Thursday, December 18, 2008

Inacabado

Mais uma,
Mais uma de muitas
Noites vadias e perdidas
Das que os rostos belos temem
E os nauseabundos festejam.
Mais uma noite de gatos
Que, pardos ou não,
Se as vadias e perdidas os tornam,
Nem por um pouco pestanejam,
Não venham os nauseabundos e os vejam
E façam deles sapatos.
Ah, julgais que é barato mandar cantar o cego?
Canta antes o raio do gato
E dança as sevilhanas, e vai sambar,
E persegue dois ou um rato.
Digo eu, de fora, que enxergo,
Mas pouco vejo também e não sei cantar.
Antes que me perca, voltemos à noite,
Não nos venha a socorrer o Sol
(Não me apetece!)
É que a emoção,
Assim,
Esmorece.
Durante a visita lunar encontrei-o.
Lá estava, envergando toda a sua imensidão,
Estrutura sólida de homem, ruividez
Pés descalços mas clara sublime tez
(Que inveja me fez!).
Esperava momento oportuno.
E eis que o chega, quando chega o outro,
O casal distraído até de si próprio
Que se vai esquecendo nas entrelinhas,
Mas nunca se esquecem suas partes.
Quando interpelado,
Unem-se as partes e inicia-se diálogo.
"- Sabes quem é? - dizia o olhar
- Se soubesse, não terías de perguntar,
Somos os dois um só!
Não dispas aqui a nossa verdade,
Finjamos união, como publicidade!"
"- Olá, quereis batatas-fritas?
A máquina avariou-se, aqui a do metro,
Há-as ali para dar e vender,
Ou para parvos, como eu,
As virem, a vós, oferecer."
E, franzindo a sombracelha,
Fazem-se os dois de bons comparsas,
Seguindo o seu ideal caminho.
É por isto que há relações falsas,
Que não aceitam batatas alheias.
O homem, apático, ficou sozinho.

Às vezes a fome mata,ou mata-nos a falta dela.

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