Sunday, February 07, 2021

deambular

Aqui,
onde passam as ambulâncias, lá fora,
onde oiço o órgão de igreja na rádio
o ar é quente, denso, 
às vezes custa-me respirar.

Os dias passam como dantes
mas as estações perderam os limites.
As do tempo, as do comboio,
é uma viagem sem destino
que me deixa instavelmente estabilizada.

Tenho dificuldades em ver os carros parados.
Não sei quando voltarão a andar.
E se
o voo dos pássaros estivesse mesmo ali
e eu sem lhes conseguir tocar?

Movimento, apatia, 
estar-se parado é não ter caminho.
A menos que a estrada seja interna,
e se nessa não me movo, silencio.

As cordas do violino agora, na rádio,
lembram também que há espaço para a mudança,
e o seu tremelicar demonstra
que na vulnerabilidade reside a força,
a beleza intocável, intrínseca.

E não sei se há som mais bonito
que o do piano, quando chora,
aquele bonito piano branco, que chora.

No meio de tantas viagens
quiseram os meus pés trazer-me aqui
a esta areia fria, sóbria,
que lembra com melancolia os dias de Verão.

1 comment:

Mário Santos said...

Olá João! :D

Como estás????

Engraçado como de x em x anos lembro-me e lá vou ao Google procurar o asvezestenhosono a ver quando chega o dia em que já não o consigo encontrar mas... continuas a surpreender! Ahah...!! Os meus parabéns por continuares, a espaços, a dar asas á tua veia poética aqui no teu fiel blog.

Um dia gostava de saber de ti. Já foi há tanto tempo que falamos pela última vez. Tenho a certeza que teremos assunto para umas horitas. :)

Beijinho grande do Mário. Aquele que (supostamente :P) te deu a tua primeira lição de condução.

mario_santos66@hotmail.com