chega ao destinatário e outra que não o faz, como existe diferença entre o estar e o ser. Uma mensagem que chega verdadeiramente ao destino transporta uma mensagem que existe, existindo para alguém. Na que fica pelo caminho está uma mensagem que nunca o chega a ser, na sua plenitude, visto que não cumpre a sua função. A carta que não chega ao seu destino é uma falsa carta, pois que só poderá ter no receptor um de dois efeitos: ou servirá para motivos terceiros, alheios à carta em si (como, por exemplo, para fazer chantagem), ou provocar-lhe-á, no seu expoente máximo, o pleno sentimento de indiferença.
No conto “A Carta Roubada”, de Edgar Allan Poe, são duas as cartas que captam particularmente a atenção do leitor; uma que no início da peripécia é roubada (à pessoa a quem fora enviada, por parte de Ministro D.) e uma outra que Dupin escreve para substituir – aparentemente – a primeira. A carta que é roubada, é-lo por motivos de um terceiro que, ao tê-la em sua posse, ganha algum poder sobre um outro personagem. O conto gira pois em torno das buscas que são feitas no sentido de a encontrar e devolver ao seu verdadeiro destinatário. Cedo se percebe que a carta fora perspicazmente escondida (visto que todas as buscas efectuadas na casa de Ministro D., por parte do perfeito, são infrutíferas). Dupin, de uma forma imprevisível. por aqui infere – e por alguns outros detalhes que lhe são fornecidos pelo perfeito – que o único sítio onde a carta poderá estar será mesmo nos aposentos do - já certo – ladrão, mas, se não escondida, à vista de todos. Como tal, dirige-se ao local em questão e, confirmada a sua suposição, troca a carta roubada/procurada por uma outra. A forma desta segunda carta é semelhante à primeira – para que o ladrão não se aperceba prontamente do sucedido. Mas não só; também o é para que o Ministro D. só a leia num determinado momento: quando desconfiar que a carta que tem na sua posse não é já a carta que tinha. E quando, por via da dúvida, o Ministro D. ler a carta que Dupin lhe deixou, lerá uma mensagem que, inscrita num pedaço de papel, através de letras que, lá inscritas, formam palavras, estará destinada a ele próprio. O remetente, conhecê-lo-á pela caligrafia. No caso, será uma verdadeira carta.
Ainda que minada pelos fantasmas que sempre se apossam das cartas, pois que quem as escreve está ausente no momento da sua leitura por parte do destinatário, esta carta consegue, de certa forma, ser a excepção à regra. Isto porque é bem provável esta carta, apesar da sua limitação física, mexa verdadeiramente com os sentimentos da pessoa a quem se destina, o Ministro D. Citando Kafka, “No entanto, se é uma ilusão, é de qualquer modo perfeita”. Como se, de alguma forma, a carta substituísse perfeitamente a presença de Dupin e a ameaça que essa presença significa.
Friday, November 20, 2009
De novo, nua. Despida e exposta, as minhas verdades são os meus textos, as minhas mentiras são os meus silêncios. Não consigo calar esta voz que fala por mim, que me conhece melhor que eu e me expõe. Ainda que eu cale a boca, a voz há-de sair por mim.
Os caminhos arbustescos não são tão lineares assim, e se a madeira cede não significa que eu caia mesmo. Tudo é em exagero, ou em brutidade. E levantar-me não implica que tenha magoado os joelhos, só que os sujei e vou limpá-los, mas até gosto de tomar banho.
Os caminhos arbustescos não são tão lineares assim, e se a madeira cede não significa que eu caia mesmo. Tudo é em exagero, ou em brutidade. E levantar-me não implica que tenha magoado os joelhos, só que os sujei e vou limpá-los, mas até gosto de tomar banho.
Thursday, November 19, 2009
Sunday, November 15, 2009
Saturday, November 14, 2009
traço
Eu não acredito mais em ti.
Porque se disse nunca, e nunca o será,
Mentira fora desde o tempo em que expectava.
Ou até esse tempo, bendito sejas,
olvido a morte da esperança,
Que onde quer que tu estejas
aqui manténs pequena herança.
Serás tu, ou serei eu,
ou seremos nós o luar.
Se o Sol não brilhar,
(ainda que apartados)
Será pelo eclipse.
Quer queiras,quer não,
Sabes que o tempo espera
Onde não espera a certeza,
Que a apatia é a revolta da indiferença.
Que seja a revelia a presença da ideia
embora macaca que não se penteia,
Que estarás perto, ainda que pelo fantasma.
Fantasma? Fantasma da carta?
É o velho súbdito do ser que prevalece
Onde o morto se esquece
Mesmo que existe.
Pois que a dor persista,
Já que a emoção não é mais que detalhe da hora.
Embora pareça que demora,
Não é mais que o segundo.
Ficas, estás, no fundo,
No meio desse pirinéu,
Tamanho seja o submundo,
Que se é o teu mundo
Quisera que fosse meu.
Odeio gostar assim.
Odeio gostar (de ti) assim. (mas eu sei que gostas de mim)
Porque se disse nunca, e nunca o será,
Mentira fora desde o tempo em que expectava.
Ou até esse tempo, bendito sejas,
olvido a morte da esperança,
Que onde quer que tu estejas
aqui manténs pequena herança.
Serás tu, ou serei eu,
ou seremos nós o luar.
Se o Sol não brilhar,
(ainda que apartados)
Será pelo eclipse.
Quer queiras,quer não,
Sabes que o tempo espera
Onde não espera a certeza,
Que a apatia é a revolta da indiferença.
Que seja a revelia a presença da ideia
embora macaca que não se penteia,
Que estarás perto, ainda que pelo fantasma.
Fantasma? Fantasma da carta?
É o velho súbdito do ser que prevalece
Onde o morto se esquece
Mesmo que existe.
Pois que a dor persista,
Já que a emoção não é mais que detalhe da hora.
Embora pareça que demora,
Não é mais que o segundo.
Ficas, estás, no fundo,
No meio desse pirinéu,
Tamanho seja o submundo,
Que se é o teu mundo
Quisera que fosse meu.
Odeio gostar assim.
Odeio gostar (de ti) assim. (mas eu sei que gostas de mim)
Monday, October 26, 2009
Wednesday, October 21, 2009
Bicho
Tenho um bicho por dentro
Que me está a comer.
Caramba! Queria-o fora
Fora daqui,
Que me corrói, de fora e no centro,
Juro que é um tormento
E está-me a endoidecer.
Isto é...
Desde a aurora, que se faz escurecer.
É um bicho feroz, ofensivo,
Sai-se por meio das entranhas,
E vem-se, cheio de manhas,
Dizendo-me coisas estranhas
Que não consigo entender.
Só o consigo é sentir
Que ele não fala,
mas faz-se ouvir.
Odeio-o. Odeio-o na substância
Como se odeia a chuva num vendaval.
Não pertence! Não tem de estar
Mas está, na inevitabilidade da presença.
Eis odiável e odiosa pertença
Pois a dor é minha e dói tanto
Que é doença.
Que me está a comer.
Caramba! Queria-o fora
Fora daqui,
Que me corrói, de fora e no centro,
Juro que é um tormento
E está-me a endoidecer.
Isto é...
Desde a aurora, que se faz escurecer.
É um bicho feroz, ofensivo,
Sai-se por meio das entranhas,
E vem-se, cheio de manhas,
Dizendo-me coisas estranhas
Que não consigo entender.
Só o consigo é sentir
Que ele não fala,
mas faz-se ouvir.
Odeio-o. Odeio-o na substância
Como se odeia a chuva num vendaval.
Não pertence! Não tem de estar
Mas está, na inevitabilidade da presença.
Eis odiável e odiosa pertença
Pois a dor é minha e dói tanto
Que é doença.
Tuesday, October 13, 2009
Ali
Grito por nós, pois que posso,
Pois que trago em mim cantar,
Grito, canto, rio e troço,
(Só dos outros que não cantam),
Pois eu canto até chorar.
E cantaremos os dois, por aí fora.
As flores, colhê-las-emos pela manhã,
Esquecendo-se-nos então as bocas de gritar.
O silêncio aí será merecido
Terá já o grito vencido
E o olhar também gosta de falar.
E correremos os dois, p'lo campo fora,
Descalços, queira-nos a relva receber,
Nessa corrida que se faz por aí fora
Onde o tempo esqueceu a hora
E demora a escurecer.
Até já, meu amor.
Pois que trago em mim cantar,
Grito, canto, rio e troço,
(Só dos outros que não cantam),
Pois eu canto até chorar.
E cantaremos os dois, por aí fora.
As flores, colhê-las-emos pela manhã,
Esquecendo-se-nos então as bocas de gritar.
O silêncio aí será merecido
Terá já o grito vencido
E o olhar também gosta de falar.
E correremos os dois, p'lo campo fora,
Descalços, queira-nos a relva receber,
Nessa corrida que se faz por aí fora
Onde o tempo esqueceu a hora
E demora a escurecer.
Até já, meu amor.
Monday, September 14, 2009
um
Eu acho que 1 + 1 = 1
porque sou gente das humanidades, como o povo gosta de dizer, e sei pouco de números.
mais sei de poesia.
e nela, 1+1
...
porque sou gente das humanidades, como o povo gosta de dizer, e sei pouco de números.
mais sei de poesia.
e nela, 1+1
...
Monday, August 24, 2009
Sunday, July 26, 2009
viagem de autocarro
- Sabe, o marido da outra, aquela, do cabelo loiro e comprido - que, se me permite dizer, acho que lhe cai terrivelmente com as maçãs de rosto - vi-o eu há dias naquele bar. Euzinha. Estava por lá, bêbado, caído, despejado e despojado de adornos. Só a silhueta dele próprio. Que figura triste.
- Ai (!) não me diga! Eu, que até tenho andado por lá, nunca por lá o vi. Mas também lhe digo que se o visse, não faria caso! Ora onde já se viu, aquilo que fez à outra!
- Ai pois foi! Se fosse comigo, não mais lhe falava! Olhe olhe! O que é aquilo ali?
- Ah, um carro numa valeta!
- Pois é! Como é que terá ido lá parar?
- (risos)
- (risos do motorista)
- De certeza que alguém o pôs por lá!
- Que coisa mais estranha!
- Filha, estás a ver aquilo ali? Foi precisamente naquele sítio que duas pessoas me ajudaram a trazer o carro que um dia lá deixei meio enterrado. O piso é lamacento, olha, ia-me ficando com o carro! Lembras-te filha? Lembras?
- Só neste país! Coisa de malucos!
- Mas você acha mesmo que foi alguém que o pôs lá?
- Ora com certeza! Ninguém a conduzir conseguia pô-lo assim daquela forma!
- A menos que voasse o carro!
- (risos)
- Nunca se sabe!
- (intervenção do motorista)
- Filha, lembras-te ou não? Estás a ouvir?
- Sim.
- Ora bolas. Às vezes consegues ser tão má. Custava alguma coisa responder? Mas lembras-te mesmo? Lembras-te?
- Então mas conte lá, como é que vai isso, essas férias?
- Olhe, vou aqui, vou ali, batati, batatá, Angola e agora vim da praia.
- Ah! Carneiros? Bolas de mel e Curitiba. Também gosto muito do Brasil.
- Não me diga! É coisa que adoro adoro adoro!
- Lembras-te ou queres-me só fazer a vontade? Fúria, banas e maçãs da pele. Sabes bem que gosto que me respondas? Filha, amor.
de quase todas as vezes falam para ti, mas não falam contigo (?)
também gosto de ti, Mãe.
- Ai (!) não me diga! Eu, que até tenho andado por lá, nunca por lá o vi. Mas também lhe digo que se o visse, não faria caso! Ora onde já se viu, aquilo que fez à outra!
- Ai pois foi! Se fosse comigo, não mais lhe falava! Olhe olhe! O que é aquilo ali?
- Ah, um carro numa valeta!
- Pois é! Como é que terá ido lá parar?
- (risos)
- (risos do motorista)
- De certeza que alguém o pôs por lá!
- Que coisa mais estranha!
- Filha, estás a ver aquilo ali? Foi precisamente naquele sítio que duas pessoas me ajudaram a trazer o carro que um dia lá deixei meio enterrado. O piso é lamacento, olha, ia-me ficando com o carro! Lembras-te filha? Lembras?
- Só neste país! Coisa de malucos!
- Mas você acha mesmo que foi alguém que o pôs lá?
