Thursday, May 03, 2012

Hyperreal Paitings

Isto veio da cabeça de alguém que pinta.

Monday, April 30, 2012

Thursday, April 26, 2012

Tuesday, April 24, 2012

Lembrete

Aqui

Aqui fica registado.
Se foi falado não interessa,
fica feita a promessa
de que estou mesmo aqui ao lado.

Thursday, February 02, 2012

Monday, January 23, 2012

omnipresença (não)

Conheço-te quando estás
e quando sei que a tua mão cruzará com a minha
para sentir a tua pulsação,
a tua dor, a tua água,
és chuva que cai na plantação
das mais belas flores.

És o corpo mais presente de todos os corpos,
vejo-te crescer em todos os frutos
que vou colhendo, porque sei que lá estarás,
e nasces três vezes em cada um deles.
É, sou eu que te reproduzo no olhar,
cega que estou de tanto te querer ver.

Conheço-te quando vais
porque ficas sempre.
E a mão, que agora não encontra outra,
pede ao espelho que a acompanhe,
enquanto a ideia de ti aquece o reflexo
daquele corpo que também tu és.

Mas este lugar é controverso
porque não és a ideia de ti.
És filho da minha irracionalidade,
triplico-te, toco-te na superfície gelada,
és a chuva, és o mar e as flores.
Se te penso é porque que estás longe,
por isso, meu amor, não demores.

Thursday, January 19, 2012

Até amanhã, de Eugénio de Andrade

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.


Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Thursday, December 15, 2011

Sunday, December 04, 2011

a state of suspended animation



a partir de 05:08

it sums it all up

Sunday, November 27, 2011



Oh, it's such a perfect day
I'm glad I spend it with you

Friday, October 28, 2011



Booka Shade
Video shot by Stephan Hambsch

Thursday, October 27, 2011



Director: Saam Farahmand
Producer: James Waters
Choreography: Jennifer White & Leah Mckesy
Editor: Tom Lindsay
Hair & Make Up: Dorita Nissen
Director of photography: Will Bex
Styling: Nova Dando

Wednesday, October 26, 2011

European Professional Women's Network

http://www.europeanpwn.net/

Wednesday, October 19, 2011

"Don't fall in love with yourself"

Zizek em Wall Street.

“We’re not dreamers. We’re awaking from a dream turning into a nightmare. We’re not destroying anything. We’re watching the system destroy itself.”

Aqui: http://roarmag.org/2011/10/zizek-at-wall-street-protest-dont-fall-in-love-with-yourself/

Rad Hourani S-S 2012 Unisex Collection

Tuesday, October 18, 2011

está escuro
na sombra da ideia de que fugir é possível
está escuro
quando tento subir e subindo há um muro
e caio
como se um raio entrasse em mim
e eu soltasse por ele dentro
está escuro
na palavra que
sempre
rasuro

Thursday, September 29, 2011

é o teu corpo
são as formas dele que se estendem nas minhas
enquanto todas as formas do mundo desaparecem

e é quem nele habita que me prende,
quando na sua voz a minha voz se estende
em surdina

Thursday, September 22, 2011

a direcção pouco importa,
que o sentido está em média luz
e chega-nos a candeia incompleta.
e sigamo-lo, que me seduz
a caminhada incerta. isto porque está
a tua mão sobre a minha
onde toda eu sou certeza
de que a nossa leveza
é esperta.

do António Aleixo, Grande

Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.

Monday, August 08, 2011

- no subject -

É como
se a soma de todas as coisas
e de todos os sonos dormidos
me trouxesse
até aqui,
propositadamente,
acreditando que na dança das folhas
das árvores
há sentido para este passeio.

Tuesday, July 05, 2011

ficando moribunda

É a não-fome e o falso jejum
estou sempre tão cheia
de não te ter aqui.
E ali, onde paras,
são as horas e são as demoras
o meu corpo em revoltas.

eis que
decidiu o ventre rebentar em vértebras.

Thursday, May 19, 2011

SMD



O intelecto pode ser maravilhoso
mas a carne
é crua.

Friday, May 13, 2011

brinco ou argola doirada

ainda te tenho
ainda te tenho cá dentro, ciganita,
e rodas as saias de malhas que trazes
vestidas, e rodas sabendo que nas investidas
que fazes
trazes contigo um vendaval.

oh, quisera saber-te eu sempre aqui
sem ter de recorrer ao mercado comum.
mas folgo a fome que me matas depois de tanto jejum.
It's been a long time long time now
Since I've seen you smile

Tuesday, March 08, 2011

Saturday, February 19, 2011

a palavra é apenas uma memória

Ao ouvir uma canção o corpo responde. Inicialmente vibra apenas, mas após uns segundos sente uma necessidade maior de se movimentar mais e, acompanhado pelas batidas da música, desenvolve gestos mais ou menos bruscos, dependendo aí de quem dança. Ao som de algo estilo house ou jazz, pouco importa, o sujeito dono do corpo em causa torce e contorce os membros de forma ritmada. Independentemente do sítio, a dança desenvolve-se sempre da mesma forma. Poderá, contudo, provocar reacções diferentes, consoante o público. Há quem se mostre chocado pela animalidade demonstrada pelo bailarino. Há também quem lhe admire a coragem, ou até a graça – é uma questão de sensibilidade. Mas, em última análise, o sujeito não terá muito com que se preocupar. Uma vez que todos os elementos do público também possuem corpos todos estarão dançando, vítimas da mesma condição. Em suma, a dança é apenas um movimento.
Para contemplar um quadro é necessário que se abra os olhos para visualizá-lo. Há vezes em que o processo é complicado. Por exemplo, quando há uma grande variação na quantidade de luz recebida o sujeito pode sentir-se incomodado. Mas, uma vez ultrapassado este primeiro obstáculo, e na presença de uma pintura, é possível iniciar a contemplação. Quem o faz observa a presença ou ausência de cores, formas. Às vezes observa corpos de mulheres despidas ou crianças correndo. Analisa a situação em questão dentro dos limites da tela; vê o que lhe está defronte e fica. O processo não tem uma duração temporal específica, mas normalmente não vai além dos cinco minutos. Em suma, a contemplação de um quadro é apenas a visualização de uma tela.
Para dizer “mãe” é preciso recorrer-se a um arquivo de palavras. Apesar de estas, quando na língua materna, se assemelharem a designações naturais, a verdade é que são uma criação humana. Designaram-se os objectos, as sensações, os processos, enfim, tudo ou quase tudo quanto se conhece. A utilização de palavras na comunicação oral presume um conhecimento relativamente vasto de significados, de modo a que as palavras se possam articular e criar algum sentido. É necessário ter-se capacidade de armazenamento de informação para conseguir guardar esses conhecimentos. Em suma, a palavra é apenas uma memória.

