Saturday, June 14, 2008

Falar consoante

Olhou p'ra mim, trabalhador cansado,
Proferiu palavras que não sei repetir.
Repito o que sei, modificado,
Sei que não o digo bem, de facto
Mas sei que me fez sorrir.

- Os dias agora são longos e começam cedo. Às seis, é dia.
- Tem razão.
- Está quase a mudar a estação. Isso dá para perceber... Não se precisa de um calendário.
- Hmm.
- O Solestício de Verão e agora, em Junho.
- É?
- É. Vivi em Angola, sabia destas coisas porque se sabia. Falávamos disso, as pessoas notavam e comentava-se.
- É... Na prática é que se aprende verdadeiramente.
- É como falar noutra língua. Aprendi inglês e francês. Menos francês que inglês, nunca percebi muito bem a língua. Mas achava que sabia! Só que, conversando com um francês, por mais que o percebesse, não conseguia responder!
- Conheço o problema... Uma vez, uma amiga, querendo falar francês, usou termos ingleses à mistura. Foi giro.
- É falar consoante. Ensinou-mo uma amiga minha. Falamos determinadas línguas ou usamos determinadas palavras consoante as necessidades. Olhe, usando palavras em inglês, lá pensou que a francesa entendesse!
- Talvez, toda a gente sabe um pouco que seja de inglês...
- Mas não é só a falar. As pessoas, em geral, vão fazendo as coisas consoante. Consoante precisam, consoante querem.
- Consoante... Bem, desconhecia a expressão.
- É...! Mas olhe que é assim. E olhe, saiba também, que não há espertos e burros. Há gente com sorte, ou com falta dela! Mas as pessoas julgam-nos sempre como burros, ou espertos! Ou inteligentes! De certeza que nunca ouviu dizerem: "Ah, aquele é muita esperto, mas correu-lhe mal!" Não! Dizem logo: é burro!

Certezas de um taxista, às seis da manhã.

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