- Ora com certeza! Ninguém a conduzir conseguia pô-lo assim daquela forma!
- A menos que voasse o carro!
- (risos)
- Nunca se sabe!
- (intervenção do motorista)
- Filha, lembras-te ou não? Estás a ouvir?
- Sim.
- Ora bolas. Às vezes consegues ser tão má. Custava alguma coisa responder? Mas lembras-te mesmo? Lembras-te?
- Então mas conte lá, como é que vai isso, essas férias?
- Olhe, vou aqui, vou ali, batati, batatá, Angola e agora vim da praia.
- Ah! Carneiros? Bolas de mel e Curitiba. Também gosto muito do Brasil.
- Não me diga! É coisa que adoro adoro adoro!
- Lembras-te ou queres-me só fazer a vontade? Fúria, banas e maçãs da pele. Sabes bem que gosto que me respondas? Filha, amor.
de quase todas as vezes falam para ti, mas não falam contigo (?)
também gosto de ti, Mãe.
Friday, July 24, 2009
Pedaço de conversa com o Moleskine
"Tudo bebe, tudo fede, tudo fuma, tudo fumo.
Efémero.
Eterno.
Matéria, enfim. Tu nela e eu sem mim."
Efémero.
Eterno.
Matéria, enfim. Tu nela e eu sem mim."
Thursday, July 23, 2009
Entrevista (Abril)
Vir para Ficar
Visões de um estrangeiro sobre o nosso país.
Se é certo que pelo sonho é que vamos, e assim o disse Sebastião da Gama, certo é também que muitos portugueses, principalmente jovens, procuram viver o sonho num outro país que não a nossa Ocidental Praia Lusitana. Se esta vontade se prende a motivos económicos, políticos, culturais, tudo junto ou nada ao certo, dependerá dos objectivos individuais de cada um, quiçá desespero. Mas a questão que agora aqui se coloca, dentro deste contexto, é que motivos levarão a um estrangeiro a mudar-se para cá. Seremos ainda tidos em conta como um país de grandes oportunidades ou estaremos associados a outra ideia positiva que, a muitos, escapa?
O londrino Phillip, formado em Engenharia Aerospacial e com algumas pós-graduações em tecnologias laser, é agora professor de inglês num Instituto privado em Setúbal e foi, desta feita, o entrevistado que me explicou o porquê de viver em Portugal há mais de vinte anos.
O londrino Phillip, formado em Engenharia Aerospacial e com algumas pós-graduações em tecnologias laser, é agora professor de inglês num Instituto privado em Setúbal e foi, desta feita, o entrevistado que me explicou o porquê de viver em Portugal há mais de vinte anos.
Sabe-se que pelos institutos de línguas privados, nomeadamente ingleses, passam muitos professores durante um, talvez dois anos e depois seguem viagem para outro país, de modo que ensinam aqui, depois ali, e acabam por conhecer o mundo todo, ou grande parte dele. Antes de mais, porquê vir para Portugal?
Porquê vir? Bom, acho que pode dizer-se que eu não escolhi este destino como este destino me escolheu a mim. Vivia em Inglaterra há muitos anos e estava completamente deprimido, por causa do clima e da maneira como as coisas estavam. Então abri o jornal e foi o primeiro anúncio que encontrei. Para ser sincero, dei por mim um dia no metro, como já disse, terrivelmente deprimido, envolto de uma atmosfera pesada. A pessoa que estava à minha frente não olhava sequer para mim, era como se não existisse, porque em Inglaterra há tanta gente que as pessoas precisam de criar como paredes invisíveis à volta delas, nunca comunicam umas com as outras. Nesse dia pensei que já não conseguia viver mais assim. Então decidi vir, e estava aqui dois dias depois. Foi-me muito conveniente, até porque posso voltar rapidamente para Inglaterra.
E pensava que as pessoas cá seriam diferentes, não tão frias como em Inglaterra?
Completamente, sim. Uma das razões pelas quais nunca gostei de viver em Inglaterra, apesar de ser um país muito bonito – e eu adoro o meu país – é a frieza das pessoas, e talvez se deva ao clima, como alguns dizem. As pessoas correm de um lado para o outro como “galinhas sem cabeça”, e não param para olhar em volta. Viajando pelo mundo percebi que onde fazia sol as pessoas eram diferentes. Sim, eu vim para cá e notei os portugueses como um povo muito mais descontraído e relaxado. Tiram tempo para apreciar a vida, com coisas simples, como por exemplo com a comida, são capazes de tirar o seu tempo para beber um bom vinho com uma companhia especial. Eu acredito que temos de escolher cuidadosamente as opções de vida, tendo sempre em conta a sua qualidade. Acima de tudo. Acima do dinheiro. Bom, é claro que precisamos dele, mas as pessoas sobrevalorizam-no.
acabar aqui e não em qualquer outro ponto do globo?
Bom, eu vivi cinco anos na América do Sul. Foi muito bom, um período muito interessante, mas por causa das coisas que estavam a acontecer lá, na altura, relacionadas com o terrorismo, o “viver lá” tornou-se demasiado perigoso. Por isso pensei que era tempo de terminar aquela aventura e ir para outro sítio qualquer. Todos os países são diferentes. Outro que também gostei muito foi a Holanda, é muito especial.
Amesterdão?
Sim, Amesterdão. Mas a maior parte das pessoas associa Amesterdão a coisas erradas. Pensam que é só droga, sexo, mas, de facto, não é nada disso. O que geralmente se diz da cidade constitui apenas uma pequena parte do que lá existe. As pessoas lá têm uma maneira de ser que segue muito a ideia de “vive e deixa viver”. A arquitectura, fabulosa. O que me levou lá foi, na verdade, uma pós-graduação na minha área que acabei por desempenhar muito pouco. E tudo isto ligado à mesma questão da qualidade de vida. Porque quando cheguei a Inglaterra e decidi trabalhar nesse campo, acabei a ter de produzir, para o Estado, material tecnológico a ser utilizado em guerras, e não é, de todo, algo para que queria contribuir.
Tem alguma história daqui que costume contar a amigos seus ingleses que, segundo ache, seja uma caricatura do povo que somos?
Sim, tenho muitas histórias. Uma delas, em que poucos acreditam, aconteceu mesmo pouco depois de chegar cá, quando decidi aventurar-me por entre estradas nacionais, de modo a conhecer um pouco melhor o país. Qual não foi o meu espanto quando, passado algum tempo de viagem, me deparo com um camião parado no meio da estradas e, debaixo dele, quatro pernas estendidas, a sair debaixo do camião. Pensei imediatamente que estivessem a arranjar qualquer coisa no veículo, que estivesse estragado ou coisa do género. No entanto, decidi ficar e perceber o que se passava. Passaram cinco, dez, vinte minutos e achei que as pernas estavam demasiado paradas para que alguém estivesse a consertar fosse o que fosse. Por isso, saí do carro e fui investigar. Eis que encontro dois senhores, rapazes, a dormir descansados e que, ao me encontrarem preocupado com a situação, prontamente me explicaram que estavam a fazer uma sesta à sombra, para eu não me preocupar. Devo confessar que nunca tinha passado por nada disso.
Também poucos portugueses terão passado… Mas, dada a sua experiência pessoal e profissional, o que acha que motiva outros professores a trabalhar neste país?
Bom, acho que se prende muito àquilo que disseste no início da entrevista. Eles querem conhecer o mundo, e ensinar por aí fora é sempre uma boa opção. Por isso se vê tantos novos professores que leccionam um par de anos aqui e depois se mudam. É uma excelente oportunidade para se poder viajar e continuar a ganhar dinheiro, para ver partes do mundo que queiram ver. Ensinar inglês como língua estrangeira é uma opção porque em todo o mundo se fala inglês. Eu nunca tinha pensado em ser professor, na verdade formei-me em engenharia aeroespacial. Sou uma daquelas pessoas que, como muitas outras, não sabia o que fazer. Acabei por ir para o curso que me fora indicado e não por opção minha. Por causa dele, e também como já disse, acabei por ir fazer uma pós-graduação na Holanda. E foi a viajar, não me lembro muito bem em que altura da minha vida, que dei por mim a ensinar um grupo de cinco chineses a falar inglês, que desesperadamente queriam aprender a língua. E eu pensei “isto não é assim tão mau…”, então acabei por tirar o curso de professor, só em caso de poder dar algum jeito no futuro.
Como encontra Portugal em termos culturais, políticos? Agora festeja-se o 25 de Abril…
Bom, culturalmente, é um pouco frustrante encontrar cidades como Setúbal que não investem mais em turismo. Devia-se investir mais. Em grandes cidades como Lisboa ou Porto é fácil ir-se a um bom museu, ver uma peça de teatro, são cidades muitos pontos de interesse. Os políticos deviam tentar ver as coisas muito mais profundamente. Acho que falam, sim, falam muito e sobre muita coisa, mas estruturalmente muito pouco se faz aqui e eu acho que Portugal tem o risco de ficar para trás se não se começar a seguir uma linha de acção. Pode ser mesmo muito destrutivo. Portugal é praticamente uma capa oca, não há praticamente indústrias. Recebe-se também muito dinheiro que se perde, e não se sabe como. Podia-se apostar no turismo. A costa portuguesa é belíssima. Por exemplo Setúbal podia ser bem mais aproveitado, mas a verdade é que não se faz nada certo para atrair turistas, o que é uma pena. Eu acho que Portugal devia olhar para os erros dos outros, e aprender com eles. Olhar para os que sabem, e encontrar o meio-termo ideal, porque tem uma série de vantagens sobre outros países.
Em jeito de conclusão, Phillip, faço-lhe uma última questão. Como deve saber, muitos jovens portugueses pretendem abandonar o seu país… O que acha sobre isso?
Eu acho que é muito normal que as pessoas queiram sair. E os portugueses são conhecidos por terem sido sempre grandes viajantes. Em cada país que visito encontro sempre pelo menos um português. Deve-vos estar no sangue. E não censuro que queiram sair de cá, especialmente se não vêem nenhum sítio onde se encaixem cá. É também para esses casos que o governo devia olhar, porque não se quer que todas as mentes brilhantes, desses jovens ambiciosos, fujam do próprio país. E isso acontece muito, porque vêem oportunidades noutros países e claro que querem aproveitar, são novos e têm vontade de vencer. Acho também que quem tiver a oportunidade de sair e conhecer outros sítios deve aproveitá-la para perceber como as coisas funcionam internacionalmente e para, claro, saber onde se encaixa melhor.
Sunday, July 19, 2009
Dia 16
Só veio embelezar
No seu jeitinho
Peculiar.
Veio devagarinho
E, sem notar,
Deu-me
Um beijinho
Para me acordar.
"Olá,
Estou aqui,
Sabe que estou aqui"
"Eu também
Não sabia
Esquecer"
"Mas quero lembrar-te
Antes que o tempo
Não vá o tempo
Levar-te"
No seu jeitinho
Peculiar.
Veio devagarinho
E, sem notar,
Deu-me
Um beijinho
Para me acordar.
"Olá,
Estou aqui,
Sabe que estou aqui"
"Eu também
Não sabia
Esquecer"
"Mas quero lembrar-te
Antes que o tempo
Não vá o tempo
Levar-te"
Friday, July 17, 2009
Graaaande
Hoje , no meio do oceano , senti cada pedaço dos meus metro e oitenta e três
E vi coisas que tu não vês
Porque tu não és eu.
E vi coisas que tu não vês
Porque tu não és eu.
Sunday, July 12, 2009
Alguém o viu?
60 minutos
Ali
Novas ideias,
velhas ideias,
confronto.
Procuro
encontrar
um ponto,
mas não
consigo,
não o
encontro.
Divago.
Divago somente
numa amálgama pura
que procura a semente
que aqui perdura.
A da origem.
Procuro.
Procuro, mas tenho
vertigens.
Às vezes tropeço
e sem querer cair
agarro-me a um
arbusto
para subir.
Fico é com espinhos
e
depois
nos caminhos,
não os consigo tirar
custa, dói,
e dói a sarar.
Por isso,
procuro
nesta nova amálgama.
Que trouxe
um doce
cantar.
Eu procuro
porque sei
que
vou
encontrar.
velhas ideias,
confronto.
Procuro
encontrar
um ponto,
mas não
consigo,
não o
encontro.
Divago.
Divago somente
numa amálgama pura
que procura a semente
que aqui perdura.
A da origem.
Procuro.