Wednesday, February 09, 2011

Al Berto, à procura do vento num jardim de Agosto

Sei que darei ao meu corpo os prazeres que ele me exigir.
Vou usá-lo, desgastá-lo até ao limite suportável,
para que a morte nada encontre de mim quando vier.

Monday, January 17, 2011

se quiser pode ficar

Não se deve ter medo da senhora,
deve deixar-se que entre.
Por que não? Mais um convidado em casa
é sempre bem querido.
Venha, senhora,
entre e encha o meu abrigo,
tenho aqui pedaços de alma
e sons a acompanhar.
Sei que domina a arte
de fazer sonhar.
Nem precisa de me falar disso,
sempre que a vejo recordo-me
dos tempos de criança,
que são tempos de agora, até,
nestas horas cheias de fé
em que o coração balança.

Ouvi dizer que gosta de CocoRosie
e escrever, é certo?
Aperto-lhe demasiado as mãos assim?
Ai, desculpe, só não quero que tenha frio,
chegue-se para perto, aqueça-se em mim.
O meu corpo é grande,
chega para nós duas.

Sunday, January 09, 2011

deserto em lugar de selva

Eu não sei o que faço aqui

- e é genuíno, sincero e até comedido,
na medida em que não expludo
em linguagens ou gestos ou sons.

São três...dois...um...segundos lentos
e lânguidos que passam doendo,
oh sonhos que outrora vibravam
num peito quente. E ardendo, sim,
ardendo depressa o que de mim jaz
agora, era madeira em lugar de coração,
eu sabia, é pó e cinza que desfaz.

Saturday, January 01, 2011

dedico ao tempo, que passa

corre, mas não canses

Olá
Já chegaste e continuas tão longe

És horizonte e desejo mas medo,
não me leves a mal, sou nova nisto,
ou menos nova agora que chegaste.

Como é que continuas a chegar
dentro dos limites da normalidade
sem que ninguém te detenha?
Serás assim tão poderoso?
A criança que te desenha não vê
nos lápis de cor as sombras que trazes atrás
mas luz e forma,
em forma de paz.

Oh tempo-tão-poderoso não me leves
como ainda não levaste até agora,
ainda que tenha passeado contigo.
O teu saber é até amigo
quando me acompanha na aurora.

Wednesday, December 29, 2010

multiculturalidade

hoje, num lapso dos tempos e das memórias,
lembrei que muito há de matemática na poesia
e na vida, e na poesia da vida, das histórias
que não remetem apenas a glórias de tempos passados
mas ao traçar de uma velha geografia.


tudo é poesia.

Monday, December 27, 2010

manjar

E come
e come
e come,
mais fruta,
chocolate,
mais bolos,
as flores!, não!, as flores não!
mas é tarde, Trazes as mãos de polvo
com que por vezes escreves
e de onde sempre o prazer louco,
que achas pouco, provém.

Grita o pai, o avô, grita a mãe!,
eis banquete de beleza extrema
em que o lugar da contenda
dá forma à tradição.
Mas, e daí, as flores não,
o chocolate,
e as frutas,
e, ai, os bolos também.

Polvo na mesa, falo da tua mão,
e já pouco há que manjar.
Restam os gritos, os apitos,
as pessoas a celebrar,
as barrigas cheias e
cheias as flores de pesar,
não porque restem, mas porque sobram
as pétalas.
"e as texturas, os odores,
os hortos cheios de amores
e o carinho, onde pára o vinho
que se faz para beber? sóbrios,
sóbrios de tanto que é podre,
que se perdem no caminho
e sozinhas ficamos na jarra."

A mesa ficou vazia.

Thursday, December 23, 2010

ideia

Não, não vou a outras fontes que não as tuas
matas-me a sede sem ter que beber

só de olhar, a fundo, e
sem saber onde pára o mundo
dás-me vida e luz e saber.

Monday, December 20, 2010

Euforia

cai neve no cérebro vivo do imaculado - dizem
que este milagres só são possíveis com rosas e
enganos - precisamente no segundo em que a insónia
transmuda os metais diurnos em estrume do coração

dizem também
que um duende dança na erecção do enforcado - o fulgor
dos sémenes venenosos alastra no brilho dos olhos e
um sussurro de tinta preta aflora os lábios
fere a mão de gelo que se aproxima da boca

o vómito da luz ergue-se
das palavras ditas em surdina

a seguir vem o sono
e o miraculado entra no voo dos cisnes
o dia cansa-se
na brutalidade com que a voz se atira contra as paredes
abrindo fendas
em toda a extensão das veias e dos tendões

quando desperta com o crepúsculo
o miraculado olha-nos fixamente e sorri
dá-nos uma rosa em forma de estilete - fechamos os olhos
sabendo que este é o maior engano
da eternidade


Al Berto

Helmut


Wednesday, December 01, 2010

pedaço

Caras sorrindo e esqueletos abrindo em flores
amores, tudo em festa, porque é esta
a rua certa no caminho à coisa-do-lado.

