Monday, June 01, 2009

É precisamente isto.

[...] Hoje caminhei com os lábios vermelhos pela ponte mais velha da minha aldeia. As nuvens continuavam lá em cima e acima de tudo cantavam os pássaros.
- Não quero morrer!
Sentei-me numa pedra, cruzei as pernas semi-deitadas no chão frio, estendi o meu vestido às rosas e senti-me no topo do mundo, ainda que estivesse apenas no topo da velha ponte da velha aldeia de Maçores. Aí, jurei pra nunca mais morrer. Olhei para cima com todo o meu desrespeito à luz da Primavera de Abril, cheio de toda a sua azulez de céu despido de amor - ao menos, e valha-nos o calor, trazia os meus lábios vermelhos -e detestei aquela estação do ano detestável ainda mais um pouco. Intrigou-me a piadeira dos pássaros, que pareciam alheios a este espetáculo de friez descabida. Ora, onde já se viu, um dia completo de nudez flácida. Chateia-me. Puxei do cigarro, desapertei os sapatos. Um isqueiro, um truque e ali estava eu, a deliciar-me com o doente alcatrão. Fitei-o. Questionei-o. Questionei-me.
- Nãããã. Sai daqui.
Atirei o cigarro ao chão e tossi, enojadamente. Esfreguei as mãos nos lábios brutalmente e tal foi que espalhei batôn pelas rosáceas, roçando a Maria Puta que, satisfeita ou não, aproveita para se render à comodidade de um sossego sujo. Passou um cão. Observei-o e depois esqueci, como se nada ali tivesse passado, qual alma insensível, outrora rendida ao amor de um fumo. Estava ali porque queria sentir de novo. [...]

2 comments:

Francisco said...

O melhor turn off de todos os tempos:

«-Nããããã. Sai daqui.»

Barreira said...

de bom gosto :D

gostei