Procuro, mas tenho
vertigens.
Às vezes tropeço
e sem querer cair
agarro-me a um
arbusto
para subir.
Fico é com espinhos
e
depois
nos caminhos,
não os consigo tirar
custa, dói,
e dói a sarar.
Por isso,
procuro
nesta nova amálgama.
Que trouxe
um doce
cantar.
Eu procuro
porque sei
que
vou
encontrar.
Ele tocou, e ouviu-se
Senti-me por dentro
na mais imperfeita das horas
e sem mais demoras
decidi acordar.
Tanto que é o meu sono
Custou-me três vezes levantar
e tropecei, e caí, e levantei-me,
numa dança que hoje aprendi
e logra tanto pesar.
Hoje é dia, é cedo, é amarelo e bonitinho,
Oiço, ao longe, os pássaros a cantar,
Quando outrora era o alcatrão, o vinho,
Tal o desespero de viver,
que ganhava lugar.
Mas, hoje, sou fruto do despertar.
na mais imperfeita das horas
e sem mais demoras
decidi acordar.
Tanto que é o meu sono
Custou-me três vezes levantar
e tropecei, e caí, e levantei-me,
numa dança que hoje aprendi
e logra tanto pesar.
Hoje é dia, é cedo, é amarelo e bonitinho,
Oiço, ao longe, os pássaros a cantar,
Quando outrora era o alcatrão, o vinho,
Tal o desespero de viver,
que ganhava lugar.
Mas, hoje, sou fruto do despertar.
Wednesday, July 08, 2009
Monday, July 06, 2009
Pedaço de madeira que (em mim) arde
"Foi tão fogaz que nem deu"
Pois que foste embora,
e não mais saberei de ti.
O em mim que jaz ardeu
Qual cinza e pó e rasto,
Sublime Sol nefasto
E em mim, fico eu
Sombra de mim mesma e sem grão de ponta que segure o que ficava, latente,
Luzindo em forma de brio o que só em mim é patente.
Eu estou aqui
À luz dos fragmentos que me compuseram,
Que se ontem fosteis trinta, e mo disseram,
hoje trago unicismo inigualável
De tal forma inquebrável
Que, se fosse fogaz, não seria eu.
Porque, se ontem dava, hoje não deu
Quão sagaz é o tempo que passa (e se passa!).
Procuro meios de te dizer adeus, poeticamente,
Que só me lembro e sei lembrar que o mundo,
só hoje, por hoje, irritantemente,
é meu.
Pois que foste embora,
e não mais saberei de ti.
O em mim que jaz ardeu
Qual cinza e pó e rasto,
Sublime Sol nefasto
E em mim, fico eu
Sombra de mim mesma e sem grão de ponta que segure o que ficava, latente,
Luzindo em forma de brio o que só em mim é patente.
Eu estou aqui
À luz dos fragmentos que me compuseram,
Que se ontem fosteis trinta, e mo disseram,
hoje trago unicismo inigualável
De tal forma inquebrável
Que, se fosse fogaz, não seria eu.
Porque, se ontem dava, hoje não deu
Quão sagaz é o tempo que passa (e se passa!).
Procuro meios de te dizer adeus, poeticamente,
Que só me lembro e sei lembrar que o mundo,
só hoje, por hoje, irritantemente,
é meu.
Monday, June 29, 2009
Criei três mundos inquebráveis e só me sei situar num quarto onde crescem plantas secas nas paredes, fruto de uma atitude impávida e incompreensivelmente estúpida. Fito-me no espelho e parece-me que encontro O Pápa, qual manto luminoso e cândido, fitando-me de volta e cantando-me doces canções que convidam ao belo celestial. Os dias são graças a Deus inevitáveis mas inevitavelmente vou ficando à espera. Não de ti, mas talvez de mim. Eu sei que já o disse, mas digo-o novamente no risco de cair na redundância, Estou farta do sistema.
Sunday, June 28, 2009
Monday, June 22, 2009
Sunday, June 21, 2009
Já o vi, para sempre (a sunday smile)
All I want is the best for our lives my dear,
and you know my wishes are sincere.
What's to say for the days I cannot bear
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
About a Sunday smile and we felt clean
We burnt to the ground
left a view to admire
with buildings inside church of white.
We burnt to the ground left a grave to admire.
Hills reach for the sky, reach the church of white.
A Sunday smile we wore it for a while.
At cemetery mile we paused and sang.
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
About our Sunday smiles and we felt clean
and you know my wishes are sincere.
What's to say for the days I cannot bear
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
About a Sunday smile and we felt clean
We burnt to the ground
left a view to admire
with buildings inside church of white.
We burnt to the ground left a grave to admire.
Hills reach for the sky, reach the church of white.
A Sunday smile we wore it for a while.
At cemetery mile we paused and sang.
A Sunday smile we wore it for a while.
And at cemetery mile we paused and sang.
About our Sunday smiles and we felt clean
Tuesday, June 16, 2009
Um benzinho de fazer querer
Oi, Olha, Hey, Tu,
Não me devolvas o guarda-chuva
Que está calor lá fora
Onde repousam as margaridas.
Anda ter com elas, anda, anda embora,
Vamos sentir-lhes o aroma
Que é parecido com o das nuvens.
E eu não me importo que se suje o vestido branco
Eu estou aqui é para aprender.
Mas, ah, fala baixinho.
É que está por aí um vizinho
E ele não precisa de saber.
Quero saber o que se usa, as modas,
Das calças subidas
às saias de rodas.
Anda, oh tu do cachimbo verde,
E vê lá mas é se te afogas
Que, de nós, és tu quem perde!
É que o sol ainda se esconde
E a incontestável fragilidade do ser
Que do escuro tem medo
Não, não é para se saber.
Não me devolvas o guarda-chuva
Que está calor lá fora
Onde repousam as margaridas.
Anda ter com elas, anda, anda embora,
Vamos sentir-lhes o aroma
Que é parecido com o das nuvens.
E eu não me importo que se suje o vestido branco
Eu estou aqui é para aprender.
Mas, ah, fala baixinho.
É que está por aí um vizinho
E ele não precisa de saber.
Quero saber o que se usa, as modas,
Das calças subidas
às saias de rodas.
Anda, oh tu do cachimbo verde,
E vê lá mas é se te afogas
Que, de nós, és tu quem perde!
É que o sol ainda se esconde
E a incontestável fragilidade do ser
Que do escuro tem medo
Não, não é para se saber.
Sunday, June 14, 2009
Directamente
Ora sombrio ora cândido
O dia me acolhe por entre horas
Minutos e segundos, singulares,
Tantos quanto os andares
Mo permitam.
Dias há em que os pés hesitam.
Correr, sim, correr por aí
Por cá, por acolá, por ali,
Corro por via da esperança
Por conta da lembrança
Que trago de ti.
Hoje e ontem lembrei-me de ti, saudosamente,
Que dias passo contente
Quando passo contigo.
És e serás, p'ra sempre, um amigo.
Ao Gonçalo Silva
O dia me acolhe por entre horas
Minutos e segundos, singulares,
Tantos quanto os andares
Mo permitam.
Dias há em que os pés hesitam.
Correr, sim, correr por aí
Por cá, por acolá, por ali,
Corro por via da esperança
Por conta da lembrança
Que trago de ti.
Hoje e ontem lembrei-me de ti, saudosamente,
Que dias passo contente
Quando passo contigo.
És e serás, p'ra sempre, um amigo.
Ao Gonçalo Silva
O ELOGIO DA LOUCURA
UMA DECLAMAÇÃO DE ERASMO DE ROTERDÃO
" Fala a Loucura:
Tudo o que os mortais, de um modo geral, dizem a meu respeito - estou disso perfeitamente consciente - é que a Loucura não goza das opiniões mais reputadas e, mesmo entre os mais loucos, sou a única com poderes divinos capazes de alegrar os corações dos deuses e dos homens. Prova disso é que bastou o simples facto de avançar para me dirigir a esta assembleia, para logo todos os rostos brilharem numa nova e incontida alegria, afastando todo o seu ar grave e sisudo. Ristes e aplaudistes com sorrisos tão cândidos que, ao ver-vos todos reunidos em meu redor, era capaz de acredtar que estais ébrios do néctar dos deuses homéricos, com um travo de nepentes; e ainda há poucos instantes, estáveis sentados com um ar tão sombrio e acossado como se houvésseis saído da gruta de Trofónio. "
" Fala a Loucura:
Tudo o que os mortais, de um modo geral, dizem a meu respeito - estou disso perfeitamente consciente - é que a Loucura não goza das opiniões mais reputadas e, mesmo entre os mais loucos, sou a única com poderes divinos capazes de alegrar os corações dos deuses e dos homens. Prova disso é que bastou o simples facto de avançar para me dirigir a esta assembleia, para logo todos os rostos brilharem numa nova e incontida alegria, afastando todo o seu ar grave e sisudo. Ristes e aplaudistes com sorrisos tão cândidos que, ao ver-vos todos reunidos em meu redor, era capaz de acredtar que estais ébrios do néctar dos deuses homéricos, com um travo de nepentes; e ainda há poucos instantes, estáveis sentados com um ar tão sombrio e acossado como se houvésseis saído da gruta de Trofónio. "
Monday, June 01, 2009
Take 1 (sem 2)
Chamaram-lhe uma coisa qualquer
Ao rasto que deixaste no pinhal
Descabido, inteiramente,
Porque o nome lho deram somente
Por desvario de uma mente
Que teme verdade total.
Vai a trote, de cavalo, vai de mansinho,
E vê se não te esqueces de jantar
Que aqui o povo fica sozinho
À espera do Sebastiãozinho
Voltar.
Ao rasto que deixaste no pinhal
Descabido, inteiramente,
Porque o nome lho deram somente
Por desvario de uma mente
Que teme verdade total.
Vai a trote, de cavalo, vai de mansinho,
E vê se não te esqueces de jantar
Que aqui o povo fica sozinho
À espera do Sebastiãozinho
Voltar.
É precisamente isto.
[...] Hoje caminhei com os lábios vermelhos pela ponte mais velha da minha aldeia. As nuvens continuavam lá em cima e acima de tudo cantavam os pássaros.
- Não quero morrer!
Sentei-me numa pedra, cruzei as pernas semi-deitadas no chão frio, estendi o meu vestido às rosas e senti-me no topo do mundo, ainda que estivesse apenas no topo da velha ponte da velha aldeia de Maçores. Aí, jurei pra nunca mais morrer. Olhei para cima com todo o meu desrespeito à luz da Primavera de Abril, cheio de toda a sua azulez de céu despido de amor - ao menos, e valha-nos o calor, trazia os meus lábios vermelhos -e detestei aquela estação do ano detestável ainda mais um pouco. Intrigou-me a piadeira dos pássaros, que pareciam alheios a este espetáculo de friez descabida. Ora, onde já se viu, um dia completo de nudez flácida. Chateia-me. Puxei do cigarro, desapertei os sapatos. Um isqueiro, um truque e ali estava eu, a deliciar-me com o doente alcatrão. Fitei-o. Questionei-o. Questionei-me.
- Nãããã. Sai daqui.
Atirei o cigarro ao chão e tossi, enojadamente. Esfreguei as mãos nos lábios brutalmente e tal foi que espalhei batôn pelas rosáceas, roçando a Maria Puta que, satisfeita ou não, aproveita para se render à comodidade de um sossego sujo. Passou um cão. Observei-o e depois esqueci, como se nada ali tivesse passado, qual alma insensível, outrora rendida ao amor de um fumo. Estava ali porque queria sentir de novo. [...]
- Não quero morrer!
Sentei-me numa pedra, cruzei as pernas semi-deitadas no chão frio, estendi o meu vestido às rosas e senti-me no topo do mundo, ainda que estivesse apenas no topo da velha ponte da velha aldeia de Maçores. Aí, jurei pra nunca mais morrer. Olhei para cima com todo o meu desrespeito à luz da Primavera de Abril, cheio de toda a sua azulez de céu despido de amor - ao menos, e valha-nos o calor, trazia os meus lábios vermelhos -e detestei aquela estação do ano detestável ainda mais um pouco. Intrigou-me a piadeira dos pássaros, que pareciam alheios a este espetáculo de friez descabida. Ora, onde já se viu, um dia completo de nudez flácida. Chateia-me. Puxei do cigarro, desapertei os sapatos. Um isqueiro, um truque e ali estava eu, a deliciar-me com o doente alcatrão. Fitei-o. Questionei-o. Questionei-me.