Nem é fado ou sorte do trevo,
é pralém do que escrevo e
é o brilho do servo interno,
eterno à construção dos edifícios,
prédios de canção e apego
de sorrateirices e desassossego
de brilhantarias ou misérias
ainda assim sérias
no objectivo comum da dança.

Neil Hannon

Tuesday, September 14, 2010

A stone, a car, a safety belt,
nothing I said I felt
is now real,
but still
what is.

Thursday, September 02, 2010

Canção em zero quê's

Sei lá que te diga, que me diga,
digam-me o que dizer, que já não sei
já nem sei se no outro dia falei
ou só sonhei contigo.

Se foi nas palavras que me requebrei, em tempos,
surgiram contratempos e quebraram-se os laços
em possivelmente os piores percalços
da história dos corpos e altitudes.
Não, vento, não me mudes,
apesar das núvens, do bizarro e do frio,
eu sei que é o sono, em todo o seu vazio (todo...!)
e em breve chegará a sorte, em magote, o brio.
Como hei-de eu tocar no limbo se não através da palavra?
Para lá dele estarão os sentimentos, creio,
mas aqui onde semeio tempestades e sorrisos
ouvem-se os tambores, o rufar, e os guizos,
as óperas ao amar, em solos mais torcidos ou lisos
e vivo deles, destes sons de esperança e sonho
de que, tendo sono, me componho.

Wednesday, August 11, 2010

Quando vê o Sol de lá de baixo

Onde pára a sensatez da coragem
em pratos limpos por estrear,
no chão? Nas escadarias?
Tudo isto é trabalho. Tudo.
O novo e insensível foi ali,
aqui é stops e trinta por uma linha,
mas de aço, ninguém a cambalear.
Apaga, e volta, para mais de mansinho tentar,
a revolta lá ficou a apagar e o fogo,
o doce nos queques do lanche é
um peixe em alto mar. Agora,
agora é que o é, atenção,
que antes das culpas
tudo era perdição.
Maldito sejas, copo de vidro,
que se cais te partes e feres,
e isso retrai. Quisera eu poder
voltar mas não vejo como,
presa no imaculado altar.
Sensatos são os pecadores
que sabem quão alto gritar.

Sunday, July 11, 2010

Feliz
tenho sono, tenho calma,
apesar das pequenas borbulhinhas
no corpo e na alma,
vou sair amanhã pela tarde.

Vinte
e duas horas depois das dezasseis,
é por lá que me baterei na rocha
trarei o fio no peito e uma tocha
para dormirmos sem medo.

Dias
que parecerão minutos escassos
tal será a ocasião e os espaços
assemelhar-se-ão
Ao
Sol

Thursday, July 08, 2010

E foi nas vezes em que mais insana aparentei ser
que mais me revi, qual espelho,
ainda que os olhos do outro lado se assustassem.
Nem soube se os meus se outros,
quem sou eu e quem sois vós? Às vezes não consigo discernir.
É espelho é, mas se sou eu, como posso não saber?

Sunday, July 04, 2010

Viagem em violento azul

Soubeste do pássaro que poisou no parapeito
da janela do jardim? Eu já não o encontrei
mas contaram-me que chegou por mim.
Trouxe orquídeas, orvalhos, odores,
horas de alturas ardendo amores,
mas perdi-me nas pedras do passeio
viajei em voltas, em voltas vagueio
vendo se o via, mas já o perdi.

Soubeste do calor que cantou na cidade?
Não o senti, mas em boa verdade
soube, como se sabem nesta idade,
os trauteios da sombra e da saudade.
Que o calor que cantou caiu pela calçada
queimando os pés a pedra perfurante
do transeunte distante, e ardeu longe,
Longo e distante, o peito do breve amante
em largos decalques de sol cortante.

Tuesday, June 29, 2010

o zero desconstruido e continuado

trinta e três segundos trocados
na meia hora passada das nove,
espaços baralhados em cena
que espelham a inócua contenda
que um relógio de braço promove.

Tuesday, June 15, 2010

consciência do real (zero)

E é quando tudo vem
que quase tudo foi
não fosse a nossa cabeça
a natural-mãe
de todas as coisas.

Tuesday, June 08, 2010

(des)construção contida

Cada camada caiu, como
cai cuidadosamente chuva.

"ca...

ca...

ca..."

Chão consigo, caudal que corre,
Corro comigo como calha
Calhou calhar aqui no blogue
ai deus deixe que me afogue
já me perdi da velha malha.

Cânones? Ali.

Saturday, June 05, 2010

Roald Dahl

Até me tinha esquecido de como gostava disto

Cinderella

[...]
I guess you think you know this story.
You don't. The real one's much more gory.
The phoney one, the one you know,
Was cooked up years and years ago,
And made to sound all soft and sappy
just to keep the children happy.
Mind you, they got the first bit right,
The bit where, in the dead of night,
The Ugly Sisters, jewels and all,
Departed for the Palace Ball,
While darling little Cinderella
Was locked up in a slimy cellar,
Where rats who wanted things to eat,
Began to nibble at her feet.
[...]

E melhor que ler, só mesmo ouvir.

Friday, June 04, 2010

"

Y aquella vez fue como nunca y siempre:
vamos alli donde no espera nada
y hallamos todo lo que esta esperando.

"

Neruda

Thursday, June 03, 2010

hoje

Queria dizer um mundo de flores e pássaros mas
as palavras não chegam. E se assim é, que se cumpra
a lei natural das coisas e se deixe tanto por dizer,
ainda que na certeza da sua essência. É o brilho,
é claridade, é a vontade e a verdade, é a vida!,

lá fora onde eu estarei a tocar o Sol num bater de
pestanas, esquecida da limitação das palavras,
sabendo apenas que o mundo é feito de luz.

Tuesday, June 01, 2010

VAWK


















by: blogto.com

The new thing,
by Sunny Fong.

Sunday, May 30, 2010

Reset

GRITOS

Gritos

Gritos

Suspiros que não são bonitos
nem na forma, nem na essência
sorrisos que estão restritos
a uma triste complacência

está bem

está bem

está mal

Já ouvi, está mal,
dá-me licença que quero passar.
Já é de dia e está sol
e tenho pressa de mudar.

eu deixo

tu deixas

avancemos

Ainda está escuro (trouxe óculos)
e sinto a pele a arder,
tenho medo.

"Se somos um espectro de luz - como as estrelas e não o planetas - e se a luz nos alimenta, vamos ficar obesos de bronze!"

Já não tenho medo
mas ainda não fervo
por dentro.
O espectro é ainda servo
de uma luz em escuro-claro
que é o meu amparo.

Amperes, amperes,
mulheres,
luminosas mulheres
brilhantes,
na forma e no resto
que é bem maior
que o Universo.

Sou eu

E tu

E ela

Lua nova na cidadela.

Sunday, May 23, 2010

the screaming head says

Quero rasgar as cartas que te escrevi
ou queimá-las, para não ter mais de as ver,
mas temo o cheiro que tragam as cinzas.
quero esquecer,
quero esquecer as melodias,
as tuas mãos, as fotografias,
os dedos entrelaçados os olhos
os fados e os folhos das saias que usei
só para te ver sorrir. quero
quero esquecer a vontade, a beleza,
a saudade, a certeza,
deixar-me de prantos
que são tantos, são
são tantos.

Talvez te devesse dar as cartas
e gritar-te ao estômago, pelas borboletas,
tudo de um só fôlego,
sem cinismos, sem letras,
sem mecanismos ou mediações.

Quisera eu ter vários corações
para poder dividir o tanto que trago,
ou queimar as cartas, descoraçada,
que são elas mais tuas que minhas e,
afinal, não valem de nada.

Wednesday, May 12, 2010

Penso

Parto para procurar perdidas
Pérolas, porque perdi pedaço,
Parto parco palavroso, pois
Passei, ponderei, pondero, passo,
Peço paciência para provável percalço.

Tuesday, May 11, 2010

Visão

Vejo vastos vales verdejando
Varrendo vagas vicissitudes.
Violetas vaidosas viajando,
Veio vento, veio voando,
Voam violetas voltando.

Sunday, May 09, 2010

No móvel, imóvel

Era um cacho de uvas em cima da mesa
e tu, sorrindo encantadoramente,
percebeste que o cacho de uvas em cima da mesa
era eu.
Valha-nos o Deus e os tempos,
que em alturas de tristeza
decidiu, sua alteza,
ser uvas!
- Anda trabalhar,
vem, estuda, pensa,
canta, sorri! Eu trouxe,
eu trouxe um presente
para ti.
Sorris, continuas percebendo,
acho até que a culpa disto é tua.
Mas o sorriso não é malicioso,
e o fardo, a mim, não pesa,
acho que estamos num estado de gozo
que ninguém percebe e, a mim,
não me interessa.
- Mamã, a Maria não está,
não andes aí a pedir-lhe coisas.
- Não está? Mas ainda agora...
- Teve que ir embora. Deixa.

Gosto de te ver assim o cabelo,
encaracolado, tocando-te no pescoço,
e a mim gosto de me ver o roxo,
a pele e o caroço.
Tudo é grande, é rosadinho,
e eu não tenho caminho.

Jogo da Vida - Rabih Abou Khalil com Ricardo Ribeiro

Friday, April 30, 2010

suspiro

O corpo
O corpo pálido de saber onde mora a janela
do teu animal pede
que o visites no lugar onde lhe deixaste plantado
o verde mais teu que da natureza
e sabe, o corpo sabe
que na leveza desta visão clarificada
mora a certeza brotada
do teu jardim em flor.

Wednesday, April 21, 2010

sonho 3

Subi a escadaria eterna,
no meio do prado, em caracol,
e ladeada por uma núvem terna,
bamboleou-se-me a cansada perna
e encadeou-me o Sol.
Soube que não podia descer.
"Se chegaste aqui,
consegues voltar!"
Não, eu sabia que não,
e de medo faltou-me o ar.

Friday, April 16, 2010

Parque

Paro, escuto, olho.
ACORDA, diz o outro
que sabe melhor que eu onde me encontro
e é perto de uma passadeira.
Que vergonha, será que percebeu,
o que é que me deu?
Estava de tal maneira
que nem o vi aproximar.
E, bem, verdade é que na cabeceira
tenho uma colecção inteira
de poemas, a estragar,
de sementes que vou guardando
para um dia plantar.

Thursday, April 15, 2010

tarde cheia de luz

Essa capa destapa a pele
das verdades e de quem se é.
Ai que belo! Que divertido!
Tão amarelo! Tão bonito!
Tudo, claro, isto tudo sentido,
juro, juro, querido,
não te estou a mentir.

Para quê desenlaçar o presente?
Fica tão bem o enfeite
e deixa todos a sorrir.
Dá trabalho, não é,
cavar, arrancar, partir,
trazer ao de cima, e, ao de leve,
devagarinho, gostar.

Tudo que é rápido é intenso!
Ao amor? Não, não sou propensa,
obrigada,
prefiro seguir o fado de ver o mundo
de fora.
Deste lado é sempre hora
de cantar.