- Nãããã. Sai daqui.
Atirei o cigarro ao chão e tossi, enojadamente. Esfreguei as mãos nos lábios brutalmente e tal foi que espalhei batôn pelas rosáceas, roçando a Maria Puta que, satisfeita ou não, aproveita para se render à comodidade de um sossego sujo. Passou um cão. Observei-o e depois esqueci, como se nada ali tivesse passado, qual alma insensível, outrora rendida ao amor de um fumo. Estava ali porque queria sentir de novo. [...]
Friday, May 29, 2009
Serenata
Oh meu amor,
Dar-te-ia as treze rosas que colhi
Nesta manhã enevoada,
Dar-tas-ia espinhadas e imundas
Rasgadas pelo pé, mal rasgadas,
Livres, soltas, desenjarradas,
Desarranjadas e sem jeito,
Despidas de polidez e preconceito.
Ficarei embaraçada, mas não faz mal.
Trá-las-ia junto ao peito
Como se de um coração se tratasse
E deixa-las-ia no caminho que percorresses,
Uma a uma,
Contando que o teu olhar por lá passasse.
Oh, deixa que ele por lá passe,
Que eu prometo dar-lhe um beijinho.
Um pequenino, para que não pares de correr.
Não quero tocar-te para saber que existes.
Quero tocar-te para saber que não existes,
Porque não podes existir.
Dar-te-ia as treze rosas que colhi
Nesta manhã enevoada,
Dar-tas-ia espinhadas e imundas
Rasgadas pelo pé, mal rasgadas,
Livres, soltas, desenjarradas,
Desarranjadas e sem jeito,
Despidas de polidez e preconceito.
Ficarei embaraçada, mas não faz mal.
Trá-las-ia junto ao peito
Como se de um coração se tratasse
E deixa-las-ia no caminho que percorresses,
Uma a uma,
Contando que o teu olhar por lá passasse.
Oh, deixa que ele por lá passe,
Que eu prometo dar-lhe um beijinho.
Um pequenino, para que não pares de correr.
Não quero tocar-te para saber que existes.
Quero tocar-te para saber que não existes,
Porque não podes existir.
Monday, May 25, 2009
Tuesday, May 19, 2009
E agora?
Perdi-me dos poemas.
Na verdade, perdi-me do tudo que não tinha ou do nada que era meu, enchi-me de um outro vazio e rebento pelas costuras de estranheza. Não sei o que faço aqui.
Perdi-me dos poemas.
Efectivamente trouxe comigo a esperança e o medo inerentes à aventura de descambar neste blogue, e queria dizer muita muita coisa, mas só me ocorre que deixou de ocorrer.
Perdi-me dos poemas.
Por isto não sei bem o que fazer, até porque perdi o chão por não o poder perder a ele, porque ele nunca foi meu ou tão meu quanto os meus poemas. É um pouco meu porque está na minha mente. O que é que não está na minha mente?
Perdi-me dos poemas.
Não estão na minha mente os poemas ou a métrica deles, as palavras que rimam e aquele encadeamento ritmico.
Na minha mente está só um pensamento
que não tem grande fundamento.
Já nem sei rimar com jeito.
Perdi-me dos poemas.
No dia 23 de Dezembro a coisa estará diferente, por certo. Resta-nos saber por que horas o poema voltará à mente ou à materialização.
Eu perdi-me dos poemas porque a beleza construída acabou.
O mundo é belo.
Na verdade, perdi-me do tudo que não tinha ou do nada que era meu, enchi-me de um outro vazio e rebento pelas costuras de estranheza. Não sei o que faço aqui.
Perdi-me dos poemas.
Efectivamente trouxe comigo a esperança e o medo inerentes à aventura de descambar neste blogue, e queria dizer muita muita coisa, mas só me ocorre que deixou de ocorrer.
Perdi-me dos poemas.
Por isto não sei bem o que fazer, até porque perdi o chão por não o poder perder a ele, porque ele nunca foi meu ou tão meu quanto os meus poemas. É um pouco meu porque está na minha mente. O que é que não está na minha mente?
Perdi-me dos poemas.
Não estão na minha mente os poemas ou a métrica deles, as palavras que rimam e aquele encadeamento ritmico.
Na minha mente está só um pensamento
que não tem grande fundamento.
Já nem sei rimar com jeito.
Perdi-me dos poemas.
No dia 23 de Dezembro a coisa estará diferente, por certo. Resta-nos saber por que horas o poema voltará à mente ou à materialização.
Eu perdi-me dos poemas porque a beleza construída acabou.
O mundo é belo.
Thursday, April 16, 2009
Ele não esteve cá, mas foi um passeio lindo (pedaço de filme)
Manhã de Abril. Ela acordara alvoraçada porque sabia que ele ia partir, eventualmente. E o eventualmente chegou mais cedo do que primeiramente pensara. Aliás, como chega sempre. Malditas eventualidades.
- Eu gosto mesmo muito de ti. Não te esqueças nunca disso. E não mudes.
- Vais já?
- Vou.
- Porquê? Mas não ficas cá comigo até às 12?
- Não, não posso.
- Porque é que não podes?
- Maria, não posso.
A porta bateu não sem antes um último adeus ser proferido, quase em jeito de beijo de boa noite, mesmo sendo agora dia. Recém nascido.
A noite ainda parecia longe para aquelas duas almas que não se encontravam há mais de ano, quando o sol ainda fazia ver que pouco passara desde as 14. Isto porque as conversas escasseavam de entre um sei que estás diferente e um igualmente usual como te corre a vida e a carreira - há quem não diferencie estes dois, mas em tempos de indecisão há quem faça para que a vida pareça mais que mundana.
Riam-se.
- Não queres ir à Brasileira? Ficamos lá fora.
- Está cheia! Podes sempre ir lá buscar um café e pousamo-lo num parapeito qualquer.
- Não, espera, sei de um café giro ali ao pé do Teatro. Mas continua, estavamos a falar do que o teu amigo disse sobre aquela situação...
- Ah, sim, mas não te vou contar a história toda.
- Oh, que chatice! Lá estás tu e essa tua mania de começar a contar alguma coisa e a não a acabar.
- Eu sou assim.
- Já não te ouvia dizer isso há um bom tempo. Dizia-lo a toda a hora.
- Há coisas que eu nem digo.
- É. Isso é porque não gostas de mim.
- Sabes que sim.
- É. Amas-me, secalhar.
- Olha...
- Ahah, claro que não me amas. Não deves gostar de mim, tão pouco amar. Aliás, acho que ninguém me ama. Secalhar nunca ninguém amou.
- Porque é que dizes isso?
- Olha, porque a ausência de sinais é um sinal.
- E não vês os sinais?
- Que sinais, meu parvalhão? Quando se ama, diz-se! Já dizia o meu pai.
Engoliram um café e um chá, ela fumou dois cigarros e ofereceu outro a um mendigo que lhe parecia menos constrangido que ela própria, até no acto de pedir. Desculpe menina, tem um cigarro que me dê, Tenho sim, tome, não tenho é lume. E não tinha. Queria mais era arder no fervor de uma discussão frutífera, mas a situação não lhe permitia o calor. Para além disso estava frio, vento e a luz era primaveril e desconfortável. Vamos para dentro, Espera, fiquemos um pouco mais. Contou-lhe, ele, histórias isoladas - porque a ela não comoviam e a ele não já não podiam alterar mais o presente - e ela ria mais da saudade que da piada. Este era o ele que conhecera, sempre na mesma, sempre mais velho e misterioso. Sim, contava histórias, mas não falava dele. Gostas de chá preto, de Carlos Paredes, do cheiro da lavanda, e pronto, lá estava ela, Sempre a fazer dessas perguntas, a tentar saber do que gosto!
Entretanto a conversa engrenou e começou um espectáculo a que ambos queriam assistir. A cevada escorregou por aquelas gargantas que já tinham sentido as folhas do chá e o grão do café no seu jeito mais dourado, exaltou-se o público e roeram-se as unhas. As mãos, enganadas nas rotas, encontraram-se, como se todo o dia, todas as conversas e todos os líquidos quisessem fazer com que as circunstâncias convergissem naquele momento. Mas as desculpas foram aceites, Ups, foi sem querer, Tudo bem, e voltaram a virar-se costas e palmas em sentidos opostos. As pessoas costumam dizer que estes momentos são eternos no tempo, mas ao mesmo tempo o tempo parece passar-se mais depressa nestes lapsos que são para sempre que nos outros que não o são. Ou o sempre é momentâneo, ou o banal dura mais tempo, ou estamos todos enganados. Chegou a hora de jantar. Sentaram-se como manda a etiqueta, Obrigada cavalheiro, Tu é que não estás habituada, não sei porquê, Porque estiveste longe e não me habituo aos outros, assim como estes hábitos não lhes tocam em parte nenhuma da sensibilidade humana. O vinho escolheu ele, ela indicou o prato. Entretanto, clarificados pelo tempo de convivência e pela desinibição dos líquidos, tudo parecia natural, tudo era natural e ele respondeu-lhe a alguns porquês.
- Não gosto de conversas banais. Assim, coisas que não levam a lado nenhum. Evito-as com quem posso. Contigo, por exemplo, não preciso de as ter.
- Conversas... Conversas só são banais se as vires assim. A interacção é o mais importante. A convivência.
- O silêncio diz mais que mil palavras.
- É a imagem, tonto.
- Ah, tens razão. Mas então vá, o silêncio diz muita coisa.
- Aprendi na escola que não se pode não comunicar. Ainda não me perguntaste como me vai a escola. É por ser banal?
- Oh, também não me pergunstaste como ia o emprego.
- Não perguntei? Oh, é porque já me foste contando qualquer coisa. Mas diz-me, queres viver lá, onde trabalhas, que é longe, para sempre?
- Sei lá. Não gosto nem consigo fazer grandes planos.
- Onde te vês daqui a cinco anos? Eu gostava de me ver fora daqui.
- Nem sei se estou cá daqui a seis meses. Queria estar.
- Certo então.
- Está a ser mais difícil de conversar contigo. Antigamente era mais fácil.
- Isso é bom?
- É diferente. Normalmente só eu é que era o difícil. Isto assim é diferente.
Chegaram as entradas.
- A minha tia pergunta sempre por ti, Maria.
- A sério? Por mim? Porquê?
- Quer sempre saber quando volto a Lisboa.
- Que giro. Não sabia sequer que ela sabia de mim. Então e amanhã, ficamos por cá ou pegamos no carro e fugimos?
- Amanhã... Amanhã vou-me embora.
- Já?! Mas não era isso que tinhamos combinado. Bom, não combinámos nada, mas tinhamos várias hipóteses em cima da mesa... Essa não era definitivamente uma delas.
- Desculpa, tem de ser.
- Mas tem de ser porquê?
Ele não tocou no prato. Ela mais do que queria.
- Mas tem de ser porquê?
- Pelo mesmo motivo que não te posso ter no MSN, nem enviar e-mails.
- Pois é, porque é que não te posso contactar dessa maneira?
- Tem muito mais piada falarmos ao telefone aqui e ali.
- Mas são tão poucas essas vezes...
- Então, assim ficas com mais saudades minhas.
- Hm.
- Sabes bem que sempre que conversamos através da escrita não conseguimos interpretar-nos bem e eu não quero discutir contigo.
- Não concordo nada. A escrita é o melhor meio de comunicação.
- Não é nada.
- Eu acho.
- Porque é que vais já amanhã?
- Maria... Não interessa.
Levaram os pratos das entradas, preparavam-se para o prato principal.
- Claro que interessa. Fico dois anos e meio sem te por a vista em cima, combinámos uns dias juntos, e agora foges?
Ele ficou em silêncio e trincou três vezes o que estava por cima do garfo. Limpou a boca, serviu-lhe o copo de vinho mais duas vezes e pagou a conta.
- O meu pai sempre me disse que não há almoços grátis.
Chegando à rua abraçaram-se e ele sussurrou-lhe qualquer coisa ao ouvido, Tive saudades tuas.
Precorreram o bairro de alto a baixo, de baixo a alto, ruas, vielas, pouca gente, feia gente, maldita gente. Ele escondia o que sentia, ela sentia náuseas e escondeu-se na casa de banho. Três minutos depois estava quase como nova, mesmo não sendo velha.