Tuesday, April 13, 2010

Catarina de Gaia



Devolvo (tentando não desenvolver)

Txau,
até logo,
até depois,
já cá venho.
Se não te vejo, não te tenho
comigo, e se te oiço uns sussurros
parece que crescem muros
que te silenciam.
A quem pertenciam
os meus gestos? A mim?
Não creio,
mas se pensas que me chateio
desengana-te. Os gestos são dos mundos
mais supérfluos ou mais profundos,
e trazê-los é devolvê-los a casa
numa brisa que vem e esvoaça
e me faz chegar.
As minhas marcas são para te chamar
ao meu mundo,
que me parece muito supérfluo
ou pouco profundo
quando não te consigo encontrar.

Sunday, April 11, 2010

Exercício 2


Olhar lilás para as coisas

Onde estás tu?
Tanto tempo passou desde que te vi
a tomar chá no café da esquina.
Imagina que tenho passado lá!
Já era de prever, eu sei
que sabes o meu jeito
imperfeito, eu sei, eu sei, mas
imaginei ver-te no domingo.

Dia bonito, hã, este dia de Primavera
A cada dia que passa desinvernam-se os tempos
os tormentos, e também se encerra
uma estação.
Está-me a aquecer o coração
de ver as flores florir
faz-me viver, faz-me feliz,
faz-me escutar aquela canção
dos meus tempos de infância.
Ai, a reminiscência do agir
traz-me tão mais que poesia,
tão, tão mais que poesia,
alegria.

Exercício


Friday, April 09, 2010

it's that mood indigo (indagando)

Conta-me das tuas histórias,
daquelas que ficaram para trás
e das outras que estão por vir

Fala-me das tuas memórias
mais antigas, e das outras,
e trauteia canções que gostes de ouvir.

Diz-me aqui, baixinho,
qual é a tua cor favorita?
É aquela que tens no sorriso
que trazes contigo?

Ai! Fala-me, fala-me das mudanças,
das tuas mudanças e das tuas esperanças
daquilo que te move, que te muda,
daquilo que sabes e te aturda
o pensamento!

Qual foi o momento
mais especial da tua vida?

O que guardas aí, nessa sacola,
que trazes ao ombro, meia aberta,
olha que ainda te é descoberta
a graça. É que até me embaraça
o teu encantamento.

Qual foi o momento
mais engraçado do teu dia?

Fala-me do teu sonho, da tua fome,
da utopia que trazes nos olhos,
para ver o mundo assim.
É que, às vezes, a mim,
a coisa cega e eu perco-me.

O que é que te prende à Terra?
O que é que te traz aqui, agora,
que não trouxe mais cedo, e demora
a ser dito? O que é que achas bonito?

É só impressão minha, ou...



e



são parecidas?

...lembra, não lembra?

Thursday, April 08, 2010

Por falar em estados de espírito...



It's all too strange and strong

Wednesday, April 07, 2010

"Em 77 todos se drogavam"

O título não é meu, mas valeu a pena roubar.



Especial atenção nos segundos 0:30 e 1:47. E, já agora, reparem como a música encaixa nas situações a ponto de ser - quase - assustador.

Espero que se riam tanto quanto eu me ri.

Tuesday, April 06, 2010

Perco (tudo sempre no auge)

Será o momento que desertou
maior no pensamento
que na realidade? Ou fora
assim tão enorme como me parece
agora? Foi verdade?
Foi, ou é, ou o que se passa,
como se traça o mundo
entretanto,
enquanto não estou contigo,
enquanto revejo tanto?
É sonho? Ou é pesadelo?

Thursday, March 18, 2010

Pra não dizer que não falei das flores

Vem, vamos embora
que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
não espera acontecer

Tuesday, March 16, 2010

Veio com um gigante sorriso amarelo

O telefone está a tocar
(e tenho medo que pare)

Xiuuu, sossegadinho, coração,
a menina vem já e vem pela mão
da Aurora,
que faz tempo, e é hora,
de cantar!

"Sei bem que esperaste por mim,
desculpa a demora. Cá estou,
vim de aonde me levou
a estranheza. Mas vagou,
e resta espaço à incerteza,
e quero brincar.
No parque, achas que ainda
há lá lugar para mais um?
É que estou em jejum
até de pular!
Hoje sei que os meninos
do parque
me estão a chamar. Às
vezes
tenho vergonha. Mas a timidez
é medo de
amar.
Então vamos, e deixa-me lá,
amedrontada
e
arrebatada,
pela luz dos sorrisos que
não pára de
me apaixonar."

Saturday, February 13, 2010

carta a um amigo

há dias perguntaram-me
porque deixara de escrever.
gostei do breve reparo
e, sem mais amparo,
apresso-me a responder:
D,
escrevo pelo motivo.
Pelo motivo do canto,
da dedicatória,
do escrever, ou da memória,
ou do antever.
escrevo com gosto, com vontade,
escrevo com alguma verdade
e com algum querer.
não sou bem eu quem me traz,
sou mais eu quem se desfaz,
pelas palavras.
requebro-me, perco-me nelas,
aprendo-as e traduzo-as.
Escrever não é pois passatempo
é obrigação do tempo
que corre.
E se não escrevi, sabe,
foi pelo motivo.
Não tendo motivo não tenho comigo
as palavras, que me têm a mim.
é do sono que se apossou,
uma matéria sublime e decrépita,
que me cega, me aturda, me surda,
deixando-me apaticamente muda.
Se não escrevi não foi por falta de tempo,
foi por tempo a mais, tempo estranho,
daquele onde não me revejo
nem em frente ao espelho.
Mas, amigo D.,
obrigada pelo reparo,
e olá uma outra vez.
Terá sido daí que voltei?
Talvez.
Mas prefiro acreditar que não,
desculpa,
é que se aqui há culpa
deixa-me matá-la sozinha.
É o tal sono, sabes?
Aquele de que falo às vezes,
mas estou a mandá-lo embora.
Motivos.
É o caminho que constrói a fortuna
e é dele que vivemos,
embora por vezes nos apartemos,
até mesmo do ser, ou do ideal,
ou das motivações.
Quis que soubesses, amigo D.,
que para além de escrever para ti
escrevo por ti, por mim, para mim.