- Maria, eu não posso conversar contigo para um Olá, tudo bem, não quero saber que estás longe sempre que te vir no MSN ou seja lá o que for, não quero nem posso, não sei ser teu amigo. Antes teu inimigo que teu amigo. Essas conversas são para todas as outras pessoas. Não para ti. Entende isto. Não consigo banalizar. Não sei explicar bem. E de certo que também tu não sabes como é entrar no avião e em vez de pensar no meu irmão, nos meus pais, na minha casa, no que está comigo desde sempre, pensar em ti.
- Quero-me sentar...
- Vamos, sentas-te no carro e deixo-te em casa. Depois sigo viagem.
- Vamos, sentas-te no carro e deixo-te em casa. Depois sigo viagem.
- Ok. Não insisto mais contigo.
Sentaram-se no carro e ela mordeu tudo quanto fosse doce com a força que podia, que a boca e a consciência lhe sabiam mal.
- Posso subir Maria? Tenho de beber água.
- Posso subir Maria? Tenho de beber água.
- Claro, anda. Se quiseres dormitas um pouco, que a viagem logo de seguida é coisa difícil. É tarde.
Subiram os dois. Ele bebeu a água e ela ligou o computador - ainda tinha que terminar um trabalho para a escola e o relógio ia adiantado. Ele adormeceu perto dela, depois de se terem rido mais um pouco, quando ele viu pela primeira vez filmes da infância dela e ela apenas os revisitou. Trabalhou um pouco, pensou outro tanto, e disse Já sei porque é que não queres ser meu amigo, Hm, Acho que me vês como uma recordação e não como eu sou, e não queres perder essa imagem idílica de mim, mas estás tramado, que eu aqui estou ou aqui estou eu, vestida com um pijama com ovelhinhas e a comer argolinhas do Pingo Doce.
Retornou ao trabalho que pareceu durar para sempre, foi quase um daqueles momentos, e acabou por ceder ao sono, ao lado dele, como nunca, numa visão completamente real e muito pouco paradisíaca. Entretanto amanheceu, e ele partiu.
Monday, April 13, 2009
Monday, April 06, 2009
Eu gosto de sopa
Ao virar da esquina, eram dois rouxinóis.
Isto não parece fazer muito sentido escrito
(A maneira como escrevi)
Mas as palavras não seguem racionalidade
Ou não tanto como o que nos é verdade.
E a verdade de hoje não é a de sempre,
Se bem que sempre é demais e não é fiel.
Eu ontem ter-te-ia posto o anel!
Talvez hoje ainda, mas pela piada da coisa
Que hoje gosto demais da moça.
Voltemos ao passaredo.
Eram dois rouxinóis e um penedo.
Ou um rochedo. Apetece-me rimar com "edo"
Sem medo.
Credo.
Odeio medo.
Já chega.
Os rouxinóis e o penedo lá ficaram
E eu parti, com o canto dos primeiros
E o segundo ficou lá no canto, da minha memória.
Mas aqui não fará história,que amanhã já o esqueci.
Era só um penedo, e uma palavra gira.
Isto não parece fazer muito sentido escrito
(A maneira como escrevi)
Mas as palavras não seguem racionalidade
Ou não tanto como o que nos é verdade.
E a verdade de hoje não é a de sempre,
Se bem que sempre é demais e não é fiel.
Eu ontem ter-te-ia posto o anel!
Talvez hoje ainda, mas pela piada da coisa
Que hoje gosto demais da moça.
Voltemos ao passaredo.
Eram dois rouxinóis e um penedo.
Ou um rochedo. Apetece-me rimar com "edo"
Sem medo.
Credo.
Odeio medo.
Já chega.
Os rouxinóis e o penedo lá ficaram
E eu parti, com o canto dos primeiros
E o segundo ficou lá no canto, da minha memória.
Mas aqui não fará história,que amanhã já o esqueci.
Era só um penedo, e uma palavra gira.
Wednesday, April 01, 2009
Sunday, March 15, 2009
Imobilidade e Apatia
Paro. Escuto, mas não há nada que queira ouvir.
Os sons demasiado agúdos causam-me nauseas
E o cheiro é nauseabundo.
Parece-me que estou num submundo,
Ou num mundo paralelo,
Onde o meu rosto cândido ficou amarelo
E há verde de musgo.
O que queria era ouvir música clássica
Num lapso de musicalidades
Queria acreditar que as músicas são as verdades
E que isto aqui é um rochedo.
É que, na verdade, eu tive medo.
(Mas não digam a ninguém)
E se o tive é porque não tenho,
Talvez o tenha é esquecido
Sem querer abusar da sorte.
Hoje não sinto a vida nem a morte.
Tudo se me passa e eu passo por tudo
E nada se me ocorre para o explicar.
Nas ondas do vendaval esqueci de mim
E tranformei-me em largo mar
Onde tudo é frio e salgado
Transparente, desmembrado,
E já não me posso afogar.
Aleluia, esqueci-me de afogar.
Os sons demasiado agúdos causam-me nauseas
E o cheiro é nauseabundo.
Parece-me que estou num submundo,
Ou num mundo paralelo,
Onde o meu rosto cândido ficou amarelo
E há verde de musgo.
O que queria era ouvir música clássica
Num lapso de musicalidades
Queria acreditar que as músicas são as verdades
E que isto aqui é um rochedo.
É que, na verdade, eu tive medo.
(Mas não digam a ninguém)
E se o tive é porque não tenho,
Talvez o tenha é esquecido
Sem querer abusar da sorte.
Hoje não sinto a vida nem a morte.
Tudo se me passa e eu passo por tudo
E nada se me ocorre para o explicar.
Nas ondas do vendaval esqueci de mim
E tranformei-me em largo mar
Onde tudo é frio e salgado
Transparente, desmembrado,
E já não me posso afogar.
Aleluia, esqueci-me de afogar.
Friday, March 13, 2009
O gato foi às filhoses
Eles o que andam é aí, esganados da noite. Julgam-se livres e contentes, que se riem gargalhando, mas cinicamente preparam um estrugido de beterraba e ai que isso se faz de cebolas. Faz que eu sei. Foi um cozinheiro que mo disse.O "ai" foi pelo espanto, que o cozinheiro só mo disse agora. E eu acho que eles sabem, mas preferem beterrabas às cebolas, que são menos translúcidas.
Tuesday, March 10, 2009
Campos cheios de flores
Oiço a rádio.
A música encaixa-se perfeitamente no meu estado de espírito.
Escuto.
A letra da música é "you got me going on".
Soa bem.
A maçã é verde e pura, como é a água da garrrafa do pingo doce.
Limpo. Esqueço.
Sei que tens os olhos claros. Vêm muito.
Os meus andam escuros e eu acho que é da contra-luz.
- Olha lá, quem és tu? Nunca te vi por aqui. Bom, de qualquer maneira, obrigada por teres vindo, e sabe que muito provavelmente também te persigo. Só não sei quem és. Mas já agora também te digo que não podes ser novo nestas bandas. Tens muito paleio. E se não destas bandas, doutras bandas mais interessantes. Sabe que aqui, nesta aldeia, as pessoas são mexeriqueiras e miudinhas. Ai que às vezes me apetece bater-lhes com um mapa e mandá-las aos raios que as partam, ou a outros sítios quaisquer hediondos como elas. Ou sítios belos, a ver se se embelezam. Ah, mas eu sou bela. Acredita que sou. Eu acredito que sou. Que se eu não acreditar nisso num sítio tão hediondo, bem posso é morrer. Valha-nos isso, que é bom o senso.
...
- Estou a ouvir contrabaixos.
- Onde?
- Não sei.
A música encaixa-se perfeitamente no meu estado de espírito.
Escuto.
A letra da música é "you got me going on".
Soa bem.
A maçã é verde e pura, como é a água da garrrafa do pingo doce.
Limpo. Esqueço.
Sei que tens os olhos claros. Vêm muito.
Os meus andam escuros e eu acho que é da contra-luz.
- Olha lá, quem és tu? Nunca te vi por aqui. Bom, de qualquer maneira, obrigada por teres vindo, e sabe que muito provavelmente também te persigo. Só não sei quem és. Mas já agora também te digo que não podes ser novo nestas bandas. Tens muito paleio. E se não destas bandas, doutras bandas mais interessantes. Sabe que aqui, nesta aldeia, as pessoas são mexeriqueiras e miudinhas. Ai que às vezes me apetece bater-lhes com um mapa e mandá-las aos raios que as partam, ou a outros sítios quaisquer hediondos como elas. Ou sítios belos, a ver se se embelezam. Ah, mas eu sou bela. Acredita que sou. Eu acredito que sou. Que se eu não acreditar nisso num sítio tão hediondo, bem posso é morrer. Valha-nos isso, que é bom o senso.
...
- Estou a ouvir contrabaixos.
- Onde?
- Não sei.
Wednesday, February 25, 2009
Ela está nua
(E acha que)
- Está farta de estar apaixonada por estar apaixonada. Queria apaixonar-se por algum conteúdo, alguma coisa que lhe desse vontade de se prender e se entregar. Parece que só assim chegamos à liberdade, dizia ela. "Pelo predimento para o desprendimento. É o paradoxo da incompletude." Não sei o que é isto, nem sei muito bem o que disse. Estava farta de adorar apaixonar-se constantemente. A paixão pela paixão é uma farsa. Ou é uma fuga. Ou melhor, não pode ser fuga, porque só se foge de algo. Não fugia de nada. Só procurava. A paixão pela paixão é uma procura, definitivamente. Mas desmesurada. Tola. E sem sentido. A procura não pode ou não deve ser procurada. Deve ser real. Mas ela sentia-a inata. Não sei o que sentia. Não sei se alguma vez sentia. Bom, às vezes sentia que havia sentido, mas não sentia que sentisse. Sentia a melancolia e a nostalgia, sim. Isso sentia. Mas era o chorar pelo perdido que sentia. O mito Sebastianista é tolo. Eu sou tolo. Queria que a tirassem dali porque gostava de estar ali. Às vezes. "Nunca há um todo. Há a soma das partes." Adorava as partes. Não conseguia chegar a um todo. A um todo que adorasse. Os todos que via eram chatos. Não. Incompletos, dizia. Os todos que via eram incompletos. Eram todos para outros, mas não para ela. Esses todos são, para ela, como o vento no Inverno. Passam por ela sem que os veja com olhos de ver, e são frios. Mas atenção, eles não chegam assim frios e sem avisar. Ela via ao fundo a tempestade, mas via-a porque pensava ter visto antes a luz, num abrasador dia de Verão. O Verão é bonito. No Verão, os meninos correm no parque. Saio à rua e transpiro. Fico molhado nos sovacos e sinto-me mal. Ao menos sinto. A água é uma coisa boa. As pessoas gostam de ficar molhadas. Por isso é que no Verão se atiram ao mar. Por isso é que metem a pata na poça. E molham-se. E depois ficam frias. O gato escaldado de água fria tem medo. Os gatos são tipos espertos, têm sete vidas. Isso já se sabe. O que eu não sei é que ela não podia com a gata pelada pelo rabo. Nunca teve um grande rabo. E nunca gostou de gatos.
- Está farta de estar apaixonada por estar apaixonada. Queria apaixonar-se por algum conteúdo, alguma coisa que lhe desse vontade de se prender e se entregar. Parece que só assim chegamos à liberdade, dizia ela. "Pelo predimento para o desprendimento. É o paradoxo da incompletude." Não sei o que é isto, nem sei muito bem o que disse. Estava farta de adorar apaixonar-se constantemente. A paixão pela paixão é uma farsa. Ou é uma fuga. Ou melhor, não pode ser fuga, porque só se foge de algo. Não fugia de nada. Só procurava. A paixão pela paixão é uma procura, definitivamente. Mas desmesurada. Tola. E sem sentido. A procura não pode ou não deve ser procurada. Deve ser real. Mas ela sentia-a inata. Não sei o que sentia. Não sei se alguma vez sentia. Bom, às vezes sentia que havia sentido, mas não sentia que sentisse. Sentia a melancolia e a nostalgia, sim. Isso sentia. Mas era o chorar pelo perdido que sentia. O mito Sebastianista é tolo. Eu sou tolo. Queria que a tirassem dali porque gostava de estar ali. Às vezes. "Nunca há um todo. Há a soma das partes." Adorava as partes. Não conseguia chegar a um todo. A um todo que adorasse. Os todos que via eram chatos. Não. Incompletos, dizia. Os todos que via eram incompletos. Eram todos para outros, mas não para ela. Esses todos são, para ela, como o vento no Inverno. Passam por ela sem que os veja com olhos de ver, e são frios. Mas atenção, eles não chegam assim frios e sem avisar. Ela via ao fundo a tempestade, mas via-a porque pensava ter visto antes a luz, num abrasador dia de Verão. O Verão é bonito. No Verão, os meninos correm no parque. Saio à rua e transpiro. Fico molhado nos sovacos e sinto-me mal. Ao menos sinto. A água é uma coisa boa. As pessoas gostam de ficar molhadas. Por isso é que no Verão se atiram ao mar. Por isso é que metem a pata na poça. E molham-se. E depois ficam frias. O gato escaldado de água fria tem medo. Os gatos são tipos espertos, têm sete vidas. Isso já se sabe. O que eu não sei é que ela não podia com a gata pelada pelo rabo. Nunca teve um grande rabo. E nunca gostou de gatos.