Escrevo para a vida, para a escrita,
para as metamorfoses e para a memória
para as motivações, para a beleza,
para aquilo que aconteça
com este pedaço de história.
Ainda que seja pouco, será para quem quiser.
E, entretanto,
amanheceu.

grito às aranhas

Sete. Sete da manhã que sabem a noite
e é noite, está escuro lá fora.
Onde pára a aurora?
Configurei o meu olhar com limites de moldura pitoresca
e quero voltar a ver o mundo às corezinhas
mas está-me a custar.
sabem, estou a chorar.
talvez seja deste sono
imundo
este sono profundo
que se estende
pelo corpo
pela sede
pelo desejo
ai! se soubesses como prevejo
os dias anteriores a mim!
eu sei, eu sei que vou voltar,
digo-o repetidamente
digo
digo
digo
digo esperançosamente
que só a posso deixar morrer
depois de mim.
às vezez de que vale a pena viver
se não por capricho dos outros?
não tenhais pena,
não sou vítima,
mas às vezes,
nestas vezes,
a dor é tão íntima
que não dá para entender.

discorro.
não me levem muito a sério,
eu não me levo muito a sério,
talvez o problema seja esse.
mas não me entristece,
triste é a apatia
que se apossou de mim.
mas na selvajadaria das ramificações
eu sei que serei mais forte
é a mente
é o brio
é a sorte
é o canto em magote
que repito assim assim.

vou dormir, eventualmente,
e será em breve, garanto.
vim só discorrer este pranto
que quis sair, fugir assim,
depressa e em espanto.
é sinal que sobrevive num recanto
aquilo que me aquece
e num breve sopro reaparece
relembrando-me de mim.

vou dormir.
quando acordar, virei pé ante pé,
devagarinho, com algum cuidado,
que o sono ficará adormecido
demente, podre, entorpecido,
esquecido, seco e vago.

Friday, January 29, 2010

Dream, dear Flim

Tuesday, December 29, 2009

Corda

Há uma corda que me prende
os membros
e não me está a deixar fugir.
Então fico, na apatia,
na dor da apatia,
e estando a sorrir,
não estou
nem estou,
não me deixa partir.

Estado ou ser?
Não sei.
Nem sei se é dor
se é recorte de caminho.
seja como for
sei que tenho de me compor
sei que quero ficar sozinho.

Tenho um isqueiro na mão,
(tenho mesmo!)
Mas não tenho a força para fazer arder
a corda
que me está a prender.
Acendo um cigarro, e outro,
tudo fácil,
tudo que é fácil,
eu faço por fazer.

Bebo a água, que traz o trago amargo
de um limão,
e não lhe ponho açúcar.

Sozinho, quero ficar sozinho,
Sozinho porque livre de pensamento.
É que se estiveres tu no sonho
estou atado na corda,
na apatia, no medonho,
que é estar preso em mim próprio
sem estar, no entanto,
propriamente em mim.

F.

Wednesday, December 23, 2009

Osklen SPFW 2009

E digam o que disserem, venha o que vier, esta será sempre uma das minhas marcas de eleição.

Sunday, December 20, 2009

Maria Callas

carta 2

O que é escrito, escrito está,
E fica, fica, fica, fica...
Ainda que as luzes digam adeus.

Mas olha, assim como assim,
Pode ser que não chegue quem leia
Já que todos têm que fazer.
É que se há coisa que chateia
É meter-se em vida alheia
Sem ter muito que dizer.

É a coisa do remetente, já disse,
E não se quer enviar cartas erradas.
É que há uns a quem chegam certeiras,
Perfurando-os como espadas,
Mudando histórias inteiras.
"Ai, desculpa, não era para ti!"

Tarde demais.

É que a escrita fica, fica, fica...
E não fica para ti.
Fica para todos, aqui, ou ali,
Fica para quem quiser ler.
E quem lê chega à cova dos lobos
Que muitas vezes descobre
O que nem tem que saber.

Fechemos então os olhos.
Digamos adeus à claridade.
Silêncio. Ouvir. Sentidos.
Já que tão pouco do mundo é verdade.

Friday, December 18, 2009

Canção da esperança

O mundo faz-me rir.
Se porque tropeço ou meço mal os passos
O mundo traz-me rir.

Por quanto de sol há lá fora
E por quanto brilha na aurora
O mundo deixa-me rir.

E se eu caiu nos enganos,
Redondamente,
Reparo, se a memória não mente,
Que por cada vez que remedeio os panos
Cresço outros vinte anos
E rio perdidamente.

Sunday, December 13, 2009

sonho 2

Hoje trazias as calças velhas,
Disseste que querias correr à chuva.
Mas o que é que te deu?
Ainda ontem um amigo meu
Me lembrou que é Dezembro
E está frio, homem!