Wednesday, February 11, 2009
Foge lê-se como Foz
- Isto é lindo!!! Isto, isto é lindo! É o tim-tim-tim, é o grave das notas, é um amorzinho de toque. Lembra-me seda e verde esmeralda. Nuvens no céu e pardais.
- A mim, faz-me chorar pelo perdido. Chorar pelo belo, para despejar o feio.
- Mas já viste bem como toca rápido e percebe a pauta? Porque nem sempre é rápido, é só em determinados momentos. E olha! Ahahah, olha, que faz o meu braço dançar de entusiasmo!
- Parece que a vejo tocar em bailados. Lembro-me, agora, do Palácio da Foz. O único de que me lembro de alguma coisa, se é que me lembro de coisa alguma. E esqueço-me agora também, pois que me perco. É lindo sim. Isto, é lindo!
- Quero usar o meu pendente dourado.
- Porque não o fazes agora?
- É tarde. Ninguém, a esta hora, se atreverá a sair comigo só para que possa mostrar o pendente.
- Que belo é o teu pendente.
- É. Descobri-o onde não havia mais mas onde o podiam ter achado antes de mim. Mas fui eu! Eu, quem o trouxe.
- Queres sair comigo?
- Não, tu podes vê-lo aqui e não o quero mostrar só mais à noite fria e cabisbaixa. Fico aqui no calor da casa a olhar para ele, pois que aqui me faz sorrir.
- Hoje não quero sorrir, por mais belas que sejam as coisas e as músicas.
- Hoje quero sorrir mais que ontem.
- Hoje perdi.
- Hoje ganhei.
- Hoje choro.
- Hoje preciso de sorrir timidamente por isso.
- Hoje busco.
- Amanhã logo vejo.
- Não me percas de vista.
Ouvir La Campanella e pensar. Pelo Rubinstein.
- A mim, faz-me chorar pelo perdido. Chorar pelo belo, para despejar o feio.
- Mas já viste bem como toca rápido e percebe a pauta? Porque nem sempre é rápido, é só em determinados momentos. E olha! Ahahah, olha, que faz o meu braço dançar de entusiasmo!
- Parece que a vejo tocar em bailados. Lembro-me, agora, do Palácio da Foz. O único de que me lembro de alguma coisa, se é que me lembro de coisa alguma. E esqueço-me agora também, pois que me perco. É lindo sim. Isto, é lindo!
- Quero usar o meu pendente dourado.
- Porque não o fazes agora?
- É tarde. Ninguém, a esta hora, se atreverá a sair comigo só para que possa mostrar o pendente.
- Que belo é o teu pendente.
- É. Descobri-o onde não havia mais mas onde o podiam ter achado antes de mim. Mas fui eu! Eu, quem o trouxe.
- Queres sair comigo?
- Não, tu podes vê-lo aqui e não o quero mostrar só mais à noite fria e cabisbaixa. Fico aqui no calor da casa a olhar para ele, pois que aqui me faz sorrir.
- Hoje não quero sorrir, por mais belas que sejam as coisas e as músicas.
- Hoje quero sorrir mais que ontem.
- Hoje perdi.
- Hoje ganhei.
- Hoje choro.
- Hoje preciso de sorrir timidamente por isso.
- Hoje busco.
- Amanhã logo vejo.
- Não me percas de vista.
Ouvir La Campanella e pensar. Pelo Rubinstein.
Saturday, January 31, 2009
Ele às vezes fala comigo. Mas raramente.
O Preto do Bairro que é Dinamarquês chora,
Chora, ai que chora o Preto do Bairro, Dinamarquês,
Não o Bairro, o Preto mesmo, aquele que chora,
Num bairro que não é dele mas que o vê chorar.
E fala, o Dinamarquês, se fala, pois que fala!
Então não havia agora o homem de falar?
Que chora e fala e anda para lá, pelo Bairro,
O Preto do Bairro, chorão, a vagabundear.
E ensina e inventa, e fala e chora, o Dinamarquês,
E ensina o pequeno e o velho, enquanto chora,
E fala ensinando o velho, ou a si próprio, ou ao pequeno,
Que o Preto, esse, está no seu terreno.
E se o seu terreno é o Bairro e ele por lá está, está bem,
Que o terreno de cada um é o que mais lhe convém,
Seja lá por que motivo for, que muitos há, aos motivos,
E os terrenos são limitados, cercados e definidos.
Se o Preto do Bairro fosse meu amigo, que é amigo de todos, e não meu,
Gostava de lhe perguntar que males via em mim,
Que ele não só sabe chorar, sabe falar, sabe ensinar
E os males da cada um são coisa difícil de analisar.
Se eu soubesse pelo Dinamarquês o que faz mossa, o que chateia,
Sabia eu mais do que sei agora só, no meu terreno esquecido,
Que quando acho que me encontro me vejo é perdido,
E o trilho é a firmação, a pura certeza e a contentação.
Mas já me disse coisas, O do Bairro, O que fala, O que Chora,
Disse-me quando mal esperava, noutro dia, noutra hora,
Quando parecia não querer ouvir, não querer saber, não querer perceber,
Que o Preto até mo disse mas eu fiz por não o entender.
O Preto do Bairro é o meu pai e o pai de todos, que todos são filhos,
E todos temos direito a terrenos, a futuros, a caminhos, a trilhos,
E todos temos também direito a dúvidas, a incertezas, a arrependimento,
Que se o Preto do Bairro é pai Dinamarquês, também vive no Bairro, sem sustento.
Mas, o que mais interessa, é a vida.
Que vivê-la no Bairro ou na Dinamarca, pouco diz do terreno que pisamos,
Que o futuro é o presente, e, agora, aqui estamos.
Chora, ai que chora o Preto do Bairro, Dinamarquês,
Não o Bairro, o Preto mesmo, aquele que chora,
Num bairro que não é dele mas que o vê chorar.
E fala, o Dinamarquês, se fala, pois que fala!
Então não havia agora o homem de falar?
Que chora e fala e anda para lá, pelo Bairro,
O Preto do Bairro, chorão, a vagabundear.
E ensina e inventa, e fala e chora, o Dinamarquês,
E ensina o pequeno e o velho, enquanto chora,
E fala ensinando o velho, ou a si próprio, ou ao pequeno,
Que o Preto, esse, está no seu terreno.
E se o seu terreno é o Bairro e ele por lá está, está bem,
Que o terreno de cada um é o que mais lhe convém,
Seja lá por que motivo for, que muitos há, aos motivos,
E os terrenos são limitados, cercados e definidos.
Se o Preto do Bairro fosse meu amigo, que é amigo de todos, e não meu,
Gostava de lhe perguntar que males via em mim,
Que ele não só sabe chorar, sabe falar, sabe ensinar
E os males da cada um são coisa difícil de analisar.
Se eu soubesse pelo Dinamarquês o que faz mossa, o que chateia,
Sabia eu mais do que sei agora só, no meu terreno esquecido,
Que quando acho que me encontro me vejo é perdido,
E o trilho é a firmação, a pura certeza e a contentação.
Mas já me disse coisas, O do Bairro, O que fala, O que Chora,
Disse-me quando mal esperava, noutro dia, noutra hora,
Quando parecia não querer ouvir, não querer saber, não querer perceber,
Que o Preto até mo disse mas eu fiz por não o entender.
O Preto do Bairro é o meu pai e o pai de todos, que todos são filhos,
E todos temos direito a terrenos, a futuros, a caminhos, a trilhos,
E todos temos também direito a dúvidas, a incertezas, a arrependimento,
Que se o Preto do Bairro é pai Dinamarquês, também vive no Bairro, sem sustento.
Mas, o que mais interessa, é a vida.
Que vivê-la no Bairro ou na Dinamarca, pouco diz do terreno que pisamos,
Que o futuro é o presente, e, agora, aqui estamos.
Friday, January 30, 2009
À tarde, diz que é prata
Vagabundeando pelas vielas estreitas e esquecidas das gentes públicas,
É fácil perceber-se porque não se deve comer laranjas à noite.
"A laranja de dia é ouro,
À tarde prata,
E à noite mata."
A cor e o saboroso do doce ficaram-se pelos céus azuis cândidos das manhãs
E pela noite só sei que há vagabundos a quem não se pode olhar nos olhos.
É fácil perceber-se porque não se deve comer laranjas à noite.
"A laranja de dia é ouro,
À tarde prata,
E à noite mata."
A cor e o saboroso do doce ficaram-se pelos céus azuis cândidos das manhãs
E pela noite só sei que há vagabundos a quem não se pode olhar nos olhos.
ShaiPaiMaiTai Ai Sai !
Dói-me pensar, não sei porquê escrever!
Porquê?!
Bom, sentindo a escapatória a escapar-se-me por mãos que não tenho
Porque não as tenho, ou nada tenho certo,
Recorri ao velho, ao habitual, ao vício banal, à comodidade,
Talvez nela esteja a mais pura verdade
E indagamos nós, ou Eu, à procura de uma falsa realidade
Que ás vezes dói, e dói nas vezes em que se acentua a vontade de saber.
Dói mas não uma dor física, antes que o fosse, que esta dor é apática,
É uma coisa que não é nem deixa de ser e fica,
Como nada mais fica, e por isso mesmo, fica.
Quero-te já fora daqui! Já! Já! Já!
Quero correr para trás e encontrar-Me quando Me conhecia pelos lápis de cor
E talvez isso tenha sido ontem, ou há uma semana,
Mas eu hoje não recordo. Só me lembro de recordar.
Que o meu corpo a recordação bana, que mais não sei que pensar.
Eu penso que penso, pois pensar não pode ser isto,
Isto são balelas, tretas de sentimentos ou de expressões,
Que o pensar não pode ser tão obscuro, pois é conhecimento,
E o conhecer há-de o trazer, ao contentamento.
Ou não.
Detesto dilemas.
Porquê?!
Bom, sentindo a escapatória a escapar-se-me por mãos que não tenho
Porque não as tenho, ou nada tenho certo,
Recorri ao velho, ao habitual, ao vício banal, à comodidade,
Talvez nela esteja a mais pura verdade
E indagamos nós, ou Eu, à procura de uma falsa realidade
Que ás vezes dói, e dói nas vezes em que se acentua a vontade de saber.
Dói mas não uma dor física, antes que o fosse, que esta dor é apática,
É uma coisa que não é nem deixa de ser e fica,
Como nada mais fica, e por isso mesmo, fica.
Quero-te já fora daqui! Já! Já! Já!
Quero correr para trás e encontrar-Me quando Me conhecia pelos lápis de cor
E talvez isso tenha sido ontem, ou há uma semana,
Mas eu hoje não recordo. Só me lembro de recordar.
Que o meu corpo a recordação bana, que mais não sei que pensar.
Eu penso que penso, pois pensar não pode ser isto,
Isto são balelas, tretas de sentimentos ou de expressões,
Que o pensar não pode ser tão obscuro, pois é conhecimento,
E o conhecer há-de o trazer, ao contentamento.
Ou não.
Detesto dilemas.
Wednesday, January 21, 2009
Hei-los, aos elos.
- Olá! Estou aqui de novo, Mamã. Trouxe-Te um presente.
- Ai sim? Então? Mostra-mo, quero vê-lo!
- Não. Não To posso já mostrar.
- Mas não o trouxeste para mim?
- Sim, Mamã. Mas não Mo peças e não esperes que To dê já.
- Porquê?
- Ah, e não perguntes, Mamã.
- Que do alto dos teus 7 anos já falas assim! Arrogância, meu filho. É disso que padeces.
- Não, Mamã. Secalhar não Te devia ter dito nada. Mas enfim, tenho, para Ti, um presente. Às vezes não me contenho. Acho que sou demasiado pequeno para guardar demasiadas coisas. Às vezes, rebento-me por dentro. Impludo. Um dia, hei-de explodir e pedaços de mim serão espalhados. Eu estarei em toda a parte. Um dia, ou umas vezes. As vezes.
- Não fales assim, que me agonias. Mas guardas-me um segredo!
- Não, que para Ti não os tenho. Mas vou adiar-Te o meu presente. Vou adiar o dia em que To darei, gloriosamente.
- Modéstia, meu filho. Modéstia.
- As virtudes, Mamã, são algumas das adversidades da vida. Agora, quero pecar, ser bandido, fugir, saltar e assaltar, roubar beijos, correr em matos selvagens e não voltar para jantar.
- Ah! O eterno desejo do efémero pecador. Olha que isso, meu filho, dura pouco. Um dia acordarás para a triste realidade que a vida tem para te dar.
- Ah, como Te quero presentear! Não penses em mim como um atreito às maleitas, um malandro. Sou um louco e quero sonhar! E sei que sonharás comigo, Mamã! Quando Te der o presente, serás como eu. Porque, no fundo, eu sei que somos iguais.
SEREMOS CARNE DA MESMA CARNE
TU ÉS
EU SEI QUE ÉS
ÓRGÃO DO MEU SER INCONSOLÁVEL - UM DESEJO DE LOUCURA ETERNO
AI !
Grita-me hoje que o dia é FINITO
Grita-me hoje.
eu GRITO.
- Ai sim? Então? Mostra-mo, quero vê-lo!
- Não. Não To posso já mostrar.
- Mas não o trouxeste para mim?
- Sim, Mamã. Mas não Mo peças e não esperes que To dê já.
- Porquê?
- Ah, e não perguntes, Mamã.
- Que do alto dos teus 7 anos já falas assim! Arrogância, meu filho. É disso que padeces.
- Não, Mamã. Secalhar não Te devia ter dito nada. Mas enfim, tenho, para Ti, um presente. Às vezes não me contenho. Acho que sou demasiado pequeno para guardar demasiadas coisas. Às vezes, rebento-me por dentro. Impludo. Um dia, hei-de explodir e pedaços de mim serão espalhados. Eu estarei em toda a parte. Um dia, ou umas vezes. As vezes.
- Não fales assim, que me agonias. Mas guardas-me um segredo!
- Não, que para Ti não os tenho. Mas vou adiar-Te o meu presente. Vou adiar o dia em que To darei, gloriosamente.
- Modéstia, meu filho. Modéstia.
- As virtudes, Mamã, são algumas das adversidades da vida. Agora, quero pecar, ser bandido, fugir, saltar e assaltar, roubar beijos, correr em matos selvagens e não voltar para jantar.
- Ah! O eterno desejo do efémero pecador. Olha que isso, meu filho, dura pouco. Um dia acordarás para a triste realidade que a vida tem para te dar.
- Ah, como Te quero presentear! Não penses em mim como um atreito às maleitas, um malandro. Sou um louco e quero sonhar! E sei que sonharás comigo, Mamã! Quando Te der o presente, serás como eu. Porque, no fundo, eu sei que somos iguais.
SEREMOS CARNE DA MESMA CARNE
TU ÉS
EU SEI QUE ÉS
ÓRGÃO DO MEU SER INCONSOLÁVEL - UM DESEJO DE LOUCURA ETERNO
AI !
Grita-me hoje que o dia é FINITO
Grita-me hoje.
eu GRITO.
Sunday, January 18, 2009
Thursday, January 15, 2009
Vi um gato no beco
Sabem quando nos alheamos de tudo e somente observamos?
Isso acontece, de facto, "até ver". É, até "se ver" a imagem mais bela, ou se se interpretar isso dessa forma, numa coincidência fantástica.
Montras, feixes de luz, irradiando,
Soltando de si falsa vida e cor,
Que daquela frieza azulada choravam
Efémeros pedidos de' terno, doce calor.
Mas digo-o assim porque assim o era,
Efémero, seco, igual, descartável,
Asfixiei-me em desespero, que vi a vida torcida,
E quero acreditar que o solo é arável.
Ainda.
E eis que entre dois antros de aridez grotesca vi,
Bem no meio, num beco rosa, ou salmão,
(Era de noite, não se via bem)
Um gato malhado.
Um lindo e gordo gato, como o das revistas cor-de-rosa.
Num beco rosa, ou salmão.
(Eu estava sem óculos)
Topei-lhe o ar sereno, no meio daquela agitação seca,
Enquanto estava sentado, incrivelmente direito.
Olhava para cima, olhava, para cima, para a parede salmão,
E mais não fazia que aquilo. Era perfeito!
Fixava o olhar e permanecia, na sua solidão.
(E achava eu que estava alheada.
Alhear-se sabem os gatos, que são espertos. Por isso é que têm 7 vidas.)
Isso acontece, de facto, "até ver". É, até "se ver" a imagem mais bela, ou se se interpretar isso dessa forma, numa coincidência fantástica.
Montras, feixes de luz, irradiando,
Soltando de si falsa vida e cor,
Que daquela frieza azulada choravam
Efémeros pedidos de' terno, doce calor.
Mas digo-o assim porque assim o era,
Efémero, seco, igual, descartável,
Asfixiei-me em desespero, que vi a vida torcida,
E quero acreditar que o solo é arável.
Ainda.
E eis que entre dois antros de aridez grotesca vi,
Bem no meio, num beco rosa, ou salmão,
(Era de noite, não se via bem)
Um gato malhado.
Um lindo e gordo gato, como o das revistas cor-de-rosa.
Num beco rosa, ou salmão.
(Eu estava sem óculos)
Topei-lhe o ar sereno, no meio daquela agitação seca,
Enquanto estava sentado, incrivelmente direito.
Olhava para cima, olhava, para cima, para a parede salmão,
E mais não fazia que aquilo. Era perfeito!
Fixava o olhar e permanecia, na sua solidão.
(E achava eu que estava alheada.
Alhear-se sabem os gatos, que são espertos. Por isso é que têm 7 vidas.)
Tuesday, January 06, 2009
Animalidade. Não posso racionalizar.
Corre, salta, foge,
Grita, rebenta, transita,
Age, reage, ruge,
Arshe, irshe, urshe,
Rrr, siribi, catatá,
Sai, vai, cai,
Ai
Ai
Ai!
Se saires da tua jaula recôndida,
Verás um mundo novo
Cheio de fábulas e criações,
Invernos quentes e canções,
Que nem tudo é árido e perdido.
Hoje, para mim, tudo faz sentido.
Traz-me ou leva-me, vou, irei, estou,
Contigo ou sem ti, porque, por ti, sou.
Por mim, Por nós, Pelo mundo,
GRITEMOS!
Gritemos cá de dentro, do fundo,
Que os pulmões se aguentem,
E os outros que tapem o ouvido
Que isto hoje, para mim, faz sentido.
E tentem, grito-vos, TENTEM!
Tentem fazer mais por vós,
Que gritar de dentro não é mais
Que oferecer a nós.
Querer é um jeito de loucura,
E se assim o é, que o sei por certeza,
Entrego-me nesta desmesura
Que o querer é natureza,é real,
Eu hoje sou homem do povo, cidadão,
Mas no fundo, eu, sou animal.
Sou um animal do mundo perdido e hoje, talvez apenas hoje, tudo, para mim, faz sentido.
Mais sentido que o ontem e que o amanhã, por certo,
Que o amanhã é incerto.
Grita, rebenta, transita,
Age, reage, ruge,
Arshe, irshe, urshe,
Rrr, siribi, catatá,
Sai, vai, cai,
Ai
Ai
Ai!
Se saires da tua jaula recôndida,
Verás um mundo novo
Cheio de fábulas e criações,
Invernos quentes e canções,
Que nem tudo é árido e perdido.
Hoje, para mim, tudo faz sentido.
Traz-me ou leva-me, vou, irei, estou,
Contigo ou sem ti, porque, por ti, sou.
Por mim, Por nós, Pelo mundo,
GRITEMOS!
Gritemos cá de dentro, do fundo,
Que os pulmões se aguentem,
E os outros que tapem o ouvido
Que isto hoje, para mim, faz sentido.
E tentem, grito-vos, TENTEM!
Tentem fazer mais por vós,
Que gritar de dentro não é mais
Que oferecer a nós.
Querer é um jeito de loucura,
E se assim o é, que o sei por certeza,
Entrego-me nesta desmesura
Que o querer é natureza,é real,
Eu hoje sou homem do povo, cidadão,
Mas no fundo, eu, sou animal.
Sou um animal do mundo perdido e hoje, talvez apenas hoje, tudo, para mim, faz sentido.
Mais sentido que o ontem e que o amanhã, por certo,
Que o amanhã é incerto.
Monday, January 05, 2009
Haja quem não tenha sono e queria dar luz a um cepo. Bem Haja.
Suspiros.
Sonhei que dormia
Pois que dormia, e sonhava,
E sonhando que dormia,
Não caminhava.
Ora, quem dorme parado
E parado sonha,
Sabe
Ai! Queria tanto hoje dormir
D'um sono que me levasse às estrelas.
Ai, queria tanto
estou perdida.
Sonhei que dormia
Pois que dormia, e sonhava,
E sonhando que dormia,
Não caminhava.
Ora, quem dorme parado
E parado sonha,
Sabe
Ai! Queria tanto hoje dormir
D'um sono que me levasse às estrelas.
Ai, queria tanto
estou perdida.
Thursday, December 18, 2008
A Velha vestia-se de preto e amarelo.
Um dia perguntei-lhe o que achava da legalização do aborto
E respondeu-me torto.
Ah, bolas, e eu queria mesmo falar a sério.
Como não consegui, perguntei-lhe pela cor favorita.
"-Tudo menos preto".
Oh! Qual não foi meu espanto,
Quando neste entretanto
Encontrei uma resposta bonita,
Mas que não fazia sentido!
Ah, bolas, fiquei perdido.
Se a indumentária nos reflecte a personalidade,
A Velha contradiz-se
Um dia perguntei-lhe o que achava da legalização do aborto
E respondeu-me torto.
Ah, bolas, e eu queria mesmo falar a sério.
Como não consegui, perguntei-lhe pela cor favorita.
"-Tudo menos preto".
Oh! Qual não foi meu espanto,
Quando neste entretanto
Encontrei uma resposta bonita,
Mas que não fazia sentido!
Ah, bolas, fiquei perdido.
Se a indumentária nos reflecte a personalidade,
A Velha contradiz-se
Inacabado
Mais uma,
Mais uma de muitas
Noites vadias e perdidas
Das que os rostos belos temem
E os nauseabundos festejam.
Mais uma noite de gatos
Que, pardos ou não,
Se as vadias e perdidas os tornam,
Nem por um pouco pestanejam,
Não venham os nauseabundos e os vejam
E façam deles sapatos.
Ah, julgais que é barato mandar cantar o cego?
Canta antes o raio do gato
E dança as sevilhanas, e vai sambar,
E persegue dois ou um rato.
Digo eu, de fora, que enxergo,
Mas pouco vejo também e não sei cantar.
Antes que me perca, voltemos à noite,
Não nos venha a socorrer o Sol
(Não me apetece!)
É que a emoção,
Assim,
Esmorece.
Durante a visita lunar encontrei-o.
Lá estava, envergando toda a sua imensidão,
Estrutura sólida de homem, ruividez
Pés descalços mas clara sublime tez
(Que inveja me fez!).
Esperava momento oportuno.
E eis que o chega, quando chega o outro,
O casal distraído até de si próprio
Que se vai esquecendo nas entrelinhas,
Mas nunca se esquecem suas partes.
Quando interpelado,
Unem-se as partes e inicia-se diálogo.
"- Sabes quem é? - dizia o olhar
- Se soubesse, não terías de perguntar,
Somos os dois um só!
Não dispas aqui a nossa verdade,
Finjamos união, como publicidade!"
"- Olá, quereis batatas-fritas?
A máquina avariou-se, aqui a do metro,
Há-as ali para dar e vender,
Ou para parvos, como eu,
As virem, a vós, oferecer."
E, franzindo a sombracelha,
Fazem-se os dois de bons comparsas,
Seguindo o seu ideal caminho.