Discurso da gerbera amarela

Há uma flor de que eu gosto, e é a gerbera. De todas as cores que pode ter, prefiro vê-la amarela.
Às vezes vendem gerberas à porta de minha casa, na Avenida 22 de Dezembro, e quando as compro é para oferecer à minha mãe, que gosta de flores amarelas.
A gerbera tem um caule comprido e muitas pétalas, fininhas. O centro é mais escuro que elas, geralmente. Quando as pétalas são amarelas, o centro é castanho e parece peludo. Às vezes faço-lhe festinhas. É, literalmente, fofinho.
Eu gosto de gerberas. Elas comunicam comigo quase naturalmente - confesso que nos esquecemos das questões de mediação e de interditos quando estamos juntas - e com uma linguagem muito simples. Eu olho para ela, e ela fica. Gosto de a contemplar e às vezes consegue transmitir-me a calma que a caracteriza. É giro.
Eu gosto de gerberas. Gosto especialmente das amarelas, que me lembram a minha mãe - eu gosto da minha mãe. Brilham muito e chegam a parecer sóis. Quando as ofereço à minha mãe e ela sorri também parece um sol.
Eu gosto de gerberas. Devia haver mais canteiros pelo mundo fora. Nos passeios, entre as pedrinhas, gostava que crescessem gerberas. Assim podia, de vez em quando, trazer uma flor no cabelo. Então se fosse amarela é que era! É que eu gosto da cor, e é até a cor do meu cabelo.

Monday, December 07, 2009

sonho 1

Sempre quiseste saber o canto dos pássaros,
Rapazinho da viola!
Achavas mesmo que ias voar?
Tua mãe não te deu asas,
e eu que até chilreio
também não tas sei dar!

Pim pam pum

,cada bala mata um
Lá em cima do Huambo
Tem um copo com veneno
Quem bebeu
morreu

Pim pam pum, cada bala mata um
Lá em cima do Huambo
Tem um copo com veneno
Quem bebeu
morreu

Quiribi, quiribi macaco
Macaco que é boa

Monday, November 23, 2009

carta

Convencionado está que a carta seja um pedaço de papel no qual se podem inscrever letras que, formando palavras (numa determinada língua), constituam uma mensagem que se pretende enviar de uma entidade a outra, materializadas num remetente e num destinatário. A carta é, portanto, um meio através do qual um interlocutor se pronuncia, na sua própria ausência, a um determinado alguém. Visto a distância latente neste processo de comunicação, inevitável, percebe-se que a relação que entre os dois se estabelece é indirecta. De qualquer modo, todo o tipo de diálogo é uma comunicação indirecta, uma vez que a linguagem representa a materialização das ideias, primariamente formadas no pensamento. A comunicação é, portanto, um meio de exteriorização, e não é possível que o seja de outra maneira. A distância nunca é verdadeiramente anulada. Idealmente, tal só poderia concretizar-se através da telepatia, onde um sujeito poderia transmitir a outro aquilo que realmente pensava, mas tal não parece verificar-se. Voltando à questão da carta, e de uma outra perspectiva, menos formal, pode entender-se que o diálogo por ela estabelecido é ilusório, visto que as duas partes estão fisicamente ausentes. Para além da necessidade da exteriorização e consequente materialização dos pensamentos, o indivíduo ainda perde a imediaticidade que o processo anteriormente indicado acarreta e não pode agir sobre as suas ideias. Segundo Kafka, o que é enviado pela carta é então assombrado por fantasmas que se apoderam das acções contidas nas palavras, praticando-as, vivendo delas. Um beijo escrito é bebido pelos fantasmas, como se tal se tratasse de um néctar de juventude, que continuamente os mantém vivos. Logo, um beijo escrito pouco mais é que isso mesmo, visto que não se materializa num beijo. Apesar de tudo, um beijo escrito pode resultar num aquecer da alma, num toque de carinho. Isto se a mensagem for entregue à pessoa certa, se chegar num momento oportuno, se causar “no destinatário” a sensação que o remetente pretende. Voltando à metáfora dos fantasmas, isto acontecerá se, por caso de uma excepção à regra, a carta conseguir resistir, pelo menos um pouco mais, às mãos de tais sedentas espécies. Neste sentido, ou nestas excepções, as cartas são verdadeiras formas de expressão da alma.
A propósito de cartas, é curiosa a forma como por aí se pede que “não se bata no mensageiro” – visto ser um “simples” transportador, que nada terá a ver com a mensagem a ser enviada. No entanto, e de salientar, é fulcral o papel que tem o mensageiro que, no cumprimento da sua função, permite a conclusão do sentido da carta, ao fazê-la chegar à pessoa destinada. Quando uma carta se perde, ou chega às “mãos erradas”, não deixa de ser, formalmente, uma carta. Mas o sentido verdadeiro da carta perde-se, voltando a ser apenas a matéria que a formou: um pedaço de papel, as letras inscritas, o envelope. Há, claramente, diferença entre uma carta que chega ao destinatário e outra que não o faz, como existe diferença entre o estar e o ser. Uma mensagem que chega verdadeiramente ao destino transporta uma mensagem que existe, existindo para alguém. Na que fica pelo caminho está uma mensagem que nunca o chega a ser, na sua plenitude, visto que não cumpre a sua função. A carta que não chega ao seu destino é uma falsa carta, pois que só poderá ter no receptor um de dois efeitos: ou servirá para motivos terceiros, alheios à carta em si (como, por exemplo, para fazer chantagem), ou provocar-lhe-á, no seu expoente máximo, o pleno sentimento de indiferença.
No conto “A Carta Roubada”, de Edgar Allan Poe, são duas as cartas que captam particularmente a atenção do leitor; uma que no início da peripécia é roubada (à pessoa a quem fora enviada, por parte de Ministro D.) e uma outra que Dupin escreve para substituir – aparentemente – a primeira. A carta que é roubada, é-lo por motivos de um terceiro que, ao tê-la em sua posse, ganha algum poder sobre um outro personagem. O conto gira pois em torno das buscas que são feitas no sentido de a encontrar e devolver ao seu verdadeiro destinatário. Cedo se percebe que a carta fora perspicazmente escondida (visto que todas as buscas efectuadas na casa de Ministro D., por parte do perfeito, são infrutíferas). Dupin, de uma forma imprevisível. por aqui infere – e por alguns outros detalhes que lhe são fornecidos pelo perfeito – que o único sítio onde a carta poderá estar será mesmo nos aposentos do - já certo – ladrão, mas, se não escondida, à vista de todos. Como tal, dirige-se ao local em questão e, confirmada a sua suposição, troca a carta roubada/procurada por uma outra. A forma desta segunda carta é semelhante à primeira – para que o ladrão não se aperceba prontamente do sucedido. Mas não só; também o é para que o Ministro D. só a leia num determinado momento: quando desconfiar que a carta que tem na sua posse não é já a carta que tinha. E quando, por via da dúvida, o Ministro D. ler a carta que Dupin lhe deixou, lerá uma mensagem que, inscrita num pedaço de papel, através de letras que, lá inscritas, formam palavras, estará destinada a ele próprio. O remetente, conhecê-lo-á pela caligrafia. No caso, será uma verdadeira carta.
Ainda que minada pelos fantasmas que sempre se apossam das cartas, pois que quem as escreve está ausente no momento da sua leitura por parte do destinatário, esta carta consegue, de certa forma, ser a excepção à regra. Isto porque é bem provável esta carta, apesar da sua limitação física, mexa verdadeiramente com os sentimentos da pessoa a quem se destina, o Ministro D. Citando Kafka, “No entanto, se é uma ilusão, é de qualquer modo perfeita”. Como se, de alguma forma, a carta substituísse perfeitamente a presença de Dupin e a ameaça que essa presença significa.