É por isto que há relações falsas,
Que não aceitam batatas alheias.
O homem, apático, ficou sozinho.
Às vezes a fome mata,ou mata-nos a falta dela.
Mais uma de muitas
Noites vadias e perdidas
Das que os rostos belos temem
E os nauseabundos festejam.
Mais uma noite de gatos
Que, pardos ou não,
Se as vadias e perdidas os tornam,
Nem por um pouco pestanejam,
Não venham os nauseabundos e os vejam
E façam deles sapatos.
Ah, julgais que é barato mandar cantar o cego?
Canta antes o raio do gato
E dança as sevilhanas, e vai sambar,
E persegue dois ou um rato.
Digo eu, de fora, que enxergo,
Mas pouco vejo também e não sei cantar.
Antes que me perca, voltemos à noite,
Não nos venha a socorrer o Sol
(Não me apetece!)
É que a emoção,
Assim,
Esmorece.
Durante a visita lunar encontrei-o.
Lá estava, envergando toda a sua imensidão,
Estrutura sólida de homem, ruividez
Pés descalços mas clara sublime tez
(Que inveja me fez!).
Esperava momento oportuno.
E eis que o chega, quando chega o outro,
O casal distraído até de si próprio
Que se vai esquecendo nas entrelinhas,
Mas nunca se esquecem suas partes.
Quando interpelado,
Unem-se as partes e inicia-se diálogo.
"- Sabes quem é? - dizia o olhar
- Se soubesse, não terías de perguntar,
Somos os dois um só!
Não dispas aqui a nossa verdade,
Finjamos união, como publicidade!"
"- Olá, quereis batatas-fritas?
A máquina avariou-se, aqui a do metro,
Há-as ali para dar e vender,
Ou para parvos, como eu,
As virem, a vós, oferecer."
E, franzindo a sombracelha,
Fazem-se os dois de bons comparsas,
Seguindo o seu ideal caminho.
É por isto que há relações falsas,
Que não aceitam batatas alheias.
O homem, apático, ficou sozinho.
Às vezes a fome mata,ou mata-nos a falta dela.
Tuesday, December 16, 2008
Título
Sí-la-bas
CAPS LOCK
Síndrome CARAGO de DASS Tourette
letras
Cor-de-rosa
--------------------------------------------------------
Às vezes, o óbvio é o mais complicado.
CAPS LOCK
Síndrome CARAGO de DASS Tourette
letras
Cor-de-rosa
--------------------------------------------------------
Às vezes, o óbvio é o mais complicado.
Friday, December 05, 2008
Wednesday, December 03, 2008
Ding Dong
A Maria partiu.
Chamo por ela às vezes, mas as vezes perdem-se nas contas que faço e faço contas à vida.
A Maria não vai voltar.
Sei disso por causa das circunstâncias e circunscrevo-me nelas, com letras que se encontram num desespero de realidade.
"Maria, tanto queria que ouvisses agora,
Agora que as letras falam alto, porque falam para ti.
Estão, são, dirigidas a ti num desabafo,
Pois que o amor não se divide,
Multiplica-se infinitamente no tempo.
E o espaço, esse, é definido pelos Deuses do destino."
- Acreditas no Destino, Maria?
"Eu sei que posso acreditar, ou que consigo fazê-lo,
Acreditar,
Acreditar que podes, se eu quiser, voltar,
Aqui, no meu pensamento.
Este meu espaço pertence às minhas pálidas mãos,
E tracei-o com lápis de cor e de cera,
Que se a saudade é fera,
É também uma doce campainha."
Chamo por ela às vezes, mas as vezes perdem-se nas contas que faço e faço contas à vida.
A Maria não vai voltar.
Sei disso por causa das circunstâncias e circunscrevo-me nelas, com letras que se encontram num desespero de realidade.
"Maria, tanto queria que ouvisses agora,
Agora que as letras falam alto, porque falam para ti.
Estão, são, dirigidas a ti num desabafo,
Pois que o amor não se divide,
Multiplica-se infinitamente no tempo.
E o espaço, esse, é definido pelos Deuses do destino."
- Acreditas no Destino, Maria?
"Eu sei que posso acreditar, ou que consigo fazê-lo,
Acreditar,
Acreditar que podes, se eu quiser, voltar,
Aqui, no meu pensamento.
Este meu espaço pertence às minhas pálidas mãos,
E tracei-o com lápis de cor e de cera,
Que se a saudade é fera,
É também uma doce campainha."
Wednesday, November 12, 2008
Questão sobre a atingibilidade das coisas
- "Desculpe, tem daquilo?
- Daquilo quê, menina?
- Daquilo, senhor. Daquilo.
- Se a menina se explicar, talvez a possa ajudar.
- É daquilo. Queria um pouco daquilo.
- Não a compreendo, menina.
- Um pouco não. Quero muito daquilo.
- Não me sabe explicar melhor o que deseja?
- É só daquilo.
- Ah... Daquilo?
- Sim, disso mesmo!
- Daquilo... Bem, não tenho nada que lhe sirva.
- E se passar mais tarde?
- Mais tarde quando? Às cinco?
- Não... Depois.
- Depois quando?
- Amanhã, quiçá depois. Vá passando.
- Quando? Quando vou passando?
- Venha vindo...
- Até quando?
- Não lhe sei dizer.
- Mas não tem, está para vir, esgotou-se...?
- Daquilo não se esgota, por regra. Mas não tenho aqui nenhum para si, menina.
- Venho vindo, é?
- Sim, passe cá de vez em quando.
- Isso é para sempre?
- É para enquanto houver esperança."
- Daquilo quê, menina?
- Daquilo, senhor. Daquilo.
- Se a menina se explicar, talvez a possa ajudar.
- É daquilo. Queria um pouco daquilo.
- Não a compreendo, menina.
- Um pouco não. Quero muito daquilo.
- Não me sabe explicar melhor o que deseja?
- É só daquilo.
- Ah... Daquilo?
- Sim, disso mesmo!
- Daquilo... Bem, não tenho nada que lhe sirva.
- E se passar mais tarde?
- Mais tarde quando? Às cinco?
- Não... Depois.
- Depois quando?
- Amanhã, quiçá depois. Vá passando.
- Quando? Quando vou passando?
- Venha vindo...
- Até quando?
- Não lhe sei dizer.
- Mas não tem, está para vir, esgotou-se...?
- Daquilo não se esgota, por regra. Mas não tenho aqui nenhum para si, menina.
- Venho vindo, é?
- Sim, passe cá de vez em quando.
- Isso é para sempre?
- É para enquanto houver esperança."
Sunday, October 26, 2008
Há quem diga que o saudosismo é português
Sei que o de trás já passou
Subtilmente, sem que o visse fugir
Sempre cantando baixinho
Soprando ao de leve, levezinho
"Ser criança é sorrir!
É não saber, é sentir
É correr, é distrair,
É saltar.
Ser criança é ser do mar,
Ser do fogo, ser da terra, ser do ar,
Ser.
Ser.
Ser..."
Se as memórias cantassem baixinho também,
Seriam sussurros doces.
A infância, a doce infância,
De Verões que sabiam a gelados
De canções que tocavam aos sábados.
E aos domingos!
Minha, a ignorância.
É que às vezes, a infância,
Se guardada dentro de nós,
Sabe esconder-se bem.
E sai-se, por vezes, sabendo surpreender-nos,
Rebentando em nós tremenda saudade,
Sabendo sempre lembrar que a verdade
Esta que hoje sabemos,
Está longe da realidade que um dia
Um dia, em tempos,
Conhecemos.
Tenho saudades tremendas!
Saudades que sinto como fendas
Que o hoje não sabe suturar.
São tristes, não necessariamente más.
São aquilo que são, e nada mais.
Vêm lembrar-me os meus pais, em dias de antigamente,
Quando dizia, a gente,
"Ainda a vida te está pela frente",
E outras coisas tais...
Tenho também saudades que chegam, e sucumbem,
São essas saudades as que me acudem
Sempre que parece não haver esperança.
É que às vezes, a tristeza é mansa
E penetra-se nas fendas.
Nestas fendas que as saudades tremendas
Parecem rebentar.
São saudades que nunca poderei travar.
Subtilmente, sem que o visse fugir
Sempre cantando baixinho
Soprando ao de leve, levezinho
"Ser criança é sorrir!
É não saber, é sentir
É correr, é distrair,
É saltar.
Ser criança é ser do mar,
Ser do fogo, ser da terra, ser do ar,
Ser.
Ser.
Ser..."
Se as memórias cantassem baixinho também,
Seriam sussurros doces.
A infância, a doce infância,
De Verões que sabiam a gelados
De canções que tocavam aos sábados.
E aos domingos!
Minha, a ignorância.
É que às vezes, a infância,
Se guardada dentro de nós,
Sabe esconder-se bem.
E sai-se, por vezes, sabendo surpreender-nos,
Rebentando em nós tremenda saudade,
Sabendo sempre lembrar que a verdade
Esta que hoje sabemos,
Está longe da realidade que um dia
Um dia, em tempos,
Conhecemos.
Tenho saudades tremendas!
Saudades que sinto como fendas
Que o hoje não sabe suturar.
São tristes, não necessariamente más.
São aquilo que são, e nada mais.
Vêm lembrar-me os meus pais, em dias de antigamente,
Quando dizia, a gente,
"Ainda a vida te está pela frente",
E outras coisas tais...
Tenho também saudades que chegam, e sucumbem,
São essas saudades as que me acudem
Sempre que parece não haver esperança.
É que às vezes, a tristeza é mansa
E penetra-se nas fendas.
Nestas fendas que as saudades tremendas
Parecem rebentar.
São saudades que nunca poderei travar.
Sunday, October 12, 2008
E com flores, tu partiste
E partiste na mais clara manhã de Outono
Que das folhas secas brotou demais cor.
E surgiram alegres pássaros, cantando
Fugiu-se a entrevada tristeza a mando
Do que por ti vi, que foi amor.
Sim, foi amor.
Que as palavras e as recordações serão eternas - ainda que saudades apertem.
Eu sei que estarás sempre aqui.
Saudades, Maria .
Que das folhas secas brotou demais cor.
E surgiram alegres pássaros, cantando
Fugiu-se a entrevada tristeza a mando
Do que por ti vi, que foi amor.
Sim, foi amor.
Que as palavras e as recordações serão eternas - ainda que saudades apertem.
Eu sei que estarás sempre aqui.
Saudades, Maria .
Friday, September 12, 2008
Renovar, Recriar e Construir
Este é o tempo da mudança.
Sinto o vento bater-me na cara
Feroz que nem rugidos.
Apuro os meus cinco sentidos
E faço rumo à estrada.
Sinto o vento bater-me na cara
Feroz que nem rugidos.
Apuro os meus cinco sentidos
E faço rumo à estrada.
Friday, September 05, 2008
Desassossego
Voava daqui hoje se pudesse
Para criar um mundo só meu.
Lá voariam balões, e confétis,
E flautas, e padeiros.
E eu dançaria, sem parar,
Ou parava, em determinados paradeiros
Onde estivessem os padeiros
Com pão para me dar.
Mas pão não queria somente
Que sou ser de alimento.
Embora esse alimente...
Quero mais para meu sustento.
Quero chupas, lolipops,
Quero fantasias e maçarocas,
Quero trocas e baldrocas,
Quero chocolates e piri-piri,
Quero um martini, e um daiquiri.
Saltar, pular, fugir,
Não raciocinar, cantar, fingir,
Ser real, cair na real, trocar um euro por um real,
Conseguir realmente curtir
Sambar, valsar, rir,
Casar com um amendoim.
Hoje vou brindar a um rim.
Para criar um mundo só meu.
Lá voariam balões, e confétis,
E flautas, e padeiros.
E eu dançaria, sem parar,
Ou parava, em determinados paradeiros
Onde estivessem os padeiros
Com pão para me dar.
Mas pão não queria somente
Que sou ser de alimento.
Embora esse alimente...
Quero mais para meu sustento.
Quero chupas, lolipops,
Quero fantasias e maçarocas,
Quero trocas e baldrocas,
Quero chocolates e piri-piri,
Quero um martini, e um daiquiri.
Saltar, pular, fugir,
Não raciocinar, cantar, fingir,
Ser real, cair na real, trocar um euro por um real,
Conseguir realmente curtir
Sambar, valsar, rir,
Casar com um amendoim.
Hoje vou brindar a um rim.
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