Friday, November 20, 2009

De novo, nua. Despida e exposta, as minhas verdades são os meus textos, as minhas mentiras são os meus silêncios. Não consigo calar esta voz que fala por mim, que me conhece melhor que eu e me expõe. Ainda que eu cale a boca, a voz há-de sair por mim.
Os caminhos arbustescos não são tão lineares assim, e se a madeira cede não significa que eu caia mesmo. Tudo é em exagero, ou em brutidade. E levantar-me não implica que tenha magoado os joelhos, só que os sujei e vou limpá-los, mas até gosto de tomar banho.
As muletas partiram-se nos caminhos arbustescos
Que, não dando conta do peso que trago,
Tentaram amparar-me na queda.
Ainda que a madeira ceda,
Cedo voltarei a levantar-me.
É dormir e saber que durmo contigo
Mesmo que não estejas comigo
Mesmo que não pense em ti.

Sinto que te perdi.

Thursday, November 19, 2009

Sunday, November 15, 2009

Tenho medo até de sonhar

por saber que me tocas nas inevitabilidades.

(agora, dar-te-ia o tremido no toque e o choro do olhar)

Saturday, November 14, 2009

traço

Eu não acredito mais em ti.
Porque se disse nunca, e nunca o será,
Mentira fora desde o tempo em que expectava.
Ou até esse tempo, bendito sejas,
olvido a morte da esperança,
Que onde quer que tu estejas
aqui manténs pequena herança.
Serás tu, ou serei eu,
ou seremos nós o luar.
Se o Sol não brilhar,
(ainda que apartados)
Será pelo eclipse.

Quer queiras,quer não,
Sabes que o tempo espera
Onde não espera a certeza,
Que a apatia é a revolta da indiferença.
Que seja a revelia a presença da ideia
embora macaca que não se penteia,
Que estarás perto, ainda que pelo fantasma.

Fantasma? Fantasma da carta?
É o velho súbdito do ser que prevalece
Onde o morto se esquece
Mesmo que existe.
Pois que a dor persista,
Já que a emoção não é mais que detalhe da hora.
Embora pareça que demora,
Não é mais que o segundo.

Ficas, estás, no fundo,
No meio desse pirinéu,
Tamanho seja o submundo,
Que se é o teu mundo
Quisera que fosse meu.

Odeio gostar assim.

Odeio gostar (de ti) assim. (mas eu sei que gostas de mim)

Monday, October 26, 2009

amor

Foi por ontem me teres pintado
Que hoje te sei escrever.

Wednesday, October 21, 2009

Bicho

Tenho um bicho por dentro
Que me está a comer.
Caramba! Queria-o fora
Fora daqui,
Que me corrói, de fora e no centro,
Juro que é um tormento
E está-me a endoidecer.

Isto é...
Desde a aurora, que se faz escurecer.

É um bicho feroz, ofensivo,
Sai-se por meio das entranhas,
E vem-se, cheio de manhas,
Dizendo-me coisas estranhas
Que não consigo entender.
Só o consigo é sentir
Que ele não fala,
mas faz-se ouvir.

Odeio-o. Odeio-o na substância
Como se odeia a chuva num vendaval.
Não pertence! Não tem de estar
Mas está, na inevitabilidade da presença.

Eis odiável e odiosa pertença
Pois a dor é minha e dói tanto
Que é doença.

Tuesday, October 13, 2009

Ali

Grito por nós, pois que posso,
Pois que trago em mim cantar,
Grito, canto, rio e troço,
(Só dos outros que não cantam),
Pois eu canto até chorar.

E cantaremos os dois, por aí fora.

As flores, colhê-las-emos pela manhã,
Esquecendo-se-nos então as bocas de gritar.
O silêncio aí será merecido
Terá já o grito vencido
E o olhar também gosta de falar.

E correremos os dois, p'lo campo fora,
Descalços, queira-nos a relva receber,
Nessa corrida que se faz por aí fora
Onde o tempo esqueceu a hora
E demora a escurecer.

Até já, meu amor.